‘No final, andrà tutto bene’

Nem tudo é mau! Todos os dias há vitórias para celebrar, mesmo se os média insistem em contar apenas o número de mortes. A Itália, um dos países mais visitados do mundo, tira férias do turismo massificado. Os canais de Veneza acolhem golfinhos, a Piazza di Spagna está mergulhada num silêncio quase constrangedor, o balcão…

por Joana Moreira da Cruz
 

Soube desde cedo que a minha vida não seria em Portugal. O nosso país era demasiado pequeno. Hoje, não penso assim. Nunca gostei de estudar e ir para a universidade não fazia parte dos meus planos. Aos 18 anos fui viver para os Estados Unidos e a inesquecível aventura por terras do Tio Sam ajudou-me a construir a pessoa que sou hoje. Depois vivi em Londres, cidade que adoro. Quase tanto como Lisboa! Ou Paris, ou Roma, ou Nova Iorque… Sou uma citadina assumida, mas necessito do som do mar e da tranquilidade do campo para encontrar a minha paz.

Vivo em Itália há 22 anos. Depois de muito tempo na Toscana, a minha região preferida do país transalpino, mudei-me para Verona há quatro anos. Por amor, ou não estivesse eu na cidade de Romeu e Julieta! Mas a minha história não teve um final trágico. A parte mais dolorosa de estar longe do meu país são as saudades da família. Gostaria muito de ver os meus sobrinhos crescer! Felizmente, vivemos no séc. XXI e as tecnologias permitem-nos estar mais próximos.

Comecei a quarentena antes do resto da família. A Itália foi um dos primeiros países da Europa a serem afetados e o que registou, até ao momento, o maior número de casos. Como se não bastasse, o coração económico foi atingido severamente: Piemonte, Lombardia, Emília-Romanha, Véneto são as regiões mais castigadas e também as mais ricas do país. Não quero nem pensar quando a pandemia atacar com força o sul! Vivi com a covid-19 de perto e tento relativizar os efeitos nefastos do vírus mas, às vezes, é difícil manter a calma. Nessas alturas, mais do que nunca, faço vídeos para a família e envio-lhes mensagens positivas. Quando ouço as gargalhadas dos meus sobrinhos, volto a sorrir.

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, enviou um apelo desesperado à União Europeia, mas ninguém o ouviu. Nem mesmo a Alemanha, cujos habitantes nos visitam durante todo o ano, sendo mesmo proprietários de residências secundárias. A ajuda veio de longe: Rússia, Cuba, China.

Parece-me que os portugueses levaram mais a sério as restrições. Aqui houve tantos abusos que, agora, a quarentena é mais rígida. Não podemos afastar-nos mais de 200 metros da nossa casa e a multa por não cumprir pode ir de 300 a 4 mil euros.

Nem tudo é mau! Todos os dias há vitórias para celebrar, mesmo se os média insistem em contar apenas o número de mortes. A Itália, um dos países mais visitados do mundo, tira férias do turismo massificado. Os canais de Veneza acolhem golfinhos, a Piazza di Spagna está mergulhada num silêncio quase constrangedor, o balcão da casa de Julieta está vazio, as Cinque Terre são abraçadas pelas ondas do mar, o Vesúvio pode dormir em paz.

Talvez esta pandemia seja um aviso. Nada poderá ser como antes mas, no final, andrà tutto bene.