O que estamos a aprender com esta pandemia?

Muitas famílias estão hoje mais envolvidas nos processos educativos, acompanhando as aprendizagens dos seus filhos,  comunicando com os seus professores pelo telemóvel.

Para travarmos o avanço do surto de covid-19, em Portugal, e mantermos a segurança das comunidades educativas, a partir da segunda quinzena de março, todos tivemos subitamente de nos adaptar. As escolas nunca pararam de funcionar, mas reinventaram-se em poucos dias para continuar a cumprir o papel fundamental que têm nas nossas sociedades.
Por um lado, mantivemos em cada território uma escola aberta, de forma a garantir a alimentação diária de vários milhares de alunos em situações mais vulneráveis, assim como o acolhimento de centenas de filhos de profissionais dos serviços essenciais. Por outro lado, suspendemos todas as aulas presenciais para mais de um milhão de alunos, reconstruindo os processos de ensino, aprendizagem e avaliação, com o apoio de diversos meios de comunicação, sobretudo da internet e da televisão, mas quando necessário também dos telefones e dos correios.

O principal desafio que tem norteado a nossa ação é o de promover o desenvolvimento e o bem-estar de todas as crianças e jovens, nestas circunstâncias. Temos a noção de que os meios telemáticos permitem hoje inúmeras ferramentas estimulantes para o ensino e a aprendizagem. Mas sabemos também das desigualdades que subsistem no seu acesso e na sua utilização. Por isso, reforçámos as oportunidades de formação de professores em ensino a distância e estamos a desenvolver um novo programa que garanta o acesso universal a equipamentos e internet.
Ainda assim, sabendo do tempo que implicam estes processos e também das necessidades de termos vários canais e redundâncias para proporcionar aprendizagens a todos os nossos alunos, criámos em poucas semanas uma oferta diversificada de conteúdos pedagógicos, em canal aberto, na RTP Memória, cobrindo os vários ciclos e áreas disciplinares do ensino básico.

Entretanto, temos mantido um diálogo contínuo com os governos dos restantes países europeus, no sentido de conhecer e partilhar as melhores práticas. Na generalidade dos casos, foram suspensas as aulas nos ensinos básico e secundário, tendo-se desenvolvido modelos de ensino a distância. Foram também adiados e reduzidos os exames nacionais. A reabertura das escolas, ainda no presente ano letivo, está agendada apenas em cerca de metade dos países europeus e, mesmo nesses, ocorrerá de forma muito limitada e gradual, começando nuns casos pelos alunos nos anos terminais do ensino secundário, noutros casos pelos ciclos educativos iniciais.

Não negligenciamos os enormes desafios que se têm colocado aos professores, aos alunos e às famílias, no nosso país, mas também nunca subestimámos a sua enorme dedicação e capacidade de adaptação criativa, hoje reconhecidas por todos. Esta capacidade é, ela própria, propiciadora de novas aprendizagens. Sublinho aqui duas que já são hoje evidentes. Muitos professores e alunos têm vindo a desenvolver competências muito mais avançadas para trabalhar, ensinar e aprender, através de meios digitais. Muitas famílias estão hoje mais envolvidas nos processos educativos, acompanhando as aprendizagens dos seus filhos, comunicando com os seus professores pelo telemóvel, aprendendo (ou relembrando) através da televisão.

Nada disto invalida os constrangimentos e limitações das soluções atuais. Por isso, estamos a trabalhar com as autoridades de saúde, no sentido de voltarmos às aulas presenciais logo que as condições sanitárias o permitam e com as escolas mais bem preparadas para prevenir contágios e intervir aos primeiros sintomas. E quando isso for possível, vamos obviamente centrar-nos na recuperação de aprendizagens essenciais que não foram possíveis durante este período. Por agora, devemos concentrar-nos no (muito) que podemos ensinar e aprender a distância.

Tiago Brandão Rodrigues, Ministro da Educação