Recuperar a economia

Vi, no Telejornal da RTP, o infecciologista referir que, por norma, as mortes com Covid-19 ocorrem até 30 dias depois da infecção. Como a primeira morte oficial de Covid-19, em Portugal, ocorreu no dia 16 de Março, quer dizer que foi infectado depois de 16 de Fevereiro. Ou seja, o vírus já por cá andava…

por Luís Jacques
Engenheiro civil 

No carnaval, muitos portugueses estiveram em Itália, Espanha, França, Áustria e Suíça em estâncias de ski. Alguns terão sido infectados e foram importadores do vírus. Os turistas, muitos vindos da China e da Ásia, estiveram em grande número em Janeiro/Fevereiro e alguns poderão ter infectado pessoas em Portugal.

Nos últimos 15 dias de março morreram mais 495 pessoas do que a média dos últimos anos. A covid-19 só representa 144 mortes.

Entre março e abril de 2020 houve mais 1250 mortes do que a média dos últimos anos. Só 1/3 destas está registada ao Covid-19. Quer dizer que há mais mortes de Covid-19 ou de outras doenças, agravadas pela infecção do coronavírus, ou ainda de outras doenças que não foram tratadas por causa do medo do coronavírus.

É óbvio que o fim do estado de emergência não significa o regresso à normalidade plena. Esta só voltará a existir quando houver vacina ou medicamento. Até lá, vamos ter de praticar, durante muito tempo, normas de distanciamento social e normas de proteção social. Mas uma coisa é certa, não podemos ter a economia parada à espera da vacina ou do medicamento.

Também é certo que com o levantamento do confinamento haverá novas infecções e mais algumas mortes. É fundamental ter capacidade de resposta para acudir às novas infecções, seja no SNS ou nos hospitais privados. Não podemos andar no pára-arranca, em relação à crise sanitária e à crise económica. Quantas menos pessoas ficarem imunes agora, mais infectados e mortos teremos na segunda vaga do coronavírus, no outono/inverno de 2020/2021, caso não tenhamos vacina ou medicamento.

O levantamento do confinamento deve ser feito de forma cautelosa, com as pessoas a usarem máscaras e luvas, bem como, haver disponibilidade de testes e gel desinfectante, pois o vírus continua cá e ainda não desapareceu. O fundamental é proteger os grupos de riscos, nomeadamente os idosos que se encontram nos lares.

Assim, o país poderá começar a recuperar a economia, a partir de 4 de Maio, com o regresso à normalidade possível.

O turismo externo, em larga escala, usando o sector da aviação, com ênfase nas "low cost", só voltará a existir com vacina ou medicamento. No entanto, o sector da hotelaria, da restauração e dos serviços associados ao turismo e ao lazer devem privilegiar o mercado interno, os emigrantes que regressarão a Portugal, nas férias de verão, de carro e os turistas europeus que nos visitarem de carro. Quantos de nós não fizeram turismo pela europa fora, com o carro, antes das viagens de avião se tornarem baratas?

No comércio, abrir as pequenas lojas e não permitir grande concentração de pessoas. A CCP já identificou os sectorese e parece-me bem. Na indústria, abrir todas as empresas que permitam laborar com as medidas de afastamento e com equipamento de protecção individual adequado. As associações empresariais já manifestaram ao governo a sua opinião que deve ser seguida, pois conhecem, melhor do que ninguém, os negócios dos seus sectores.

Na Suécia as escolas para estudantes até aos 16 anos de idade não chegaram a fechar. Nos outros países nórdicos já abriram em Abril. Em Portugal, deviam abrir primeiro as creches, os jardins de infância, o 1º e 2º ciclo do ensino básico, pois os pais com crianças abaixo de 12 anos, que estejam em casa a tomar conta dos filhos e não estejam em teletrabalho, estão com perda de rendimento.

Podia abrir-se mais tarde o 3º ciclo do ensino básico, o secundário e o ensino superior, desde que os professores e os funcionários que possam estar no grupo de risco ficassem em casa.

As autoridades e a comunicação social têm um papel fundamental em criar novamente confiança nos portugueses para voltarem ao trabalho nas suas empresas, levarem os seus filhos às escolas, frequentarem o pequeno comércio e terem as férias de verão em Portugal.

Não me parece de todo necessário declarar o estado de calamidade pública. Basta a Direcção Geral da Saúde emitir as directivas que têm de ser cumpridas, por estarmos numa crise de saúde pública, por causa da pandemia do Covid-19.