Os planos B da direita para a corrida a Belém

Miguel Albuquerque conta com apoio de Jardim, enquanto Manuel Monteiro, do CDS, afasta qualquer hipótese. Mas Nuno Melo gostava de ter ‘um Basílio Horta’ contra Marcelo.

Os planos B da direita para a corrida a Belém

A declaração de António Costa a desejar que Marcelo Rebelo de Sousa voltasse à Autoeuropa no próximo ano já num segundo mandato deu o tiro de partida para as movimentações à direita no sentido de se encontrar uma alternativa e alguém que trave também o potencial voto de protesto  (contra Marcelo ) em André Ventura, líder do Chega e o único candidato já assumido. 

Apesar de começarem a surgir nomes para avaliar como potenciais candidatos presidenciais, não é líquido que chegam à casa de partida na maratona eleitoral. Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, ( e líder do PSD/Madeira) admitiu ser candidato, terá o apoio de Alberto João Jardim, mas ninguém sabe quando – e se anunciará – a sua candidatura.

O seu nome foi visto no PSD como uma potencial candidatura para chamar a atenção sobre os problemas da Madeira. Alberto João Jardim, que governou o arquipélago  durante décadas, declarou ao i o seu apoio a Albuquerque, caso avance.  Para Jardim, a candidatura de Albuquerque «é sobretudo um grito regionalista, descentralizador de todo o país. Costa e Marcelo são os símbolos de uma situação concentrada e centralizada em Lisboa». E o antigo líder regional da Madeira ( antecessor de Albuquerque) até apontou quase um manifesto eleitoral para o atual líder do Governo Regional da Madeira: «Há aqui uma alternativa. E a alternativa é também a regionalização, a descentralização do continente». 

No PSD, o assunto é visto com cautela. Já se percebeu que há um alinhamento entre Jardim e Albuquerque, mas o líder do partido  tenta ganhar tempo e não colocar o PSD sob pressão. Nem para comentar a possível candidatura de Albuquerque, nem paradeclarar apoio ao chefe de Estado para um novo mandato. «Uma das coisas que a vida nos ensina é a gestão do tempo. E uma coisa com que eu tenho sempre muito cuidado é na gestão do tempo», declarou ontem Rui Rio antes de um almoço, em Ovar, com o Presidente da República.

Os riscos de um almoço 

Rui Rio aceitou o convite de Marcelo Rebelo de Sousa para almoçar  na Base Aérea de Ovar, no âmbito de uma visita ao concelho (que viveu 31 dias com uma cerca sanitária) ao lado do autarca de Ovar, Salvador Malheiro, classificado como  um «herói» pelo chefe de Estado. Mas no PSD o encontro foi encarado com riscos , apurou o SOL, sobretudo depois da colagem do primeiro-ministro ao Presidente da República para uma eventual recandidatura presidencial. Mais, há quem admita ao SOL que dificilmente Marcelo terá um PSD mobilizado e existe um risco real de que muitos militantes possam optar pela abstenção ou votação noutro candidato que possa ainda surgir. No limite, há quem possa votar num candidato que não agrada nem ao PSD, nem ao CDS: o líder do Chega, André Ventura.  Esse temor também é partilhado por fontes centristas ouvidas pelo SOL.

Ontem, antes do  almoço com Rio e com o presidente da autarquia, Salvador Malheiro, Marcelo Rebelo de Sousa não poupou elogios ao presidente do PSD. Que classificou de líder da oposição, mas também candidato a primeiro-ministro. Enalteceu-lhe o espírito, o interesse nacional acima dos interesses partidários, a postura exemplar na fase de emergência e até fez uma confidência: «Acho que não conseguiria fazer o que [Rui Rio] fez, nomeadamente numa circunstância como esta, de todos os dias ter de enfrentar situações novas e inesperadas». Marcelo quis dizer que ser líder da oposição é, por vezes, mais difícil do que ser primeiro-ministro. Questionado se também combina harmoniosamente com Rio como o faz com António Costa (palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros), Marcelo considerou que sim, que combinam harmoniosamente há décadas de tal forma que «pertencem à mesma área». O Presidente referia-se ao facto de ter sido também ele líder do PSD com Rui Rio a secretário-geral na década de 90. 

Já o presidente do PSD não retribuiu na mesma moeda. Optou por agradecer os elogios, recordar que Marcelo também viabilizou na década de 90 os orçamentos do PS, a bem da moeda única, mas não se comprometeu a dizer que Belém terá o apoio social-democrata para se recandidatar. Primeiro, porque Marcelo ainda «não se disponibilizou totalmente» para uma recandidatura; depois, porque  «o PSD ainda não abordou a questão das presidenciais». Assunto arrumado. Marcelo acrescentou que debater o temas das presidenciais seria um desperdício e não é essa a prioridade dos portugueses.

