Quatro irmãos, quatro países. Inês Moreira da Cruz: ‘Sonhar e brincar é para toda a vida’

Foi então que os meus cunhados começaram a falar um com o outro, cada um na sua língua e cada um sem saber a língua do outro. Ficámos a olhar para eles. O que iria sair dali?!!

O meu filho ajuda-me cada vez mais nas tarefas da casa. Tudo é desculpa para estar ocupado. Há uns dias, na cozinha, enquanto guardávamos a loiça da máquina, perguntou-me:

– Mãe, tu sonhas?

– Às vezes! – respondi.

– Então não vives.

– Como assim? – quis saber.

– É que sonhar e brincar é para toda a vida.

E foi a partir desta breve conversa que recordei algumas vivências em família. Gostei desta em particular.

Passou-se no verão do ano passado.

Estávamos em Vila Nova da Barquinha, no parque.

Um espaço muito agradável com esculturas de vários autores, com percursos ribeirinhos e zonas lúdicas para as crianças. Tudo numa envolvência de grande beleza, junto ao rio Tejo.

Éramos nove: eu, o meu filho, a minha irmã Joana e o marido italiano, o meu cunhado francês, os meus sobrinhos e os meus pais. Sentámo-nos numa esplanada. Os adultos bebiam café e as crianças comiam gelados.

Foi então que os meus cunhados começaram a falar um com o outro, cada um na sua língua e cada um sem saber a língua do outro.

Ficámos a olhar para eles. O que iria sair dali?!!

Como ambos têm muito sentido de humor a comunicação fluía com naturalidade em francês, italiano e espanhol e com a ajuda de muitos gestos.

Ao fim de algum tempo, o meu filho disse:

– Já percebi. O tio Sébastien foi andar de bicicleta, tropeçou numa pedra, caiu, rompeu as calças e ficou em cuecas!

Desatámos a rir!

E o meu sobrinho Stan continuou:

– E o tio Grazi foi andar de mota. Ia tão depressa que veio a Polícia e mandou-o parar: resultado: teve que pagar uma multa.

A irmã Mathilde, acrescentou:

– E a polícia levou-lhe a mota e ele teve que ir a pé para casa.

Depois, virando-se para os adultos, perguntou:

– E vocês não tinham percebido?

Aos poucos, nós adultos, fomos contando a nossa versão. Inventando um diálogo possível entre os dois tios. Imaginando o que poderiam eles comunicar entre si.

Surgiram relatos muito divertidos, mas os mais inverosímeis eram os mais apreciados.

Todos os adultos participaram perante os olhares atentos e, por vezes, incrédulos das crianças.

No final, quiseram votar para escolher a melhor versão. O relato do avô ganhou o primeiro prémio por unanimidade. Era uma corrida de ‘chavecos’. O tio Grazi ia num Chevrolet vermelho que saiu da pista. O carro subiu fardos de palha, destruiu um galinheiro e aterrou na meta apenas com duas rodas!

É tão bom quando sonhamos!

É tão gratificante quando entramos todos juntos no mundo da fantasia!

Sim, tens razão meu filho. Isto é que é viver!