Quatro irmãos, quatro países. Diogo Moreira da Cruz: ‘Voltar à normalidade anormal!’

Isto é tão bonito que, se por exemplo, se decidir ir apanhar sol Algarvio durante uma semana, no regresso terá que se ficar em casa 14 dias, relembrando o quão bom foi, vendo as fotografias e talvez montando álbuns. Isto para não falar daqueles que não possam trabalhar de casa terem que negociar 14 dias…

Foi exposto que o principal conselheiro do primeiro-ministro Boris Johnson desrespeitou as restritas regras impostas ao país durante o mês de Abril. Regras que foram comunicadas e definidas pelo próprio prevaricador, Dominic Cummings. Entre elas, não podíamos sair de casa, viajar, nem visitar familiares que não vivessem connosco. Ora ele fez cerca de 400km para visitar os pais e foi visto a fazê-lo mais do que uma vez, acusações que o mesmo comprovou, mas que justificou como ‘essenciais’ e por isso não pediu desculpas, nem se demitiu. Boris Johnson também protege o ‘seu homem’, dizendo que respeita a decisão e que não o vai demitir. E aqui me relembro o que a política realmente significa. O conselheiro Dominic Cummings é um homem muito influente que ajuda o primeiro ministro há muitos anos, tendo-o apoiado na campanha pelo Brexit.

O resultado disto tudo é um povo com pouco respeito pelas regras impostas e uma vez que podemos sair de casa é notório que anda tudo a fazer o que quer, como quer. O uso de máscaras de proteção é algo muito raro, o distanciamento em praias e parques é ignorado, mantendo-se apenas distancia igual à pré-coronavirus. Agora temos mesmo a desculpa perfeita para podermos fazer o que queremos, visto que, afinal a voz do Governo vale pouco, já que o exemplo é que podemos e devemos fazer o que mais nos convém.

Já está decidido que o comércio vai reabrir em Junho e somente os pubs, bares e discotecas não estarão incluídos. Mas mesmo estes prometem protestos e reinventar-se com bebidas vendidas como take-away. Há uma vontade extrema de voltar à normalidade, queremos todos voar, viajar em lazer, aproveitar o sol, visitar a família e os amigos. Mas o Governo continua a confundir e a deixar tudo de ‘pantanas’ e nada ‘normal’.

Quanto às viagens internacionais, uma quarentena de 14 dias obrigatória será imposta a todos aqueles que voltam ao país. Isto é tão bonito que, se por exemplo, se decidir ir apanhar sol Algarvio durante uma semana, no regresso terá que se ficar em casa 14 dias, relembrando o quão bom foi, vendo as fotografias e talvez montando álbuns. Isto para não falar daqueles que não possam trabalhar de casa terem que negociar 14 dias de férias a somar aos outros passados numa qualquer praia.

As companhias aéreas, hotéis e operadores turísticos reagiram de imediato, anunciando despedimentos devido à esperada baixa procura. Se é verdade que temos que nos proteger também é verdade que há medidas que só servem para uma minoria. Estas parecem vir novamente de conselheiros que devem pensar que afinal a ‘elite’ a que pertencem não terá problemas em viajar e fazer as suas próprias regras. E esta medida é mais brilhante ainda quando penso em Londres. Vamos imaginar um turista que vem visitar Londres, somente terá de ficar no hotel 14 dias, coisa pouca, até porque Londres vê-se num dia. Dá perfeitamente para tirar 15 dias de férias, ficam-se 14 no quarto do hotel e sobram 24 horas para dar voltas pela cidade e depois ir a correr para o aeroporto.

Isto é tão genial que é mesmo estranho não ser seguido por todos os países. Acho que podíamos criar comunidades locais junto ao aeroporto para se fazer quarentena. Já ninguém visitava países nem enchia cidades, bastava aterrar e ir direto a um centro local de quarentena, onde aí teríamos bares, pubs, restaurantes, visitas virtuais a museus… Afinal ali fechados podemos fazer tudo. Não! Efetivamente, mesmo tentando brincar de forma tola, não há como aceitar medidas que não funcionam mesmo. Estamos assumidamente na rua e já ninguém quer regressar a casa porque mesmo que venham novas vagas da covid-19, já não há vontade de respeitar. O medo transformou-se em conformação e aceitação do coronavírus. O desejo de normalidade supera tudo e agora ela está aqui, visível, palpável e veio para ficar.