As supermulheres!

A pandemia veio mostrar que a mulher ainda é uma subserviente do homem na sociedade portuguesa

E não é que não nos faltava mais nada, para nos elevar ou tentar subjugar mais um pouco numa sociedade ainda relativamente machista do que este vírus, O coronavirus. Até o vírus tem de ser chamado de ‘O covid-19’, mas ainda bem, porque é igual aos que nos subjugam ou tentam fazê-lo, que também são ‘Os…’. Obviamente que não são todos. Em tempo de desconfinamento, que não pode ser bem ‘desconfinado’, as mulheres têm os mais variados papéis: São mães, professoras de faculdade embora os filhos estejam no 1, 2, ou 3 ano, cozinheiras quiçá chefs porque já não chega apenas fazer um bife de peru com batatas fritas (alguém se vai queixar de que está farto de comer sempre a mesma coisa todos os dias), empregadas domésticas, excelentes e dedicadas profissionais de trabalho, que, no entanto entra numa relativa contrariedade porque lá está – ‘azar’ são mães! e não podem querer fazer tudo ao mesmo tempo e ainda mulheres afáveis e dedicadas, não vá haver uma subida significativa de divórcios, lá para o final deste ano, por culpa da sua falta de empenho na relação, umas autênticas desleixadas dos afetos. Elas sabem que ninguém lhes exige menos que isso. E se não puderem, se estiverem em situações limite em que são extremamente precisas, recorrem a outras mulheres para as substituir, na guerra. Não existe cá aquela história moderna do homem, é que faz tudo. Pelo menos não tenho visto.

Essa história do príncipe encantado, deixo para a Cinderela e para as crianças e mesmo assim, não sei se não devia ser banida. Estas mulheres são também cabeleireiras, esteticistas, não vá o aspeto geral, ficar descuidado e os homens confundirem-nas ou ficarem enojados. E no meio disto tudo, ainda temos outro tipo de mulheres, as que sofrem em silêncio, as raptadas, ou semiraptadas, vítimas dos agressores de violência doméstica, com a justiça a fazer pouco ou muito pouco, com os tribunais a meio gás e com os agressores a viver em clima de fraternidade universitária com as vítimas.

A pandemia veio mostrar que a mulher ainda é uma subserviente do homem na sociedade portuguesa dita moderna e europeia. Mas isso eu já sabia, antes da pandemia existir. Bastava observar, o clima de terror que existia nos casos e condenações por violência doméstica antes da pandemia e na falta de projeção ou na relutância de certos juízes em condenar os agressores, que é quase um favor que faziam às vítimas. Existe uma coisa que eu sei, as mulheres, não são mulherzinhas. Educam os seus filhos, limpam a casa, fazem o tal salmão no forno com espargos e sei lá mais o quê, são mulheres queridas, tão queridas como pandas, e ainda produzem um trabalho de excelência em hospitais como médicas, enfermeiras ou em qualquer outro espetro de profissões.

No entanto, existe uma coisa, em que ninguém repara, estão cansadas, exaustas, precisam elas de afetos, precisam elas do tal risotto de cogumelos e um copo de vinho branco, que alguém tome conta dos filhos duas vezes por semana, de tempo para estarem sozinhas. Que alguém faça simplesmente a cama para poderem dormir sem pensarem em nada. De tempo para elas. Apesar de tudo isso não recuam, jamais recuam: São as supermulheres em tempo de pandemia. E mais nada!