Perdoai-lhes, senhor ministro, porque não sabem o que fazem

O que se passou é que, nesse dia em que Centeno carregou às costas a sua cruz no Parlamento, Marcelo puxou-lhe o tapete em perfeita sintonia com António Costa e Rui Rio e Mariana Mortágua apedrejaram-no com críticas e acusações de deslealdade e falta de sentido de Estado.

Talvez por ser 13 de maio e estar ainda sugestionado pelas impressionantes imagens da procissão das velas num Santuário deserto de peregrinos, veio-me à memória a frase bíblica de Cristo na cruz: ‘Perdoai-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem…’.

Para mim, assenta na perfeição ao ministro Mário Centeno, ante o que lhe fizeram nesta quarta-feira.

Quem? Todos, do Presidente da República ao primeiro-ministro, passando pelo líder da oposição e pelos ex-parceiros da ‘geringonça’.

O que se passou é que, nesse dia em que Centeno carregou às costas a sua cruz no Parlamento, Marcelo puxou-lhe o tapete em perfeita sintonia com António Costa e Rui Rio e Mariana Mortágua apedrejaram-no com críticas e acusações de deslealdade e falta de sentido de Estado.

Mário Centeno, hoje político de primeira água e com mundo ganho nos corredores da Europa, não esteve para misericórdias politicamente suicidárias.

Em vez de dar a outra face e sujeitar-se à condenação e execução públicas, deu um valente murro na mesa e enfrentou-os a todos, obrigando à remissão inequívoca e imediata.

De naif e ingénuo, resta-lhe apenas o sorriso.

Pegou e foi direito a São Bento apresentar a demissão (demitiu-se, sim – ‘pôr o lugar à disposição’ é outra coisa).

Centeno não foi a S. Bento – e esteve lá três horas – para negociar nada com o primeiro-ministro nem para ficar a prazo a troco de coisa alguma: foi para deixar claro que não tinha condições para continuar como ministro das Finanças perante as declarações públicas do Presidente da República feitas ao lado do primeiro-ministro e numa cerimónia em que um e outro reiteraram apoios mútuos no presente e para o futuro.

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