Andrew Lloyd Webber. O autor das músicas das nossas maiores fantasias

O seu nome pode não ser o primeiro a surgir na cabeça quando imaginamos os autores de maior sucesso. Contudo os seus musicais colocam-no como ‘o compositor mais bem sucedido comercialmente da história’.

ual o denominador comum de O Fantasma da Ópera, Jesus Cristo Superstar, Cats ou Evita? Se a resposta foi: «é obvio que são alguns dos musicais mais bem-sucedidos de sempre», a resposta está certa. Mas há mais do que isso. 
As músicas criadas para estas produções que passaram dos palcos para as telas de cinema e que faturaram milhões nas bilheteiras são da autoria de um compositor: Andrew Lloyd Webber, um homem que destinado a musicar as nossas maiores fantasias.

Nascido em Kensinton, o elegante distrito londrino onde se situam o Royal Albert Hall e o Royal College of Music, Webber provém de uma família repleta de virtuosos músicos. 

O seu pai, William Lloyd Webber (1914–1982), foi compositor, organista e professor de teoria musical no Royal College of Music. A sua mãe, Jean Hermione Johnstone (1921–1993), foi violinista e pianista. O seu irmão mais novo, Julian Lloyd Webber, é um violoncelista aclamado.

O seu talento musical começou a manifestar-se desde tenra idade. Aos nove anos já tinha criado uma suíte, conjunto de movimentos instrumentais dispostos com algum elemento de unidade para serem tocados sem interrupções.
Apesar de ainda ter ingressado no Magdalen College, instituto que faz parte da Universidade de Oxford, para estudar História, este capítulo na vida de Webber durou poucos meses, uma vez que acabou por desistir e ingressar na escola de música da cidade onde nasceu para estudar uma das suas maiores paixões: o teatro musical.

Foi ali que, aos 17 anos, foi apresentado a Tim Rice, letrista britânico – na altura, ambos os aspirantes músicos estariam longe de imaginar que juntos haveriam de criar algumas das mais famosas músicas de sempre e de gerar uma fortuna inimaginável com os seus trabalhos. Segundo o Sunday Times, Lloyd Webber é o músico mais rico do Reino Unido, com uma fortuna avaliada em 800 milhões de libras.

A música dos nossos sonhos
A primeira colaboração de Webber e Rice foi o musical The Likes of Us, baseado na vida do filantropo Thomas John Barnardo, que criou casas para crianças sem abrigo. Contudo, este projeto não recebeu financiamento suficiente para ser levado aos palcos e apenas seria interpretado para o público em 2005 num festival em Sydmonton, em Inglaterra.
Ainda assim, para os poucos que tiveram o privilégio de assistir a este trabalho, era óbvio que a dupla tinha muito talento para dar. No verão de 1967, Alan Doggett, um amigo da família de Webber, pediu à dupla para escrever uma peça para o coro da escola onde trabalhava. 

Deste trabalho resultou Joseph and the Amazing Technicolor Dreamcoat, baseado na história bíblica do ‘manto de mil cores’ de José. Apesar de o projeto ter nascido como uma cantata – composição vocal para uma ou mais vozes com acompanhamento instrumental – de 20 minutos, Webber introduziu-lhe toques humorísticos e influências do rock ‘n’ roll de Elvis Presley. A sua segunda apresentação mereceu uma crítica positiva por parte do The Times.

Depois deste trabalho, o duo continuou a inspirar-se na Bíblia para criar novas produções, mas desta vez pensaram em grande: um musical sobre a vida e morte de Jesus Cristo que quebraria barreiras entre as produções que eram até então apresentadas na Broadway e a música rock. Estamos a falar de Jesus Cristo Superstar.

A narrativa contada da perspetiva de Judas foi vista com maus olhos e nenhum produtor se atreveu a financiar o projeto. Webber confessou numa entrevista que chegaram a dizer-lhe que esta «era a pior ideia da história».
Sem possibilidade de produzir a peça, Webber e Rice decidiram pegar nesta ideia e criar um álbum conceptual. O resultado foi um esmagador sucesso: Ian Gillan, vocalista dos Deep Purple, fazia de Jesus Cristo e Murray Head, ator nomeado para um Óscar em 1971, fazia de Judas. O álbum chegou ao número 1 na lista dos 200 discos mais vendidos no Estados Unidos da América e o musical acabou por chegar aos placos. Esteve em exibição durante oito anos na Broadway, tornando-se o musical britânico que mais tempo esteve em exibição.

