O sultão do ‘swing’

Silva Ruivo foi o primeiro profissional português do boxe. E campeão em todas as categorias que lhe deu na gana

Li algures, que foi num domingo de Verão, 4 de julho de 1909, que se disputou pela primeira vez em Portugal um combate de boxe já obedecendo às regras inglesas, o que o diferenciava do boxe francês, La Savate, uma luta mais artística, à francesa, se quiserem, mas que metia ao barulho uns pontapés nas fuças e umas joelhadas em locais onde se situam órgãos de rara sensibilidade. O povo de Lisboa não faltou à cena de pancadaria entre um inglês de nome Fred Drummond e um norte-americano tom de azeviche chamado Sam McVea, The Baby Tar (Bebé Alcatrão). Uns meses antes, o Bebé dera uma tamanha carga de porrada em Fred, no Nouveau Cirque, em Orleães, França, que este ficou relutante em repetir a batalha no Coliseu dos Recreios. Foi outra vez espancado sem dó nem piedade. Há que sublinhar que, até então, McVea só tinha sido batido por dois outros colossos de carne o músculos, o fantástico Jack Johnson e o aprendiz de ferreiro Jeremiah Jeanette que, a despeito do seu apelido muito propício a trocadilhos infantis, era mais volumoso do que um rinoceronte e, provavelmente, bem mais perigoso.

Quando McVea e Jeanette se bateram em Paris, em Abril de 1909, já depois de o primeiro ter vindo exibir as suas faculdades a Lisboa, o choque foi tão bruto e tão equilibrado que só parou ao fim de três horas e meia (49 rounds), o que fez dele um dos mais longos combates da história do boxe. Escutando e lendo notícias homéricas como esta, era natural que o portuguesinho malandro, de andar de bamboleio e navalha no bolso, fadista barato de cais de Sodré, ansiasse porque também houvesse, entre nós, inglesices e americanices do género. Por isso, quando os ringues da capital lhes deram a conhecer um fulano chamado Silva Ruivo, a popularidade deste desatou a subir em flecha ao ponto de ser obrigado a parar na rua ao mais simples dos bons-dias.

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