Reportagem SOL. Três meses que no São João foram uma eternidade

Do que não era muito, sobretudo para fazer face a uma pandemia, o hospital que levou com o maior embate da covid-19 fez tudo. E todas as ajudas contaram. Cansados mas com o dever cumprido, há uma sensação de descanso do guerreiro. No epicentro da epidemia, em abril só houve uma quebra de 5% nas…

Reportagem SOL. Três meses que no São João foram uma eternidade

Passa pouco das 10h30 e a urgência do São João está calma. As tendas amarelas, nos últimos meses dedicadas a receber casos suspeitos de covid-19, já foram desativadas. Há ainda o espaço reservado a doentes com sintomas moderados mas a entrada faz-se agora para todos pela porta comum, de máscara, porque o vírus pode não trazer aviso. No dia anterior houve um caso positivo, mas têm sido agora mais esporádicos. Em abril, chegaram a ter 350 suspeitos num dia, 100 a dar positivo no teste, imagens que quem o viveu não esquece. Três meses depois, vai-se respirando depois do embate da covid-19 e há um ensaio de regresso à normalidade onde se misturam a adrenalina do tempo que passou, o sofrimento das famílias e do isolamento dos doentes, as vitórias, o dever cumprido temperado por cansaço. Marcas profundas num hospital que de um momento para o outro teve de reinventar-se, contra o tempo e uma enchente de doentes. E resistiu estoicamente.

Cristina Marujo, diretora da urgência central, e Nelson Pereira, são os primeiros anfitriões nesta visita ao bastião da epidemia no Norte. É alívio o que se respira por estes dias, ainda que nada esteja ganho enquanto a pandemia durar. A preparação, o planeamento, os circuitos novos, os ajustes constantes, às vezes da manhã para a tarde, assim como todos os que se prontificaram a ajudar, vindos de outros serviços, vindos de outros hospitais, foram essenciais. Os três meses que passam, primeiro com a afluência de casos suspeitos a partir do carnaval e, depois, a partir os primeiros casos positivos no início de março, pareceram longos e os braços, ao início, pareceram poucos para a a tarefa pela frente. «Somos uma urgência com equipas dedicadas e tínhamos cerca de metade da dotação prevista para o serviço. De repente foi como se caísse aqui uma bomba atómica», resume Nelson Pereira.

De dezenas passaram a centenas de casos suspeitos, num crescimento exponencial que, se nos boletins da DGS pode parecer abstrato, ali foi mesmo isso: rápido, sem tempo para vacilar perante a incerteza de uma onda que se temia que fosse maior, mas foi suficientemente grande para pôr tudo à prova. A preocupação, comum a todo o hospital, foi antecipar as necessidades de resposta e diminuir o risco de infeção entre profissionais e doentes. Mesmo quando as orientações ainda não estavam concretizadas a nível nacional, suspenderam atividade não urgente, tornaram obrigatório o uso de máscara, controlo de temperatura dos profissionais e doentes. Hospital de referência na zona Norte, primeiro admitiam-se e internavam-se todos os suspeitos, como ditavam as orientações, mas depressa se revelou impossível seguir esse rumo. Os casos com sintomas mais ligeiros passaram a ser enviados para isolamento em casa, ainda enquanto aguardavam o resultado. O mesmo com os doentes com teste positivo, mas sem necessidade de ficar no hospital. «Fomos criando as bases de uma estratégia», resumem. Ao início com alguns momentos de incompreensão, mesmo entre colegas no Norte, recordam. «Quando começámos a usar todos máscara além dos equipamentos de proteção nas zonas dedicadas à covid-19, houve quem achasse que não era necessário. Lembro-me de dar uma máscara à minha mulher que trabalha noutro hospital e haver algum olhar de lado. Duas semanas depois estava a fazer-se o mesmo em todos os hospitais», diz Nelson Pereira.

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