Opinião do médico Pedro Moura Reis

A ausência de testes nos viajantes e inexistência de distanciamento físico nos aviões fará perigar a estabilidade da pandemia e aumentar a morte entre os idosos.

por Pedro Moura Reis

A Aviação Comercial começou a voar de e para Portugal com autorizações quer para lotação máxima, quer para transportar passageiros sem teste diagnóstico para covid-19.Vejamos com atenção o Plano de Recuperação do nosso 1º Ministro, António Costa, pessoa que todos esperamos poder louvar e admirar. O Chefe do Governo acabou por aceitar o calendário presente dos voos da TAP, para que ela comece a faturar e assim prescinda do lay off permitindo fazer a Segurança Social poupar muitos milhões de euros. O 1º Ministro abriu precocemente, ainda nesta fase complexa da Pandemia, os 3 aeroportos do continente (ao contrário da Madeira e dos Açores) aos voos comerciais de passageiros de diversas companhias, desde o Brasil (na maior zona pandémica da América Latina e objeto de preocupação já manifestada pela própria Espanha a 3 semanas de abrir as suas fronteiras com Portugal), e a diversos países europeus todos eles ainda a braços com a Pandemia. Mas o Chefe do Governo escutou o apelo dessas Companhias de Aviação, escutou o nosso vasto sector do Turismo, e decidiu promover em plena Pandemia o imediato início da captação das verbas provenientes do ressurgir do Turismo começando a poupar nas verbas destinadas a lay off das empresas do turismo, começando a cobrar as taxas e retomando a cobrança futura dos impostos nesta área. 

O primeiro-ministro, como homem bem informado que é, ou não fosse ele o Chefe do Governo, sabe que este reinício dos voos comerciais sem distanciamento físico possível dos passageiros pois que a Aviação Comercial conseguiu a autorização do 1º Ministro e de outros Chefes do Governo (sendo que o nosso País ainda é  soberano), para poder atingir a lotação máxima nas suas aeronaves, e conseguiu outra autorização muito singular e estranha em tempo de Pandemia: aceitar que os passageiros possam embarcar sem exibirem um certificado no qual conste um teste negativo para a COVID-19 feito nos últimos 2 ou 3 dias antes do embarque. 

O 1º Ministro também sabe que as suas medidas precoces de abertura do nosso País a pessoas oriundas de países em pandemia, viajando sem teste, desconhecendo-se totalmente se são ou não portadoras do vírus da covd-19, viajando sem distanciamento possível nas cabines lotadas do avião durante 2, 3, 4 ou 10 e mais horas, todas estas autorizações sem as principais medidas preventivas para evitar uma nova importação de pessoas infectadas oriundas de países em pandemia, o chefe do Governo sabe que foi assim que em fevereiro e Março por avião, sem distanciamentos físicos na cabine, e desconhecendo-se se alguém trazia consigo o vírus, se iniciou a pandemia covid-19 no Mundo e em Portugal. As semelhanças com a atualidade são as essenciais para espalhar a infeção: entra no avião quem quer e sem que se saiba da infeção, e dentro da cabine todos estão a 20 cm uns dos outros durante 2, 3, 4 ou 10 e mais horas. Quanto às diferenças na atualidade agora os passageiros viajam de máscara, e têm hidrogel para as mãos: isto será suficiente? O 1º ministro sabe que vários destes passageiros virão dos seus países inevitavelmente infectar os cidadãos do nosso País, pois porque muitos ou todos viajarão desconhecendo a sua doença.

A exigência que deveria haver em Portugal de serem apresentados testes negativos por todos os que nos visitam e entram em Portugal durante a pandemia, não se compreende a sua inexistência, nem nunca foi explicada, discutida e votada, como é próprio da democracia e da pura decência num país de cidadãos livres, cultos, civilizados, europeus.

Numa altura da pandemia em que os testes estão muito mais disponíveis para a maioria dos cidadãos em todos os países, não há desculpa que colha qualquer compreensão ou adesão!

É credível que irá aumentar o número de infectados em Portugal pelos infectados que entrarão e pelos contágios que irão produzir, até porque não sabem que transportam o vírus. 

Ora o chefe do Governo sabe que são os idosos portugueses que aqui estão no nosso País, sem viajar, cumprindo regras de distanciamento físico, saindo nos seus bairros, fazendo suas compras, indo e vindo aos seus locais de trabalho, pois são muitos os que ainda naturalmente trabalham entre os 65 e os 80 ou mais anos, bem como muitos destes permanecem ainda com contactos sociais de vária ordem, serão estes idosos os de entre os infetados os que mais sintomas graves irão ter e evoluir para doença grave.

O 1º ministro sabe ainda mais: que serão os idosos portugueses aqueles de entre a nossa população os que irão morrer e de entre os mortos por covid-19 eles constituirão 90 a 99% das mortes por covid.

António Costa sendo primeiro-ministro, sabe que com a morte dos idosos, a Segurança Social e a Caixa Geral de Aposentações pouparão largas centenas de milhões de euros, lógica e inevitavelmente sim, mas através das mortes evitáveis nos idosos por covid de importação.

Pois desaparecerão, por morte evitável por covid-19, centenas ou por maior desventura, até milhares de idosos das listas de Reformados da Caixa Geral de Aposentações e da lista de Pensionistas da Caixa Geral de Pensões.

Essas centenas ou milhares de idosos portugueses que poderão vir a morrer pela nova vaga de turistas infectados, a partir desta semana, permitidos pelo chefe do governo a entrar em portugal infetados, irão representar um ganho de poupança inevitável para o cofre da segurança social, se atentarmos à expectativa de vida que esses idosos que irão morrer iriam ter se continuassem vivos: de até 1 década para os mais velhos de 80 anos até a 3 décadas de vida, para os da faixa etária dos 60 aos 69 anos. 

Quantas centenas de mensalidades a multiplicar por centenas ou alguns milhares de idosos mortos por, infecão importada evitável, irão deixar de ser pagas pela segurança social?

Como consequência quantos milhares de milhões de euros poupados na segurança social pela morte dos idosos portugueses agora que essa morte poderia ser evitável, se o chefe do governo fizesse o que lhe compete fazer para evitar as mortes dos seus compatriotas mais idosos?

Em plena pandemia, António Costa, 1º ministro, porque não é um cidadão qualquer, nem ignoto, nem ignaro, quer com rapidez, custe o que custar, ajudar a retoma da economia e tornar e manter sustentável a segurança social.

Convenhamos, António Costa, será um primeiro-ministro digno de todos os louvores.

Talvez não me engane, mas o primeiro ministro de Portugal, será provavelmente um homem que ficará para a história como o homem que escreveu um novo capítulo dos manuais da história de Portugal, o qual talvez possa vir a ser intitulado: 

"Nunca um só homem fez tão pouco para não evitar centenas ou milhares de idosos mortos e com isso fazer tanto pela sustentabilidade das finanças públicas e da segurança social em Portugal" e mais abaixo, talvez como subtítulo: 

"E tudo isto foi feito com risco, obstinação e com imprevista precocidade durante a esperada reta final da pandemia, pelo governo desse homem único".

Médico
Secretário Geral da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia (secção da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa)
Médico fundador de uma empresa com mais de 4 décadas de organização de congressos para a formação médica contínua em Portugal, com início de funções em 1976.