Regresso à vida ‘normal’ foi muito contido

Plataforma da Google que analisa mobilidade mostra ligeiras alterações na primeira semana depois do fim do estado de emergência. 

São fotografias da mobilidade, com base nos mesmos dados que permitem perceber as horas populares em determinados locais e a duração das visitas. Com a epidemia e a estratégia do ‘ficar em casa’ a ser seguida por muitos países, a Google criou uma plataforma para ajudar a acompanhar a mobilidade em tempos de covid-19. Se nos primeiros tempos o movimento foi de reclusão, os últimos relatórios ajudam a perceber o desconfinamento e são alguns dos indicadores usados pelos especialistas para perceber a evolução da situação, além dos dados analisados pelas operadoras e dos inquéritos que vão sendo feitos nos vários países. Esta semana o Presidente da República referiu o desconfinamento "muito contido" dos portugueses e os últimos relatórios publicados pela Google revelam isso mesmo: nos primeiros dias de maio a mobilidade continuava muito aquém do período antes da epidemia.

Esta sexta-feira estava disponível uma análise para 9 de maio, sendo que os relatórios para cada país refletem mobilidade nos dois a três dias anteriores,  explica a página, comparando-a com um período base – de 3 de janeiro a 6 de fevereiro,  quando a epidemia já estava a crescer na China mas o mundo ainda não tinha sido abalado pela crise sanitária. Ou pelo menos ainda não sabia que em breve estaria a lidar com os mesmos dilemas de Wuhan. Comparando com o relatório de 2 de maio, reta final do estado de emergência e mesmo com a população já a acusar o desgaste do confinamento, percebe-se que aumentou a mobilidade em locais de comércio, mas a quebra continua a ser de mais de metade face a janeiro. Na análise de  2 de maio, havia uma quebra de 71% face ao período de comparação no início do ano e na análise mais recente, que ainda não inclui a última semana,  baixa para os -54%. Os dados desta última semana podem já ser diferentes, mas se o número de pessoas for maior e isso se refletir em mais possíveis situações de contágio, significa também que o impacto da menor contenção só será percetível nas próximas semanas, uma vez que neste momento os balanços refletem contágios que aconteceram em média há uma semana e meia/duas.

Nos transportes públicos e apeadeiros, a quebra na primeira semana de desconfinamento passou de -67% para -62% face a janeiro. E nos locais de trabalho de -46% para uma quebra de -33%. Para um termo de comparação, na Alemanha, que começou a desconfinar no final de abril, a quebra de mobilidade a 9 de maio era de -41% em locais de comércio, de -28% nos transportes e -8% nos locais de trabalho, sendo que os números também variam consoante os dias de semana capturados na análise da Google, que neste caso apanham fins de semana. Registavam 5% de atividade residencial face ao período base no início do ano. E os sinais dão ânimo, porque a epidemia na Alemanha tem-se mantido contida – distanciamento social, higiene respiratória, limpezas reforçadas e máscaras fazem parte da estratégia de  desconfinar mas  tentando travar o vírus. Na Suécia, que não seguiu a estratégia de confinamento – e que tem registado cerca de 600 novos casos por dia, com um balanço de 3.646 mortes –  a tendência de mobilidade apontava para -16% de frequência do comércio face ao período base em janeiro/fevereiro,  -17% nos transportes e -5% nos locais de trabalho. Destacam-se os parques, com uma tendência de mobilidade 167% superior ao que acontecia no início do ano, possivelmente um reflexo mais do inverno do que a busca pela imunidade de grupo. Nos países do sul habituados ao tempo mais ameno todo o ano, o cenário ainda é bastante diferente do habitual. Este fim de semana os termómetros vão subir para os 30 graus e dentro dias se verá se os portugueses saíram ou não de casa.