Do confinamento vê-se o mundo

Peço ao PR que não volte a excluir da Vida os maiores de 70 anos, como fez com o tenebroso artigo 4.º do decreto que prorrogou o estado de emergência

Gente bestial (*). Não, Mr. Dijsselbloem, Portugal não é o país onde se gasta tudo em copos e gajas! Os portugueses são tão disciplinados como os melhores, como se viu pelo cumprimento das regras de confinamento, lavagem frequente das mãos, uso de gel, máscaras e demais proteções. Eis um atestado de bom comportamento para lhe esfregar no nariz.

Temos milagre! Cantam-se hossanas, como se cantaram a Salazar por nos ter salvado da guerra, e há de surgir um ‘movimento das mães de Portugal’ para agradecer a quem lhes poupou os filhos… e os pais. Só não se sabe se irão a Belém ou a São Bento. Não é segredo para ninguém que, nesta Terra de Santa Maria, por cada um que faz o trabalho, dez põem-se em bicos de pés para colher os louros. Neste caso… azar! Os que fizeram o trabalho são bem conhecidos: são os que nunca abandonaram os seus postos, nunca se queixaram e velaram para que os serviços essenciais funcionassem e para que o lixo não empestasse as cidades. Mas, a esses, não os veremos na fila das recompensas. 

Honra os teus velhos. É o título de um belíssimo artigo de José Tolentino Mendonça, publicado na revista do Expresso, do passado 25 de Abril. Sem pretender repetir as sábias palavras do Cardeal, aproveito a boleia para pedir ao Presidente da República que não volte a excluir da Vida os maiores de 70 anos, como fez com o tenebroso artigo 4.º do decreto que prorrogou o estado de emergência. A idade – como o estado civil, a altura, o peso ou a cor da pele – não pode ser motivo de segregação.

Trabalho em equipa. Dois meses de pandemia chegaram para acabar com mitos enquistados, como a importância do trabalho em equipa, com reuniões intermináveis e demais liturgias ‘para inglês ver’. O confinamento veio provar o óbvio: trabalho em equipa é compromisso individual, é cada um cumprir a sua parte, com a certeza de que todos os outros farão igual. Em teletrabalho, onde estas condições se cumpriram, as equipas funcionaram, no mais foram as dúvidas e as complicações do costume. Pense-se, agora, no que se pode poupar com a libertação de espaços e a redução dos consumos associados aos postos de trabalho, e concordaremos que a mudança de chip acabou por ser frutuosa. A experiência, que é a mãe do conhecimento prático, fez mais pelo trabalho em equipa do que todas as teorias, todos os livros publicados e todos os case studies analisados.

Saudades dos debates da bola. As discussões eram execráveis. Mas os diretos, das ações de fiscalização do trânsito, do trabalho nos hospitais e das visitas lacrimejantes aos lares, não são mais entusiasmantes. 

Sabão azul e branco. Os leitores repararam que, neste inverno, quase não houve gripes? Pois não! É que o pessoal ganhou o hábito de lavar as mãos com frequência. E fê-lo com sabão… made in Portugal. 

(*) Virgem Suta, Festival da RTP, 2017