Nancy Doss. Os temperos da avozinha

Alegre, simpática, sorridente, criava fáceis empatias. Pelo caminho, matou duas filhas, quatro dos cinco maridos, dois netos, a irmã, a mãe e por aí fora numa espiral de assassínios que deixaram os Estados Unidos em estado de choque.

Os vizinhos gostavam de Nancy. Gorducha, alegre, sempre pronta para ajudar, não passaria pela cabeça de quem quer que seja que estava à beira de assassinar os filhos. Como é obscura a mente humana… Quando o seu primeiro marido, um tipo chamado Charles Braggs, chegou a casa, em Tulsa, Oklahoma, nesse final de tarde de 1927, deparou com um quadro aterrador: no chão da cozinha, jaziam os cadáveres de duas das quatro filhas de ambos. Nancy estava calma, controlada. Explicou pacientemente a George que fora um engano. Temperara a sopa com arsénico sem dar por ela. Um desgraça evitável, mas compreensível. Frazer vomitou de nojo, não acreditou numa única palavra da mulher, e fugiu pela porta fora com a filha mais velha nos braços.

Os desequilíbrios mentais de Nancy Hazle foram motivo de estudo para vários psiquiatras. E foi, sem margem para dúvidas, uma das mais fascinantes personagens da história do crime. Nascida a 4 de Novembro de 1905, em Blue Mountain, Alabama, tinha um pai de apavorar rinocerontes: James Hazel tratava a mulher, Louisa, abaixo de cão e, pelo caminho, tinha tempo de sobra para sarrazinar até ao limite do impossível a vida da filha. Proprietário de umas courelas, obrigava Nancy a trabalhar como se fosse um homem. A escola era, para ele, uma mera distracção que lhe tirava do campo mais um par de braços. Não é, por isso, de admirar que Nancy fosse uma criança mentalmente desequilibrada que aproveitava os poucos tempos livres para ler os românticos romances de cordel que a mãe guardava num armário. Não contente com a vidinha miserável que lhe dera, o deus menor que a trouxe ao mundo envolveu-a num acidente de comboio no qual viajava a família em visita a um parente. A cabeça de Nancy bateu com violência no banco fronteiro e ela perdeu os sentidos, obrigando a composição a uma paragem de emergência que irritou Mr. Hazel de sobremaneira e o fez soltar imprecações contra a irritante fragilidade da filha. A partir desse dia, a garota passou a ter longas faltas de memória, comportamentos erráticos e súbitas mudanças de disposição. Além do mais tratou de alimentar o sonho romântico de que um dia, um príncipe encantado a viria salvar definitivamente da existência merdosa a que o pai a sujeitava. O sonho não tardou a deixar de ser sonho: transformou-se numa obsessão.

James Hazel era incapaz de exibir qualquer gesto da mais miserável das ternuras. O máximo de proximidade que conseguiu ter com a filha foi dar-lhe um diminutivo: Nannie. Enfim, uma daquelas bestas de 124 patas, bronco e analfabeto, que espreitava a vida através do fundo de uma garrafa de aguardente e não via nada para além de campos de milho e de trigo. Proibiu Nancy de ter amigos. E de usar roupas garridas, que pudessem atrair qualquer ser do sexo masculino. Enfiou-lhe um dedo na ponta do nariz e avisou-a com os olhos a faiscar ódio: «No dia em que eu achar que deves casar, escolherei um homem para ti!» Nancy limitou-se a acenar, concordando. Não tinha grandes alternativas.

 

De mal a pior

Em 1921, James arranjou um marido para a filha: Charley Braggs, um colega dela na Linen Thread Company, uma empresa de produção de linho. Se a vida de Nancy já era uma porcaria, tornou-se ainda pior. Charley era uma besta com quase tantas patas como James. Um imbecilóide que vivia sozinho com a mãe, uma senhora que nunca casara e que desenvolveu sentimentos negativos por Nancy mal lhe pôs a vista em cima. Usou todos os estratagemas que conseguiu imaginar para conseguir que a nora habitasse um inferno permanente, o que não a impediu, no entanto, de gerar quatro raparigas. Pelo caminho fumava como uma chaminé e bebia como uma esponja._Nancy, quero dizer, não a sogra.