A controvérsia era inevitável – o povo judeu condenou o espetáculo por considerá-lo antissemita, os cristãos acusaram-no de blasfemo e fanáticos religiosos chegaram a fazer atentados em alguns espaços que exibiam o musical. Mas o burburinho apenas serviu para aumentar a curiosidade em torno do espetáculo e elevar o nome dos seus criadores.
Depois de revisitar a vida de Jesus Cristo, Webber, desta vez sem Rice, adaptou para musical Jeeves (1975): o espetáculo, baseado nos livros de contos de Alan Ayckbourn, acabou por revelar-se um falhanço na bilheteira.
O seu próximo sucesso nasceria quando se voltou a juntar com Tim Rice que, depois de uma viagem à Argentina em 1973, começou a interessar-se pela vida da antiga líder política argentina Eva Perón, e sugeriu fazer um musical sobre esta personagem. Eis então, Evita.

À semelhança de Jesus Cristo Superstar, primeiro surgiu o álbum em estúdio (1976) e só depois estreou o musical (1978). Também este se revelou um sucesso esmagador. O seu peculiar estilo, que misturava música clássica, rock e ritmos latinos, fizeram com que Evita se tornasse no primeiro musical a vencer o Tony. 

Em 1996, o musical chegou aos ecrãs do cinema com um filme realizado por Alan Park e protagonizado por Madonna, que venceu o Golden Globe pela sua performance. Apesar da música mais conhecida deste filme ser Don’t cry for me Argentina, parodiada pelos Simpsons, foi a música You Must Love Me a ser galardoada com o Óscar.

Esta seria a última vez que os dois britânicos trabalhariam juntos, colaborando daí em diante apenas esporadicamente (a última vez ‘a sério’ seria numa adaptação do Feiticeiro de Oz, em 2011).

Este não seria, no entanto, o fim dos sucessos de Webber, que ainda tinha na manga cartadas como Cats (1981), uma adaptação baseada no livro Old Possum’s Book of Practical Cats de T.S. Elliot, entretanto adaptado, em 2019, a um controverso filme; The Phantom of the Opera (1986), que também chegou ao cinema, em 2004, com Gerard Butler no papel principal.

O seu trabalho valeu-lhe uma enorme fortuna e inúmeros galardões. O The Guardian considerou-o «o compositor mais bem sucedido comercialmente da história», o Daily Telegraph listou-o como a «quinta pessoa mais poderosa da cultura britânica», em 2008. Chegou a ser o músico mais rico do Reino Unido – título que atualmente partilha com Paul McCartney. Mas demonstrou sempre uma veia de caridade. Em 1992, fundou a The Andrew Lloyd Webber Foundation, que já entregou mais de 17,5 milhões de libras a «projetos que se focam no aprimoramento da educação e participação artística, melhorando o acesso e aumentando a diversidade no setor de artes, cultura e património». Este ano, doou através da sua fundação 50 mil libras para ajudar a associação Help Musicians, que está a apoiar artistas em necessidade durante os tempos de pandemia. 

E ainda disponibilizou online horas de conteúdo dos seus espetáculos apelando às pessoas que viram os espetáculos que doassem dinheiro para ajudar a fundação Actor’s Fund. Este apelo valeu meio milhão de libras. 

Num direto, o compositor agradeceu a todas as pessoas que contribuíram para esta causa: «Espero que percebam que o teatro vai estar sempre aqui. Ele vai voltar. Nunca pensei que fôssemos ficar presos durante tanto tempo e temo que ainda vamos ficar durante mais algum. Mas não se podem ver livres de mim», anunciou, prometendo que talvez adiantasse algumas novidades de Cinderella, o musical em que estava a trabalhar antes de a pandemia parar a sua produção.