Há poucos psicólogos para responder à crise

Ordem dos Psicólogos defende que é necessário aumentar o número de psicólogos no SNS e que modelo de resposta não cobre as necessidades atuais. 

O impacto psicológico da crise provocada pela pandemia começa a sentir-se durante o confinamento e, à medida que a vida vai regressando ao normal, esse impacto tende a demonstrar-se cada vez mais. Para cada 100 mil habitantes existem apenas 2,5 psicólogos em Portugal. E nos cuidados de saúde primários do Serviço Nacional de Saúde (SNS) há cerca de 250 psicólogos, o que, para a Ordem dos Psicólogos, é claramente insuficiente, «sendo necessário pelo menos duplicar o número de profissionais disponíveis, salvo diferenças regionais cujas especificidades podem levar a necessidades acrescidas». Só «reforçando o número de psicólogos existentes no SNS e aumentando a possibilidade de acesso dos cidadãos aos serviços por eles prestados» se garante um cuidado eficaz no âmbito da saúde mental dos portugueses. 

Além do número insuficiente de psicólogos no país, «a resposta até agora implementada também não tem em conta as consequências e os impactos psicológicos duradouros, com reflexo na produtividade e nos custos de saúde que resultam de crises económicas/financeiras», acrescenta a ordem num documento de reflexão a propósito da estratégia de resposta existente. Este modelo de resposta foi criado em 2017, a propósito dos incêndios de junho e setembro, tratando-se de «um modelo para resposta em catástrofe, e não a uma situação com estas características». Apesar de ter sido adaptada às atuais circunstâncias, a reação «não responde às necessidades acrescidas na área da saúde mental».

Neste momento é imperativo garantir o acesso «atempado aos cuidados psicológicos a todos os cidadãos», independentemente da localização geográfica e das condições económicas e sociais, para que situações de «psicopatologia moderada e ligeira, e não apenas as situações de psicopatologia grave, não evoluam para situações graves e crónicas». As consequências de não se garantir um tratamento em tempo útil implica que sejam depois gastos mais recursos do Serviço Nacional de Saúde. E, alertam os psicólogos, aos profissionais de saúde, professores e forças de segurança deve ser dada especial atenção, sobretudo a situações de stresse e ao burnout. 

Além disso, a Ordem dos Psicólogos deixa uma crítica ao Ministério da Saúde relativamente «ao serviço de acompanhamento psicológico no âmbito da Linha SNS24, concebido e desenhado pela OPP em parceria com os SPMS (Serviços Partilhados do Ministério da Saúde), a pedido da Sra. Ministra da Saúde», já que não tem existido um «esforço visível de divulgação por parte das autoridades de saúde».