Bolsonaro responde a Moro: “Não tenho de pedir autorização para trocar um diretor da Polícia”

Refutando as graves acusações do antigo ministro da Lava Jato, Bolsonaro disse que a Polícia Federal estava mais preocupada em resolver o assassinato de Marielle do que o ataque de ele que foi vítima. E deixa um recado a Moro: “Desculpe, senhor ministro, o senhor não me vai chamar mentiroso”

Bolsonaro responde a Moro: “Não tenho de pedir autorização para trocar um diretor da Polícia”

O Presidente brasileiro respondeu esta sexta-feira às graves acusações de Sérgio Moro, ministro da Justiça, que pediu hoje a sua demissão, revelando intervenções políticas de Bolsonaro na Justiça e uma atuação fraudulenta.

“[Moro] disse que tem uma biografia a defender, eu tenho um Brasil para zelar”, disse, assegurando que “nunca pediu para blindar [investigações a] ninguém da sua família”.

E classificou as acusações contra si e contra a sua família como «torpes»: «Eu não tenho de pedir autorização a ninguém para trocar um diretor da Polícia Federal ou qualquer outro».

Bolsonaro justificou ainda a sua intenção de mudar o diretor da Polícia Federal, com o facto de, segundo ele, por exemplo, esta polícia «estar mais preocupada com a morte de Marielle do que com [o ataque que feito ao Presidente da República]»

Sobre a personalidade de Sérgio Moro, Bolsonaro também deixou críticas. «Uma coisa é ter uma imagem de uma pessoa, outra é ter de lidar com ela», atirou Bolsonaro, dizendo que Moro tem apenas um «compromisso consigo, com o seu ego, e não com o Brasil».

Sobre o futuro, o Presidente do Brasil deixou claro que a intenção de Moro é ser candidato às eleições presidenciais de 2022, confessando que já sabia que o antigo juiz não o queria na cadeira presidencial.

Dizendo-se “dececionado”, adiantou ainda que torceu “muito para dar certo”. E acrescentou que Moro decidiu fazer “acusações infundadas, […] que para muitos vai deslustrar a sua tão defendida biografia”.

“Meu compromisso é com o Brasil e com a democracia”, disse Bolsonaro, atirando: “Desculpe, senhor ministro, o senhor não me vai chamar mentiroso”.

O que disse Moro esta tarde

O ministro da Justiça do Brasil anunciou hoje a sua saída do Governo, acusando Jair Bolsonaro de querer interferir nas investigações da Polícia Federal e de estar “muito preocupado com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal”. Numa declaração que fez hoje ao país, o antigo juiz da Lava Jato afirma mesmo que nas últimas horas o diretor da Polícia Federal foi exonerado pelo Presidente brasileiro contra a sua vontade, afirmando ainda que a sua assinatura foi colocada no despacho sem o seu conhecimento, o que pode configurar crime.

“Não assinei esse decreto, soube pelo Diário Oficial da União”, atacou Sérgio Moro, explicando que já há muito que Bolsonaro mostrava intenção de tirar Maurício Valeixo da direção da Polícia Federal: “O Presidente sempre insistiu em trocar o diretor. Mas eu sempre quis uma causa […], uma falha de desempenho. O que eu vi sempre foi um trabalho bem feito, um trabalho que estava sendo positivo”.

“A questão não é tanto quem colocar, mas porquê trocar e permitir uma interferência política”, frisou o antigo juiz, revelando que Bolsonaro não pretende ficar pela demissão do diretor da Polícia Federal: “Disse que havia intenção de trocar superintendentes, com o do Rio de Janeiro, sem que também fosse apresentada uma razão”.

A expressão interferência política na Justiça foi por diversas vezes utilizada pelo até aqui ministro, deixando escancarada a porta para uma destituição do atual Presidente, no cargo há 480 dias. Juízes do Supremo Tribunal Federal já admitiram que o relato de Sérgio Moro consubstancia crimes de Bolsonaro.

Outra das duras acusações a Bolsonaro, surgiu quando Moro garantiu que o Presidente lhe transmitiu que queria ter à frente da Polícia Federal – que tem a seu cargo diversas investigações que visam a sua família, nomeadamente os seus filhos – alguém da sua confiança, a quem pudesse pedir informações e “colher relatórios”.

“Veja se a ex-presidente Dilma ligasse para o superintendente no Paraná  [para pedir informações quando estava no poder]. A autonomia é fundamental num estado de direito”, sublinhou o ministro, referindo que tais interferências nunca aconteceram “durante a Lava Jato, a despeito de todos os problemas dos governos anteriores”.

E justificou a sua saída com o compromisso que fez pelo respeito das regras do estado de Direito: “Tinhamos um compromisso e estou sendo fiel a esse compromisso”.

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