“Há médicos e enfermeiros que foram requisitados ou foram-se embora”

Manuel Lemos fala das fragilidades que se vive nos lares, a ausência de médicos e enfermeiros e da futura resposta que as Misericórdias vão ter de dar às famílias carenciadas que irão aumentar com a subida do desemprego.

A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade e a União da Misericórdias Portuguesas tornaram pública a sua preocupação com a ‘grave situação’ que se vive nos lares de idosos e de deficientes no contexto da pandemia, pedindo a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa. Nesta entrevista, o presidente da União de Misericórdias Portuguesas confessa que, além dos idosos, o que o preocupa também são os deficientes, os jovens em risco e as mulheres mal tratadas que estão a seu cargo.

A situação que se vive nos lares já foi considerada dramática. Como se chegou a esse ponto?

É, de facto, uma situação bastante dramática. Os lares são estruturas residenciais, não são estruturas de saúde. O que a lei prevê de necessidades em termos de saúde, de estrutura de saúde para um lar, é um enfermeiro por cada 40 utentes. A União das Misericórdias normalmente até tem mais do que isso, temos um médico que nem é necessário e nem a lei exige. E por que temos até mais recursos do que a lei exige? Por que nos últimos anos, o perfil dos nossos utentes tem mudado muito. Temos cada vez mais pessoas mais frágeis, com doenças crónicas, com muitos problemas de demência e isso não permite que haja só um enfermeiro nas unidades. Ao longo destes anos, eu e o Lino Maia, propusemos várias vezes ao Estado uma alteração profunda dos recursos humanos e até dos próprios recursos físicos dos lares. Mas o Estado tem-se sempre oposto a isso. Por uma razão muito simples: por uma questão financeira, isto custa mais dinheiro. Não faz sentido nenhum o Estado dizer que temos de ser nós a tratar os idosos que estão doentes. Se não temos recursos como podemos tratar deles? Não temos médicos.

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