‘Férias da Páscoa em quarentena’

Aqui em casa, tenho a minha mulher a cozinhar cada vez mais, à qual eu agradeço. Temos passado de uma casa em que toda a família tinha aversão ao fogão, a andarmos a fazer novos pratos através de vídeo receitas. Não me posso queixar, o frigorífico tem desde lasanha caseira, a perna de porco assada,…

por Diogo Moreira da Cruz
 

O primeiro-ministro britânico, Boris Jonhson, saiu do hospital – essa é das poucas boas notícias da semana da Páscoa. O país continua em ‘lockdown’ porque é necessário continuar a contenção do coronavírus. Os números continuam a entristecer devido ao aumento exponencial de casos e mortes devido à covid-19.

Infelizmente, o Reino Unido continua a demonstrar uma falta de preparação para combater o coronavírus. Neste momento, não há testes suficientes para os trabalhadores do National Health Service (NHS), que correspondente ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), em Portugal, a isto acresce a falta de equipamento e de proteção pessoal. Mas à inglesa, há ‘politeness’ e ‘bom coração’ em abundância. Tudo serve para agradecer aos profissionais de saúde, desde músicas dedicadas aos mesmos, até colocar as crianças do país todas a desenhar arco-íris e enviar aos hospitais. Nesta última iniciativa, o disparate de envio de desenhos foi tal, que os hospitais foram obrigados a pedir para pararem de enviar os desenhos, que apesar de lindos, estão agora a rebentar com os serviços administrativos dos hospitais.

O expoente máximo nesta semana da bondade dos ingleses, foi expresso na forma de doação de mais de 12 milhões de libras ao NHS, através do pedido do veterano de guerra, captain Tom Moore, que faz 100 anos este mês e comprometeu-se a fazer caminhadas no seu jardim.

Tudo isto é fantástico, mas preferia mesmo ver o NHS bem fornecido e os testes em massa a acontecer.

Aqui em casa, tenho a minha mulher a cozinhar cada vez mais, à qual eu agradeço. Temos passado de uma casa em que toda a família tinha aversão ao fogão, a andarmos a fazer novos pratos através de vídeo receitas. Não me posso queixar, o frigorífico tem desde lasanha caseira, a perna de porco assada, isto sem contar com as três sobremesas. Tudo feito em casa.

A diversão nesta semana de férias da Páscoa fez-se na sala, onde jogo agora cada vez mais consola com amigos que vivem em Lisboa. Fazemos grupos online e jogamos, e a família à volta assiste e dá palpites, do tipo: ‘Vai, estás quase, ganha isso’. Entretenimento puro, que vou certamente sentir falta aquando de voltar à vida de escritório.

O meu trabalho está muito bem. No que me diz respeito, os meus resultados estão 40% acima do esperado, mas como estamos em pandemia e com a economia parada, isso é o mesmo que dizer, está tudo uma porcaria e em risco de ruir. A empresa fatura muito menos e o meu projeto deverá terminar no final da próxima semana. Eu e os meus colegas todos produzimos substancialmente menos, um misto de estarmos em casa e não ser necessário produzir o mesmo nível, quando tudo está a ‘meio gás’.

Neste momento, o futuro ainda é incerto e desconhecemos até quando ficaremos em casa.

Por enquanto, vivemos o dia-a-dia.

Não temos outra hipótese.