Em 1927, deu-se o o móbido episódio da morte das duas miúdas do meio. O diagnóstico seria claro: envenenamento por ingestão – produto: estricnina. Charley ficou absolutamente convencido de que a mulher assassinara as duas meninas, embora esta continuasse a jurar a pés juntos que tudo não passara de um acidente infeliz. De um momento para o outro, ganhou um pânico a Nancy, que o fez fugir com a mais velha, Melvine, deixando para trás a mais nova, Florine, ainda uma criança de mama. Quando voltou a ter notícias de casa ficou a saber que a mãe também tinha recebido a sua dose mortal de veneno de ratos durante uma refeição. Resolveu regressar a Tulsa e pôs Nannie na rua a pontapé. A fúria sobrepôs-se à pusilanimidade.

Nannie, com a bebé nos braços, voltou para casa dos pais e dedicou-se a procurar um novo companheiro através da rubrica Lonely Hearts de uma revista que promovia encontros amorosos. Pelo caminho, Charley, que vivia ainda aterrorizado pelo que sucedera, conseguiu o divórcio, o que deu um jeitão aos dois. Sobretudo a Nannie que, entretanto, iniciara uma correspondência apaixonada com um infeliz de Jacksonville, Carolina do Norte, chamado Frank Harrelson que a presenteava com poemas de amor, ridículos, claro, mas também não seriam poemas de amor se não fossem ridículos. A aranha atraía a mosca para a sua teia e o apatetado Frank não tardou a pedi-la em casamento. No início de 1929 formalizaram o matrimónio.

Nunca Nancy se sentira tão satisfeita com a sua vida tantas vezes abjecta. A união durou dezasseis anos a despeito dos problemas de alcoolismo de Harrelson, que se envolvia amiúde em rixas e cenas de pancadaria, passando várias noites no conforto do cárcere da polícia de Blue Montain. Não. Decididamente, Nancy Hazel Braggs, depois Harrelson, não estava destinada a conservar os homens com quem casava.

 

Golpes repentinos!

Melvina, a filha mais velha de Nancy e Charley, fora mãe por seu turno. O nascimento da segunda criança despertou em Nannie uma raiva incontrolável e incompreensível. O parto foi um cabo dos trabalhos. Melvina quis a mãe por perto e dispensou a ajuda do marido, Mosie. As horas passaram, dolorosas, até que uma menina aparentemente saudável fez a sua triunfal entrada neste mundo. A sós com a filha e com a neta no quarto de hospital, espetou um alfinete-de-dama na moleirinha da recém-nascida. Embalada pelo cansaço, Melvina não deu por nada. Os médicos consideraram a morte normal. Nesse tempo a mortalidade à nascença era uma banalidade. E há sempre uma figura sinistra que rege os destinos do mundo, conduzindo o rebanho dos homens na direcção da planície das desgraças. Foi o que aconteceu. Melvina zangou-se com o marido pouco depois e resolveu ir passar uns tempos com Charley, o pai. Deixou o pequeno Robert aos cuidados da amorosa avozinha assassina que, vejam bem como as coisas são, tinha recentemente feito um seguro de vida para o neto no valor de 500 dólares e com ela como beneficiária, quem haveria de ser. Não tardou que o menino morresse asfixiado. Ninguém soube explicar o motivo. Os médicos declararam-se incapazes de atribuir uma razão que levasse as desconfianças que se iam acumulando sobre Nannie a ganharem foros de investigação policial. O monstro desfez-se em lágrimas numa tristeza tão falsa como a de trinta Judas.

