Massacres e abusos contra jornalistas em Cabo Delgado

A informação chega a conta-gotas nesta província remota. Os militares moçambicanos são acusados de sequestrar ou matar um jornalista.

As autoridades moçambicanas têm mantido um silêncio ensurdecedor face à insurreição jihadista em Cabo Delgado, no norte do país. Na terça-feira a polícia fez uma exceção à regra, anunciando o massacre de 52 jovens na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe. Terão recusado ser recrutado pelos insurgentes, que se vingaram abatendo-os a tiro a 8 de abril. Entretanto, na sexta-feira, seis corpos decapitados foram encontrados na aldeia de Nangalolo, distrito de Meluco, avançou Carta de Moçambique.

A informação chega a conta-gotas numa área tão remota como Cabo Delgado, onde a imprensa é vistas como um alvo a abater até pelas próprias forças de segurança. Vários jornalistas queixam-se de abusos e continua desaparecido Ibraimo Abú Mbaruco, da Rádio Comunitária local. A sua última mensagem, na noite de 7 de abril, foi a avisar os colegas que estava “cercado por militares”, alertou no Twitter a ONG MISA-Moçambique. A suspeita é que Mbaruco terá sido morto ou detido num quartel de Mueda, uma antiga base colonial, alegadamente transformada em centro de tortura de supostos apoiantes da insurgência.

Mesmo assim, a informação que chega já permite fazer um retrato do falhanço do Estado em conter os jihadistas. As medidas de mão dura dos militares, por desespero, brutalidade ou falta de treino, parecem fazer pouco mais que enfurecer os habitantes de Cabo Delgado. Boa parte deles já não via com bons olhos a chegada dos soldados, maioritariamente vindos do distante sul: o ressentimento pela desigualdade social e económica entre etnias é considerado uma peça importante no recrutamento dos jihadistas 

Nem os mercenários sul-africanos, nem os russos da Wagner, contratados para proteger as enormes explorações petrolíferas em Cabo Delgado, estão a ter sucesso, mesmo utilizando o equipamento sofisticado e os meios aéreos que faltam às tropas moçambicanas.

O anuncio da escala do massacre em Xitaxi – falava-se em apenas 14 mortos – coincide com a revelação em vídeo, pelos próprios jihadistas, de que um helicóptero tripulado por mercenários terá sido abatido.

”Há especulação de que as autoridades de Moçambique estão a salientar o incidente de 7 de abril para desviar a atenção”, escreveu um correspondente africano da BBC. Já a Carta de Moçambique refere baixas da Wagner em pelo menos dois confrontos, em Muidumbe e Macomia.