Engolidos como fast-food

Falamos da pandemia, da violência doméstica, dos médicos, dos enfermeiros e de George Floyd, como se fossem uma máquina de lavar, para depois caírem num obscurecimento redundante!

Estamos feitos numa geração fast-food. Somos empáticos, sim. Simpáticos, também. Mas as notícias engolem-nos, à velocidade da luz. Não temos tempo para responder adequadamente às necessidades da própria ‘notícia’. Notícias essas, que são, vidas humanas. Eu vejo seres humanos e crimes a serem tratados como comida fast-food. Quase como aquelas pessoas que fazem aqueles concursos para ver quem é que é que come hambúrgueres em tempo recorde. Ou quem é que se atira de forma vulgar à primeira história absolutamente horrenda apenas porque sim. Isto porque a disponibilidade em fazermos mais e melhor não pode passar por engolir e cuspir as notícias em cinco minutos.

Fazer homenagens de um dia, quando alguém que deu tanto à sociedade morre. Bater palmas em dois ou três segundos. Revoltarmo-nos contra o homicídio de uma criança brutalmente assassinada e dizermos: «Que macabro!», durante cinco dias e passarmos à frente, como se nada fosse. E ao dizer cinco dias, estou a ser bastante exagerada! Falarmos da pandemia, da violência doméstica, dos médicos, dos enfermeiros e agora de George Floyd, brutalizado de forma extremamente racista como um escravo às mãos dos seus ‘senhores’, tudo isto como se fosse uma máquina de lavar, de assuntos misturados, para depois caírem num obscurecimento redundante! Até porque isto tem uma desvantagem brutal: faz com que os políticos se fiquem apenas pela demagogia.

Sabem que amanhã iremos estar a falar de outra coisa qualquer. Como se fôssemos ali comer um cachorro. Ou comer um hambúrguer. Beber uma Coca-Cola. Comer batatas fritas. Limpar a cara do ketchup. E depois como se nada fosse, caminharmos para as nossas vidas assobiando para o lado, a pensar que um post um basta, que um milésimo do nosso dia é sequer suficiente.

Eu sei que são as necessidades do mundo em movimento! E as pessoas? As pessoas não são dois dias, nem duas horas, nem cinco minutos. Temos de ter causas em que acreditar! E essas são as que nos ficam no coração. Não se deitam fora, depois de estarmos saciados e de barriga cheia de likes. São para a vida toda, são um caminho que se percorre, juntamente com aquilo que fazemos. Nem que para isso sejam precisos braços de ferro no caminho. As causas são as justas. Injustos são os cinco segundos de oportunidade alheia. Do fast-food execrável!