Telescola em plena pandemia

Os professores recebem um monte de emails de pais desesperados, têm de preparar as aulas e de cuidar dos seus próprios filhos e dar apoio ao seu estudo.

Não me lembro de me saber tão bem a chegada das férias escolares como aconteceu esta Páscoa. Embora as crianças já estivessem em casa e ali fossem continuar, desapareceram as obrigações escolares! O final do período anterior foi muito exigente: os trabalhos caíam como chuva, as entregas sucediam-se vertiginosamente e as plataformas não funcionavam corretamente. As férias foram ótimas, mas, como sempre, acabaram depressa e cá estamos novamente na luta.

Em alguns países optou-se por suspender a escola e reprovar todos os alunos, noutros não haverá retenções. A verdade é que fomos todos apanhados de surpresa e de repente ficámos com a questão da escola nas mãos: continuam, não continuam, como, em que condições? Em Portugal fez-se um levantamento dos meios que cada família tem disponíveis – computador, internet, televisão, etc. – para que os alunos possam ter um acompanhamento de acordo com as suas possibilidades.

Embora não considere que a escola tenha de ser uma corrida ou que faça alguma diferença acabar um ano mais tarde, não me parece que fosse justo para a maioria dos alunos terem de repetir o ano. Esforçaram-se durante quase dois períodos completos e por razões que lhes são alheias, seriam penalizados. Tal como não é justo que este 3.º período tenha um grande grau de exigência. Nem para eles, nem para os pais, nem para os professores.

Cada família deve conciliar o estudo como conseguir. Há casas com pais em teletrabalho, filhos entregues a familiares para que os pais possam trabalhar, pais com pouca formação académica, alguns analfabetos, uns sem internet, outros sem dispositivos multimédia, sem televisão, uns com poucos filhos, outros com vários…  Não há igualdade como na escola, o que terá consequências diretas no desempenho. Não nos podemos esquecer também que muitos pais já estão exaustos e a obrigação da telescola pode ser o golpe final.

É que, por menos exigente que os trabalhos da escola possam parecer, refletem-se de forma intensa em quase todos. É uma invasão e confusão de senhas para videoconferências, dezenas de conteúdos partilhados em plataformas, trabalhos para entregar e para quem tem mais de um filho então, é uma gestão quase impossível. Cá em casa são cinco. Um no primeiro ciclo, outro no segundo, dois na pré, mais um bebé. É preciso ter dispositivos disponíveis para os mais velhos, mantê-los concentrados num contexto adverso enquanto os mais novos só querem brincar e fazer barulho, dar apoio com todos à perna, mais tudo o resto que há para fazer.

Há pais que se preocupam mais do que os filhos e de véspera já estão ansiosos a pensar se o filho conseguirá ou não entrar na reunião de turma, crianças que choram angustiadas porque não se sentem à altura do desafio, professores que recebem um monte de emails de pais desesperados que não percebem nada disto ou daquilo, que têm de preparar as suas aulas e ainda cuidar dos seus próprios filhos e dar apoio ao seu estudo.

Não acho mal que se mantenha o vínculo com a escola, mas todas as famílias terão de relativizar a exigência de acordo com as suas possibilidades. Será ótimo que os alunos se mantenham ativos no estudo e se tornem mais autónomos no mesmo, bem como que todos possamos desenvolver capacidades a trabalhar com as novas tecnologias. Mas mais do que isso não pode ser pedido. Este período deveria ter como prioridade a revisão e consolidação de matérias dadas, que para a maioria dos alunos está periclitante. E no final de tudo isto, de uma coisa tenho a certeza, todos ganharemos o céu.