Os filhos da mãe e os filhos de Lenine

Passou recentemente mais um aniversário do nascimento de Lenine, tendo, na altura, o líder dos comunistas portugueses aproveitado para rasgar aos maiores elogios ao fundador do sovietismo, reiterando o compromisso do seu partido para com o legado político daquele reconhecido criminoso.

Lenine foi, apenas, um dos maiores facínoras que vieram a este mundo, responsável directo por um dos mais bárbaros genocídios a que nos foi permitido assistir.

Hitler, ao pé dele, não passou de um simples aprendiz de feiticeiro!

Mas, apesar de proclamarem a apologia de quem praticou alguns dos maiores crimes contra a humanidade, a estes adoradores do marxismo-leninismo, integrados no único partido do mundo livre que ainda ostenta o nome de comunista, tudo lhes é permitido, inclusive violar grosseiramente o estado de emergência que foi decretado para todo o País e transgredir na proibição de circulação para fora da área do concelho de residência.

Os comunistas puderam, assim, festejar livremente o 1ª de Maio, enquanto que a generalidade dos portugueses se viram coagidos, por força da Lei, a permanecer no interior dos seus domicílios.

Mas não é ao partido comunista, ou ao seu apêndice escudado numa central sindical, que deveremos atribuir culpas por tamanha afronta aos sentimentos dos portugueses.

Os únicos responsáveis, ou, melhor dizendo, irresponsáveis, respondem pelos nomes de Marcelo e Costa.

Ao instituirem um estatuto de excepção para os comunistas, Marcelo e Costa dividiram os portugueses em duas categorias: os filhos da mãe e os filhos de Lenine!

Aos filhos da mãe, está-lhes vedado o direito a visitar os seus Pais e Avós, os quais, por via da idade mais avançada que apresentam, estão mais carentes e necessitados do carinho e ternura dos seus filhos e netos.

Nem tão pouco lhes é permitido praticar os actos da Fé que professam, em particular durante períodos de extrema importância para o calendário religioso, como o são a Páscoa e as aparições de Fátima.

Mas aos filhos de Lenine concederam-lhes a benesse de celebrar, sem constrangimentos, o 25 de Abril, passeando-se nos corredores do parlamento de cravo vermelho ao peito, bem como o 1ª de Maio, oferecendo-se salvo-conduto às largas dezenas de camionetas que atravessaram as fronteiras de diversos concelhos até chegarem ao seu destino.

Tenho em conta esta xenófoba discriminação entre dois grupos, pelos vistos distintos, da população portuguesa, somos levados a crer que nas mentes de Marcelo e Costa se formou uma de duas ideias possíveis: ou os comunistas, quiçá em consequência do sangue demasiado vermelho que lhe corre nas veias, estão imunes ao vírus que nos conduziu, a quase todos, a uma prisão domiciliária, ou então os perigos desse vírus são fantasiosos, havendo uma imunidade geral que nos tem sido escondida.

Sem dúvida de que os portugueses, ao tomarem consciência da quebra das regras impostas pelo estado de emergência, observando, através das televisões, o mar de gente que se formou durante as comemorações do dia do trabalhador, terão ficado com essa percepção, excluindo, liminarmente, a possibilidade da existência de uma terceira hipótese, a de que todos estamos expostos ao referido vírus, podendo, por via dele, virmos a adoecer gravemente ou mesmo a morrer.

Marcelo e Costa, ao isentarem os comunistas das obrigações legais a que todos deveríamos estar sujeitos, perderam toda a legitimidade em determinar novas restrições de direitos e, sobretudo, a de impor sanções a quem não respeitar as normas inerentes à situação de calamidade em que nos encontramos.

Se aos filhos de Lenine não se impõem limitações à liberdade de circulação e de reunião, a que propósito deverão estar todos os outros, os filhos da mãe, submetidos a esses condicionalismos?

O sentimento de revolta que se generalizou dentro da sociedade, fruto da decisão irresponsável e discriminatória de quem nos deveria governar e, consequentemente, com a obrigação de estarem subordinados aos deveres, constitucionais e morais, da isenção e da imparcialidade, poderá descambar numa clara desobediência à regra do confinamento, com os riscos daí resultantes para a saúde pública.

É a Marcelo e a Costa, e somente a eles, que deverão ser imputadas responsabilidades por um eventual comportamento menos cívico por parte de uma franja da população.

O civismo assenta, quase em exclusivo, nos exemplos que se obtêm do topo da pirâmide que representa a estrutura da sociedade em que vivemos. Quando de cima recebemos maus exemplos, não se pode esperar das bases uma conduta virtuosa.