Corria o ano de 1945. Frank passara uns tempos difíceis na Europa, combatendo na II_Grande Guerra, dedicava a maior parte dos seus dias a escorropichar garrafas de uísque com os seus irmãos de armas. Ingenuamente, esquecia-se de com quem tinha casado. E Nancy estava com ele pelas orelhas. Nem era uma questão de ódio. Era o mais profundo e malicioso dos tédios. A sua decisão estava tomada e restava-lhe esperar pela oportunidade que surgiu na noite de 15 de Setembro quando, ao chegar a casa pela madrugada, Harrelson exigiu à senhora Harrelson que se dispusesse, como obediente esposa que era, a satisfazer a sua luxúria dilatada pelas libações alcoólicas. Nancy suportou-o. Com asco. No dia seguinte, misturou raticida na garrafa de aguardente do marido. Depois desfez-se das provas enquanto este se arrastava nas vascas da agonia.

 

Mais um marido

Dois anos mais tarde, Nancy continuava confortavelmente longe das garras da justiça. Mas era suficientemente esperta para não andar por aí a correr riscos desnecessários. Decidiu mudar de ares. Viajou até à Carolina do Norte e instalou-se em Lexington. Regressou aos Lonely Hearts. Eram uma espécie de coutada de caça para a insaciável gorducha. A história de Frank repetiu-se, agora com um pobre diabo chamado Arlie Lanning, uma cavalgadura de altíssimo coturno que se gabava de ser tão bêbado como mulherengo. Tão, tão bêbado, aliás, que basicamente ignorava a mulher e se estava nas tintas para os longos períodos de tempo em que esta desaparecia para, segundo ela, visitar a irmã, Dovie, que sofria de cancro. Dedicada à igreja, exibindo uma bonomia encantadora, Nannie conquistou não apenas a simpatia dos membros da comunidade local como igualmente a sua piedade. Arlie, o ébrio, era insuportável. Pelo menos enquanto se mantinha em pé e conservava os sentidos a funcionar minimamente. Depois caía sobre o seu próprio vómito e cozinhava a bebedeira horas a fio. Quando morreu num desses ataques, o médico considerou absolutamente desnecessária a autopsia. Afinal o seu alcoolismo era público e notório. Que o enterrassem suficientemente fundo para que o cheiro não inundasse a superfície. Parece que deixara a casa em testamento a uma irmã, mas o documento nunca foi encontrado.

Nancy parecia nunca esgotar o stock de homens solteiros dos lugares por onde passava. Instalou-se em casa de Dovie e, calmamente, esperou que o cancro fizesse o trabalho por ela. Ou talvez não. No dia 30 de Junho de 1950, a Senhora da Gadanha levou Dovie e deixou-a proprietária da casa da falecida, em Gadsden, Alabama. Chegara a altura de casar outra vez. Não perdeu tempo.

 

Quarto e quinto!

Aos 47 anos, Nancy já não era nenhuma estampa, se é que alguma vez o fora. Pesada, envelhecida, recorreu aos serviços do Diamond Circle Club onde, por apenas 15 dólares por ano, os membros podiam ter acesso às fotos e endereços dos disponíveis para novos amores. E assim conheceu Richard L. Morton, um descendente de índios dono de uma empresa, a Morton of Emporia, no Kansas. Foi fogo em palha seca. Richard confessou aos seus amigos que Nannie era a mulher mais excitante que alguma vez conhecera._Os amigos convenceram-se de que ele ensandecera e afastaram-se da sua súbita loucura. Morton pousou um joelho no chão e pediu-lhe a mão. Outubro de 1952:_Nancy já ia no quarto marido. E não seria o derradeiro.

Tudo parecia correr sobre rodas nesta nova união. Até porque, ao contrário dos pés-rapados que Nannie arranjara anteriormente, este tinha dinheiro a rodos o que era uma nova e entusiasmante realidade, principalmente quando lhe surgia em casa com uns colares de pérolas ou umas pulseiras de diamantes. O problema é que Richard não era homem de uma mulher só. Tinha particular gosto em manter amantes e nem sequer fazia questão de ser discreto. Ou seja, estava a arranjar lenha para se queimar. Em seguida, Louise, a mãe, ajoujada pela velhice e pelos maus tratos que sofrera por parte de James, suplicou-lhe que a deixasse viver os últimos tempos de vida com ela e com Richard, o que fez explodir fulminantes na cabeça recalcada de Nancy. Os últimos tempos da vida de Louise chegaram depressa, numa chávena de café carregada de arsénico. Partiu sem deixar saudades.

