“O Porto cresceu mais rapidamente do que Lisboa durante boa parte de oitocentos”

Como é que os conflitos militares e as mudanças políticas transformaram a sociedade portuguesa desde as invasões francesas? Nuno Gonçalo Monteiro, organizador da recentemente editada História Social Contemporânea (1808-2000), fala-nos sobre o fim do Antigo Regime e de um país composto por realidades muito diversas.

Embora os portugueses tenham a fama de povo de brandos costumes, a história nacional dos últimos dois séculos é rica em acidentes, convulsões e sobressaltos: das invasões francesas e partida da Família Real para o Rio de Janeiro à revolução do 25 de Abril, passando pelo ultimato inglês e o regicídio, a instabilidade em Portugal tem sido quase uma constante. Mas esses acontecimentos promoveram também uma renovação das instituições e mudanças profundas na organização da sociedade. É disso que nos dá conta o livro História Social Contemporânea – Portugal 1808-2000 (ed. Objectiva/ Fundação Mapfre). O historiador Nuno Gonçalo Monteiro, organizador deste volume (com António Costa Pinto, ver pág. ao lado), explica-nos como se vivia no Portugal contemporâneo de antigamente e que mudanças houve ao longo destes dois séculos.

Vasco Pulido Valente escreveu que as sucessivas vagas de invasões francesas «desfizeram o antigo regime». Foi efetivamente assim ou houve vestígios do Antigo Regime que perduraram na sociedade portuguesa ao longo de todo o século XIX?

Não só no plano político, mas também na perspetiva das instituições civis (princípio da igualdade civil, noções de propriedade e de imposto, etc.), o Antigo Regime terminou com a vitória liberal em 1834, ou, se se preferir, com a entrada das tropas de D. Pedro em Lisboa no dia 24 de Julho de 1833. Claro que o ciclo de mudança fora precipitado, como em todos os territórios ibero-americanos, com as invasões francesas, partida da família real para o Brasil, etc., em 1807. É por isso que 1807-1834 constituem uma etapa bem demarcada da história portuguesa. As mudanças nas elites sociais e parte dos grupos intermédios foram muito rápidas e muito radicais. Sobre o resto da sociedade, pelo contrário, parece certo que as evoluções foram bem mais arrastadas no tempo. No entanto, dentro dos limites nos quais o político e institucional marca o social, 1834 constitui um marco incontornável e pouco reconhecido.

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