Moratórias. BCP conta com 80 mil e Santander 70 mil

BPI garante que não se pode colocar nos bancos o peso da resolução de todos os problemas da atual crise e que prevê grande impacto na rentabilidade e provisões. 

Os principais bancos privados em Portugal estão a responder ao apelo do Governo de serem eles agora a ajudar os portugueses, ainda assim, há quem defenda que não se possa colocar nas instituições financeiras o peso da resolução de todos os problemas quando está previsto um grande impacto na rentabilidade e provisões. Um desses exemplos é o BPI ao considerar que o “que está a passar vai ter consequências muito complicadas para a economia e para os seus agentes e no meio desses agentes estão os bancos e penso que não podemos, ou não devemos, colocar em cima dos bancos todo o peso de resolução das situações que vêm pela frente, porque vai ser impossível”, disse o administrador do BPI, João Pedro Oliveira e Costa na audição de Comissão de Orçamento e Finanças.

De acordo com o responsável “vários ouros agentes têm de vir a terreno dar o seu contributo”, caso da União Europeia mas também do próprio Estado, que “terá de ter outra intervenção, outro tipo de iniciativas”, até porque para já as garantias bancárias que dá nos créditos bancários às empresas ainda não pesam sobre défice ou dívida pública (passarão a pesar se os bancos as acionarem de futuro face ao incumprimento das empresas).

Em relação aos empréstimos cedidos às empresas, Pedro Barreto, também o administrador do BPI, garante que é pedido apenas os documentos exigidos por sociedades de garantia, acrescentando ainda que as taxas de juro cobradas ficam abaixo dos limites e que não usa o crédito garantido pelo Estado para substituição de crédito em balanço.

Moratórias de crédito

Também ouvido no Parlamento foi o presidente executivo do BCP ao garantir que tem atualmente 80 mil moratórias de créditos, no valor total de 4,5 mil milhões de euros. Em causa está a suspensão de pagamento de créditos por famílias e empresas, seja no âmbito da lei do Governo que impõe moratórias, em crédito à habitação e crédito às empresas, seja no âmbito das moratórias privadas disponibilizadas pelos bancos, para crédito à habitação e crédito ao consumo. “Em termos de moratórias, o BCP tem 25 mil moratórias, números redondos, no montante de cerca de 2,2 mil milhões. A particulares, entre a moratória do Estado e a moratória da Associação Portuguesa de Bancos, tem 55 mil moratórias no montante de 2,3 mil milhões”, afirmou.

Sobre eventuais atrasos, o CEO explicou aos deputados que conceder uma moratória é um processo relativamente simples para os bancos, no entanto, admitiu que perante milhares de pedidos para processar, a carga acaba por ser muito pesada. “O banco está a trabalhar 24 sobre 24 horas para processar as todas as moratórias”, frisou. “Tenho pessoas que trabalham ao fim de semana para por isto em dia”, afirmou.

Já o Santander Portugal que também foi ouvido pelos deputados revelou que  já concedeu moratórias a cerca de 70 mil clientes, correspondentes a 7,5 mil milhões de euros. “São clientes que até setembro não vão pagar nem capital e muitos deles não vão pagar juros. Estamos a falar de mais de 20% da nossa carteira a particulares e quase 40% da carteira a empresas se excluirmos estado e grandes empresas”, revelou Pedro Castro e Almeida.

De acordo com as contas do CEO, só no Santander, o efeito da moratória tem um impacto de mil milhões em prestações de capital e juros que “não são pagos pelas famílias e empresas” durante seis meses.