Como revolta perante as traições de Morton, Nancy Morton correspondia-se com um fulano de Tulsa, Oklahoma: Samuel Doss. Richard não tardou a provar do mesmo remédio do que_Louise, ou seja, do mesmo café, melhor dizendo. Era extraordinário como Nannie continuava a passar ao lado de todas as suspeitas desde que Charley Braggs dera às de vila-Diogo e nunca mais se atrevera a pôr-lhe a vista em cima. Um fenómeno que, mais tarde, alguns estudiosos da sua vida arrebatada atribuíram a empatia que conseguia estabelecer com toda a gente e que lhe valeria a alcunha de Giggling Granny, ou a Avozinha Sorridente. Por detrás do tal sorriso de avozinha escondia uma mente macabra e torpe. Mais ainda demoraria mais um pouco para que todos percebessem a calhorda com que lidavam.

Sam Doss era um inspector de estradas do Estado de Oklahoma, tinha 59 anos e era um pachola. Bem-humorado, de modos cavalheirescos, encantou Nancy o suficiente para esta o aceitasse como marido em Junho de 1953. Era agora Mrs. Nancy Doss. O último apelido com o qual se passeou à face da Terra.

Doss era, apesar de todas as virtudes, um daqueles chatos de pai e mãe, fanático pelas lições bíblicas e pela devoção divina. Havia ordem para despertar às 9h30 em ponto e o sexo devia ser limitado para não criar embaraços ao Senhor. Quando começou a embirrar com as horas que a mulher passava em frente da televisão e de revistas românticas, esta não esteve pelos ajustes e mandou-o às urtigas. Saiu de casa de cabeça ao alto, indignada por andar a ser tratada como uma criança, embora, se tivesse pensado melhor, era preferível ter por companheiro um devoto maçador do que os avinhados com os quais gastara a maior parte do seu tempo.

Sam ficou de coração destroçado. Escreveu-lhe cartas infindas suplicando-lhe que regressasse a casa e prometendo que iria tornar o seu comportamento mais liberal. Mas o seu argumento mais pesado foi o de abrir uma conta bancária em nome de Nannie, deixando-a à vara larga para gastar o que quisesse. Um erro fatal.

De regresso à vida conjugal, passou a ser mimado com sobremesas dignas de um príncipe. Até ao dia em que, depois do jantar, uma fatia de tarte de ameixa preparada pela sua esposa amantíssima o atirou para uma semana de pura agonia, com ataques de diarreia e vómitos diários, perdendo peso de tal forma que teve de ser internado sob estreita vigilância clínica. Foram vinte e três dias entre a vida e a morte. A vida ganhou, mas Sam não iria tirar grande partido dessa vitória à Pirro.

Nancy acirrou-se. Detestava ser contrariada, como já se percebeu. Por dentro fervia de raiva; por fora continuava a cumprir o seu papel de mulher cuidadosa e preocupada com a preciosa saúde do marido que, vendo-se muito atrapalhado nos cuidados intensivos, resolveu fazer um seguro de vida bastante generoso em seu nome.

A impaciência tramou Nannie Doss. Ansiosa por ficar mais uma vez viúva, e desta vez viúva indinheirada, não resistiu às vozes que lhe martelavam os ouvidos com frequência. Dois dias depois de voltar para os cuidados da sua lacrimejante cônjuge, um porco assado carregado com o tempero preferido de Nancy mandou Doss desta para melhor, tendo em conta que estar casado com tamanha megera se pode considerar o pior. Só que, desta vez, finalmente alguém deixou de ser estúpido suficiente para fazer vista grossa à mortandade que parecia seguir a estuporada criatura fosse para onde fosse. A autópsia foi esclarecedora: envenenamento por arsénico. A convicção de que estava acima de todas as suspeitas pusera Nannie Doss na boca do lobo. O doutor Schwelbein resolveu ir até ao fundo da questão por via da amizade antiga que o ligava a Samuel. Deitou mãos ao serviço e não descansou enquanto não descobriu no estômago e nos intestinos do seu velho e finado companheiro veneno suficiente para matar, nos seus próprios termos, uma manada de cavalos e mais um ou dois burros. Como sempre, Nannie voltara a demonstrar a sua tendência para os exageros…

