OMS alerta para crise global de saúde mental. Crianças estão em risco

Os mais afetados são profissionais de saúde, muitos dos quais já sofrem pesadelos, insónias e ansiedade. As crianças também estão em risco.

Junto com a pandemia do novo coronavírus vem uma profunda crise de saúde mental, avisou ontem a Organização Mundial de Saúde (OMS). O aviso confirmou o que muitos já sentiam: que longos períodos de confinamento em casa e isolamento, podem ter consequências graves. Adicione-se a isto as consequências económicas do vírus, com um número crescente de desempregados, e temos um cocktail explosivo. Não é de espantar que já se registem picos de depressão e ansiedade em todo o mundo.

“A saúde mental e o bem-estar de sociedades inteiras sofreu impactos graves devido a esta crise, e são uma prioridade a abordar urgentemente”, assegurou ontem a diretora para saúde mental da OMS, Devora Kestel. “O isolamento, o medo, a incerteza, o caos económico – tudo isto causa ou pode causar stress psicológico”, reconheceu.

No relatório da organização, salienta-se o risco particular de alguns grupos. Desde crianças obrigadas a manterem-se afastadas de colegas e amigos, até aos profissionais de saúde que assistem diariamente à morte de pacientes por covid-19 – e temem contrair a doença também. Aliás, a estimativa do hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, é que 25% a 40% dos profissionais de saúde nos Estados Unidos possam sofrer de stress pós-traumático como resultado da pandemia. A situação não será muito diferente noutros pontos do globo.

Cenário de guerra ”Numa zona de combate podes ser ameaçado por um snipers ou fogo indireto e rockets”, notou Olli Toukolehto, psiquiatra num hospital militar em Nova Iorque. “As infeções por covid-19 – isso faz os profissionais de saúde aqui sentir um tipo de stress e ansiedade semelhante, porque estão de facto em perigo de um inimigo invisível”, explicou à Reuters.

Não é de espantar que cada vez mais sintam uma combinação de luto, ansiedade, dormência emocional, irritabilidade, insónias ou pesadelos recorrentes, quando conseguem dormir.

É o caso de Melissa, uma enfermeira de 48 anos, em Indianapolis. “É como estar sentada à espera que caia uma bomba”, descreveu à agência norte-americana, mencionando os frequentes ataques de ansiedade de colegas. “Não sabes se vais viver, não sabes se vais morrer”.

Crianças e jovens adultos Para as crianças, adaptarem-se à incerteza e à falta de estrutura e incerteza causada pela pandemia – vão ter aulas à distância ou na escola? Que novas regras de segurança terão de seguir? – pode ser particularmente difícil. No Reino Unido, que já é o quarto país com mais casos registados de covid-19, 67% dos pais inquiridos pela YoungMinds temem os impactos da pandemia na saúde mental dos filhos – um terço receiam que não haja apoio suficiente.

Entretanto, os adultos têm as suas próprias preocupações. Em Itália, 42% dos trabalhadores temporários perderam o emprego – a maioria eram jovens acabados de entrar no mercado de trabalho. Não é de estranhar que entre italianos dos 18 aos 29 anos, 85% registem ansiedade aborrecimento ou depressão, segundo um estudo da Universidade de Pádua, citado pelo La Repubblica. Como em tanta coisa, a desigualdade pesa: 21% dos pais consideram que as suas casas são inadequadas a uma longa quarentena.