Agitação no CDS 

A ideia de uma candidatura de direita e centro-direita para combater Marcelo Rebelo de Sousa e travar a votação em André Ventura tem agitado o CDS. Oficialmente, o tema não está fechado nos  órgãos do partido, e seria até «insultuoso», disse ontem o líder Francisco Rodrigues dos Santos, estar a debater este assunto neste momento, perante uma das maiores crises económicas e sociais no país. 

A decisão chegará mais tarde, só lá para o outono. Na comissão política do CDS no passado dia 16 houve quem sugerisse três nomes: Bagão Félix, Ribeiro e Castro e Manuel Monteiro. A sugestão de um dirigente (que não é da comissão executiva) não teve réplica ou debate, mas Bagão Félix e Ribeiro e Castro estão fora da corrida (como afiançaram à Visão). 

E Manuel Monteiro? Também está. Em declarações ao SOL, Monteiro considera que «há muito fumo no ar e não passa disso mesmo» sobre as presidenciais. O antigo líder do CDS (que regressou esta semana ao partido) confessa, contudo, «que não votou nas últimas eleições presidenciais» em Marcelo Rebelo de Sousa. «Não me senti na época motivada para cumprir esse dever cívico. E não foi por causa da minha ausência que o professor Marcelo Rebelo de Sousa deixou de ganhar», acrescentou  Manuel Monteiro. Questionado se estará disponível para ser candidato presidencial, Monteiro foi claro: «Não, de modo algum. Aqui há alguns uns meses essa questão foi colocada e tive oportunidade de esclarecer. No meu caso é um não-assunto».

Já  Adolfo Mesquita Nunes, ex-vice-presidente do CDS, tem surgido como uma hipótese ( foi lançado pelo ex-líder da Iniciativa Liberal), mas o seu nome não colheu bem em alguns setores do CDS. O próprio remete-se, para já, ao silêncio, sem esclarecer, sequer, se estará em reflexão. Entre os centristas há quem acredite que não é candidato.  Por outro lado, um independente como Rui Moreira poderia ser uma hipótese se quisesse. Mas o autarca do Porto também não deu qualquer sinal.

Entre os democrata-cristãos, a ideia de existir uma terceira via é acarinhada por Nuno Melo, eurodeputado do CDS. Esta  semana participou num debate online sobre o desconfinamento da direita, organizado pela sua distrital, a que preside. E o tema das presidenciais não passou ao lado. Nuno Melo não gostou de ver Marcelo a ser lançado como recandidato pelo primeiro-ministro. Como também não gostou de ouvir Marcelo a dizer que o País deve ter orgulho  em Mário Centeno porque o chefe de Estado acabou por se intrometer no jogo político-partidário. Assim, Nuno Melo recuperou a história  das presidenciais para  defender que seria útil uma terceira via de direita e centro-direita: « O professor Marcelo Rebelo de Sousa estará no século XXI como o Dr. Mário Soares esteve no século XX e se calhar estamos à espera de um Basílio Horta», afirmou Nuno Melo,  «mesmo que seja para perder».  O eurodeputado não quis apontar nomes, mas a ideia ficou lá, a do exemplo das presidenciais de 1991, em que Basílio  Horta perdeu e Soares chegou com 70 por cento dos votos.

No PSD, também há vozes descontentes assumidas. O ex-deputado do partido Carlos Abreu Amorim afirmou ao  SOL que está desiludido com o chefe de Estado e deixou um aviso: «Espero que o senhor Presidente da República saiba dar a volta por cima para ser um candidato suprapartidário e não o candidato do Governo. Porque o que está em causa, neste momento, é o equilíbrio de poderes. O que é fundamental para uma democracia».

As hipóteses:

Miguel Albuquerque

É presidente do Governo Regional da Madeira e líder do PSD/Madeira. Foi o único a assumir que está a ponderar uma candidatura.

Adolfo Mesquita Nunes

No ano passado optou pela atividade privada em vez da política. É visto como potencial candidato a líder do CDS dentro de alguns anos. Mas ainda não revelou se pretende concorrer a Belém.

Rui Moreira

O autarca do Porto é uma personalidade política que pode colher apoios ao centro e à direita ou noutras franjas do eleitorado. É um independente mas não deu qualquer sinal de que esteja interessado.