 

Capítulo final

Nancy Doss foi detida, interrogada, e assumiu a sua melhor versão de avozinha amorosa. O agente escolhido para montar um processo contra ela, um tal de Ray Page, confessou a sua imensa frustração após longos interrogatórios durante os quais a ré se dedicou a falar sobre temas absolutamente levianos, considerando as suspeitas em seu redor não apenas ridículas como até ofensivas. Depois pediu para que pudesse ter acesso, na cadeia, a revistas que promoviam encontros amorosos. Repetiu por mais do que uma vez que estava disposta a voltar a casar-se. Ainda estava para conhecer o amor da sua vida.

Page era um fulano insistente. Pelo meio das sessões de perguntas e respostas foi tirando nabos da púcara sobre as mortes estranhas dos anteriores maridos. Ao ser confrontada com isso, Nannie piscou candidamente os olhos e respondeu com uma pergunta: «Are you saying, young man, that I killed all my usbands?». Em seguida não conteve uma sonora gargalhada.

A imprensa começou a interessar-se seriamente por esta mulher de vida tão incongruente. Os nomes espalharam-se pelas primeiras páginas dos jornais: «Jolly Widow»; «Black Widow»; «Strange Granny»;_«Arsenic Nannie». As folhas do processo trataram de acumular-se. Os detalhes sobre as mortes de gente que ficara ao seu cuidado, desde os filhos aos netos e à mãe, vieram á superfície. Hora após hora, o horror revelava-se em toda a sua opulência. Era chegada a altura certa de confrontar Nancy com a sua ceifa. E quando a sua teimosia quebrou, a confissão foi dos eventos mais chocantes da década no Estados Unidos.

Começou por aceitar as culpas pela morte de Samuel. Ia explicando os motivos: a forma como ele a enervava com picuinhices e como os seus excessos de devoção católica lhe buliam com a paciência. Entretanto, vários corpos iam sendo exumados por ordem judicial, desde o de Richard Morton ao de Arlie Lenning, passando pelo da irmã Dovie e o da mãe Louise. Todos eles revelaram a existência de arsénico. E Nancy desfazia-se em argumentos infantis: dores de cabeça, irritação contínua, tédio soporífero – tudo valia para justificar os bilhetes de marcha para outro mundo. Quando Page pediu que os corpos das suas duas filhas também fossem desenterrados e sujeitos a autópsias, o Estado de Oklahoma decidiu que as evidências eram mais do que suficientes e não se justificava quebrar o descanso eterno das duas crianças. Ray Page perguntou-lhe de forma directa: «Como se sente com a sua consciência?» Recebeu a resposta adivinhável: «Clear!».

No dia 2 de Junho de 1955, Nancy Hazle Doss declarou-se culpada pela morte do último dos seus cinco maridos, Samuel. Com essa decisão, evitou o julgamento, foi condenada a prisão perpétua, e não recebeu ordem de pena capital pelo simples facto de ser mulher. Ouviu a sentença com um sorriso nos beiços, fresca como uma margarida, como sublinhava um jornal local. Nada nela revelava remorsos. Quando um repórter a questionou sobre o que deviam fazer com ela, replicou: «Façam aquilo que vos apetecer! Para mim está tudo bem». Havia pelo menos mais outros oito crimes que lhe eram imputados sob investigação. Deu entrada na Oklahoma State Penitentiary, onde viria a morrer de leucemia dez anos mais tarde, mandando um recado para a filha: «Tem calma. Não te preocupes. Eu também não». Talvez por pilhéria, uma das sua biografias expressa a sua irritação final: era obrigada a trabalhar na lavandaria da penitenciária, embora tivesse requerido o serviço de cozinha._Deviam ter medo do seu tempero.