BdP. Operações com cartão caíram 19,4% em março

Segundo o banco central foram efetuadas em março operações no valor de 9,2 mil milhões de euros (-10,2% face ao mesmo mês de 2019). Setor da restauração “perdeu” 229 milhões em apenas um mês.

A pandemia de covid-19 levou a uma “redução sem precedentes” na utilização de cartões de pagamento em março, com quebras homólogas de 19,4% em número e de 10,2% em valor nas operações, divulgou esta sexta-feira o Banco de Portugal (BdP).

Segundo o BdP, em março foram efetuadas 167,4 milhões de operações com cartão, no valor de 9,2 mil milhões de euros, o que corresponde a decréscimos de 19,4% e de 10,2%, respetivamente, face ao mesmo mês de 2019, “explicados pela redução dos levantamentos, das compras e das operações de baixo valor”.

“A pandemia de covid-19 está a ter um impacto significativo na atividade dos agentes económicos nacionais, sejam eles consumidores, empresas, bancos ou organismos da Administração Pública”, refere o banco central, acrescentando que “este impacto reflete-se, de forma muita imediata, na utilização dos instrumentos de pagamento”.

De acordo com o BdP, “a entrada em vigor do estado de emergência e a adoção de medidas de confinamento generalizado conduziram, em março de 2020, a uma redução sem precedentes na utilização de cartões de pagamento”.

Em relação a março de 2019, os levantamentos de numerário diminuíram 31,5% em número e 20,4% em valor, tendo sido realizadas apenas 25,9 milhões de operações, no valor de 1,9 mil milhões de euros. Já as compras sofreram um “impacto menos pronunciando”, recuando 19,7% em número e 16,2% em valor, para um total de 86,9 milhões de operações em março de 2020, no valor de 3,3 milhões de euros.

Devido à limitação do movimento de pessoas, refere o banco central, os pagamentos em portagens e parques de estacionamento reduziram-se 21,9% em número e 24,5% em valor relativamente a igual período do ano anterior.

Considerando o período específico entre 19 de março (data em que começou a vigorar em Portugal o estado de emergência) e 20 de abril, o BdP estima que o montante dos levantamentos e compras tenha descido 46%: em média, os portugueses terão levantado menos 34 milhões de euros por dia e efetuado menos 56 milhões de euros de compras.

A redução das transações com cartão verificada ao longo deste período equivale a 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019, precisa.

Traduzindo os “efeitos expressivos” da pandemia no turismo, em março registou-se também uma “quebra significativa” do valor das compras e dos levantamentos efetuados por estrangeiros em Portugal.

Segundo o BdP, estima-se que tenham sido gastos menos 182 milhões de euros em compras e efetuados menos 34 milhões de euros de levantamentos de numerário.

Restauração "perdeu" 229  milhões em março. Também “fortemente afetada” pela crise sanitária foi a atividade da generalidade das empresas: Analisando os setores nos quais as compras com cartão são mais relevantes, conclui-se que o comércio a retalho foi o único que registou uma variação homóloga positiva em março de 2020 (0,1%), tendo as compras com cartão efetuadas nos restantes setores diminuído entre 7% (no comércio por grosso) e 56% (no alojamento).

O setor mais afetado em termos absolutos foi o da restauração, com uma redução de 229 milhões de euros face ao transacionado no período homólogo.

Apesar desta redução generalizada na utilização dos cartões de pagamento, o BdP nota que as compras com cartão efetuadas com recurso à tecnologia contactless (sem contacto) e as compras online apresentaram “crescimentos assinaláveis” em março de 2020.

As compras com tecnologia contactless aumentaram 60% em número e 115% em valor face ao mês homólogo, o que resultou numa subida de 4,5 euros no valor médio destas operações, que passou para 17,8 euros. A maior parte destas compras foram efetuadas no setor do comércio a retalho (76,5% em número e 82,9% em valor).

Quanto às compras online com cartões nacionais, mantiveram a tendência de crescimento em número (11%), mas “a um ritmo menor” do que nos primeiros meses de 2020.

Em valor, pelo contrário, recuaram aproximadamente 11% em termos homólogos, sobretudo devido ao decréscimo das compras realizadas a comerciantes fora de Portugal, refere o BdP.