A Educação como Prioridade

O modelo implementado pelo governo para o reatar do ano lectivo é um falhanço, mas nada que não tivéssemos alertado e apontado um caminho alternativo em momento oportuno.

por Francisco Peres Filipe Mota

Não compreendemos a urgência em iniciar um terceiro período letivo sem a devida maturação do impacto que traria para a educação – na qualidade, no mérito, no nas assimetrias, nas desigualdades – e para as famílias portuguesas.  

Num país que sempre viveu a várias velocidades, onde se cavou durante anos o fosso entre litoral e interior, rural e urbano, público e privado – e, já agora, onde a internet simplesmente não chega a todo o território – querer impor um choque tecnológico na educação em 15 dias apenas demonstra que quem governa não vive no país real.

Em vez de se priorizar e pensar a educação, quis-se apressá-la. Como se de uma “corrida" para as férias de Verão se tratasse, preferiu-se responder às exigências sindicais e instrumentalizá-la a favor do sistema.

O papel do Estado neste processo deveria ter sido unicamente o de regulador, dando autonomia às comunidades educativas – em articulação com professores, pais, estudantes e autarquias –  a escolha do melhor modelo para ultrapassar as presentes circunstâncias de acordo com cada realidade.

Em vez disso, o processo é de completo atabalhoamento, como são exemplo as alterações ao formato de avaliação dos exames nacionais, que nada mais fazem do que criar um fosso de injustiça, afastamento do mérito e da transparência no acesso ao ensino superior. Mais uma vez os estudantes veem-se traídos por um Estado que lhes impõe, ao invés de lhes dar oportunidades e liberdades na escolha.

O desafio maior será mesmo o dos estudantes e das suas famílias. Portugal é dos países da Europa em que os alunos mais tempo passam em espaço escolar e onde as famílias dependem socialmente da escola para conciliar vida familiar com a sua vida profissional.

A abertura gradual da economia e o reatar da actividade das empresas colocam os pais a ter que reiniciar a sua actividade profissional, sem ter onde deixar os seus filhos. As famílias não têm condições para continuar com a redução dos seus rendimentos e os avós não podem, por serem um grupo de risco, assumir o apoio de retaguarda nas actuais circunstâncias. É óbvio que as crianças e os jovens são fundamentais para a evolução da imunidade colectiva, o que reforça o princípio de que as escolas deveriam ter o mesmo processo de abertura das creches.

Não se consegue entender, por isso, a decisão do Governo em apressar uma solução destas. Parece ser claro que se errou em não retardar e preparar uma resposta concertada para o fim do estado de emergência, prolongando o fim do ano lectivo para o mês de Julho. Infelizmente caiu-se mais uma vez no vício da agenda ideológica em detrimento de uma posição sensível às necessidades e interesses dos estudantes e suas famílias.