Têxtil. Mais de 60% das empresas perderam mais de metade das encomendas em abril

O inquérito da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal indica ainda que 68% das empresas do setor encontra-se em layoff parcial ou total.

Mais de 60% das empresas têxteis reportaram uma quebra superior a 50% das encomendas em abril e 43% prevê que a situação se mantenha em junho, encontrando-se dois terços em layoff, revela esta sexta-feira o inquérito da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP).

Efetuado entre 14 e 20 de abril, o inquérito avaliou junto das empresas o impacto, as medidas e as perspetivas de retoma face à pandemia de covid-19, destacando a quebra nas encomendas como “o principal problema” sentido pelo setor.

“Mais de 60% das empresas inquiridas identificaram um impacto muito forte (superior a 50%) no que respeita à redução da procura/encomendas em abril”, aponta a associação, avançando que “as estimativas para junho também são más: 43% das empresas esperam uma redução na procura superior a 50% e 37% espera uma redução entre 25% e 50%”.

A dificuldade no abastecimento de matérias-primas é outro dos constrangimentos reportados no inquérito, com mais de metade das empresas inquiridas a identificarem “um impacto forte ou muito forte” a este nível em abril.

As origens mais afetadas são Itália, Espanha, Índia, China e as principais razões apontadas são o facto de os fornecedores e/ou mercados estarem encerrados, as dificuldades aduaneiras e de crédito e o aumento do custo das matérias-primas.

Adicionalmente, refere a ATP, os constrangimentos a nível dos transportes e da logística “também têm estado a dificultar” a atividade do setor, com os empresários a referirem atrasos nas entregas e a existência de “menos opções disponíveis” e a afirmarem que “os preços dispararam”.

De acordo com a associação, a produção de EPI's (equipamentos de proteção individual) é apontada como alternativa para colmatar a quebra da atividade apenas por um quarto das empresas inquiridas.

Entre as medidas de apoio disponibilizadas pelo Governo, as mais utilizadas até agora no setor têxtil e de vestuário foram o layoff (68% dos inquiridos diz estar em layoff total ou parcial) e as moratórias (35%), sendo que em junho 66% das empresas indicam que continuarão a recorrer ao layoff e 40% afirmam estar a considerar recorrer às linhas de crédito (acima dos atuais 23%).

“Uma situação que também prejudica as empresas do setor são os trabalhadores que estão a prestar assistência à família devido ao encerramento das escolas”, destaca a ATP, apontando que “mais de 50% das empresas afirmaram ter até 20% dos trabalhadores nestas circunstâncias”.

Do inquérito resultaram ainda, segundo a associação, “muitas críticas das empresas relativamente às medidas já em vigor”, nomeadamente a burocracia, dificuldades de interpretação, falta de clareza e de flexibilidade nos instrumentos, regulamentação tardia das medidas, diferenças entre a comunicação governamental e a execução pelos organismos responsáveis, morosidade e custos para as empresas.

Os empresários consideram também que as medidas lançadas pelo executivo são “pouco ambiciosas” e privilegiam o endividamento futuro das companhias, o que “comprometerá a [sua] capacidade de crescimento/investimento nos próximos anos”.

Questionados sobre como perspetivam a retoma económica após ultrapassada a crise sanitária, a maioria dos inquiridos prevê que será “incerta e pouco vigorosa”, considerando que “paira uma grande incerteza, quer em Portugal, quer na Europa, relativamente à retoma económica” e que “não existem medidas adequadas para a favorecer”.

“Cerca de 35% das empresas apenas antevê uma ligeira retoma (até 20%) da atividade no mês de maio”, sendo que “o mês de junho traz uma ligeira melhoria, com cerca de 45% dos inquiridos a perspetivar uma retoma da atividade entre 20% a 60%”, e “apenas 11% acredita numa retoma a mais de 80%” no final do primeiro semestre, conclui a ATP.