Presidenciais. Ana Gomes recebe incentivos para avançar

Ex-eurodeputada socialista diz que está a refletir e não tem pressa. Críticas do presidente do partido, Carlos César, ficaram sem resposta.

Ana Gomes tem recebido várias mensagens de incentivo para se candidatar à presidência da República. A ex-eurodeputada socialista está a ouvir a opinião de pessoas de várias áreas políticas e só depois de avaliar se tem condições para avançar anunciará uma decisão. Se o fizer é quase certo que não terá o apoio do PS e têm sido poucos os socialistas a incentivar publicamente esta candidatura.

Ana Gomes começou por afastar uma candidatura, mas depois de António Costa ter dado como certa a vitória do atual Presidente da República, na Autoeuropa, admitiu ponderar essa possibilidade. “Estou a refletir. Não tenho pressa”, disse, no domingo à noite, na SIC, no seu programa de comentário político.

A socialista recusou definir um prazo para anunciar uma decisão, mas garantiu que tem recebido muitas “mensagens de simpatia e encorajamento”. As críticas de Carlos César ficaram sem resposta. “A seu tempo responderei”, disse Ana Gomes, depois de o presidente do partido ter afirmado que não votará num candidato “rude” e “divisionista”.

A antiga eurodeputada do PS é conotada à ala esquerda do PS, mas até agora os apoios surgiram das mais diversas áreas políticas. Francisco Assis, um dos poucos socialistas que contestou a geringonça, foi o primeiro a incentivar Ana Gomes. Depois disso recebeu o apoio de Henrique Neto, que se demitiu do PS em rutura com António Costa, Ricardo Sá Fernandes, advogado e membro do Livre, e Paulo Trigo Pereira, economista e ex-deputado.

Não seria a primeira vez que um militante socialista avança com uma candidatura contra a vontade do partido. Manuel Alegre, em 2006, e Maria de Belém, em 2016, são exemplos disso.

Nas últimas presidenciais, António Costa deu sinais de que poderia apoiar Sampaio da Nóvoa, mas acabou por dar liberdade de voto aos militantes. Os socialistas dividiram-se entre as duas candidaturas. A ex-ministra da Saúde contou com o apoio de socialistas com peso como Jorge Coelho, Vera Jardim. Manuel Alegre ou Francisco Assis.

O ex-reitor da Universidade de Lisboa contou com o apoio de vários ministros do Governo socialista (Augusto Santos Silva entrou na campanha) e do então líder parlamentar Carlos César. A candidatura de António Sampaio da Nóvoa não se livrou da acusação de que estava a ter o apoio da máquina socialista.

As eleições presidenciais têm provocado vários momentos de tensão no interior do PS. Em 2006, Mário Soares e Manuel Alegre, amigos de longa data, disputaram as eleições contra Cavaco Silva.

O PS tinha acabado de ter maioria absoluta, pela primeira vez, e José Sócrates decidiu apoiar a candidatura de Mário Soares, que já se tinha despedido da política ativa. Soares não travou Alegre que avançou com o apoio de um movimento de cidadãos. “Foi a primeira vez que um movimento de cidadania alcançou um resultado daquela envergadura (…) E foi um momento de festa fantástico. Tanta gente queria participar e não sabia onde participar. Queria libertar-se dos partidos ou das decisões dos dirigentes partidários. Eu não me candidatei contra os partidos, candidatei-me pela independência”, disse Manuel Alegre, em entrevista ao i, em 2017. O apoio oficial do PS a Mário Soares não se traduziu em votos. Manuel Alegre ficou em segundo lugar com mais de 20% e Mário Soares em terceiro com apenas 14%.

As presidenciais já tinham dado dores de cabeça a Mário Soares. Quando era secretário-geral e o partido decidiu apoiar Ramalho Eanes, em 1980, autossuspendeu-se daquele cargo. Cinco anos depois, o fundador do PS disputou as eleições com Salgado Zenha que se demitiu do partido uns dias antes para se candidatar com o apoio de Ramalho Eanes e do PRD.