Thyssen-Bornemisza perde ‘joia’ de Gauguin

Baronesa retirou do museu madrileno quatro quadros, incluindo uma obra-prima de Gauguin. Quadros serão vendidos.  

A Thyssen-Bornemisza, em Madrid, reabriu ao público com o acervo diminuído. E as perdas são de peso: entre os quatro quadros que deixaram de fazer parte da coleção, conta-se a obra Mata Mua, de Paul Gauguin, uma das obras mais importantes do museu.

Foi Carmen Cervera, a baronesa Thyssen-Bornemisza – cuja coleção, iniciada pelo marido, deu origem ao museu homónimo madrileno – quem decidiu retirar Mata Mua, considerado a joia da sua coleção pessoal, avançou o El País na quinta-feira. O quadro pintado por Paul Gauguin em 1892, e que está avaliado em cerca de quarenta milhões, tinha sido ali depositado por Cervera em 1999, sendo o contrato firmado – um empréstimo gratuito –renovável. Depois de uma primeira tentativa para retirar a obra, o ministério da Cultura espanhol deu autorização à baronesa para retirar o quadro do museu, onde estava exposto na sala dedicada aos pintores impressionistas e pós impressionistas. O quadro já estará no estrangeiro onde vai ser vendido, diz o diário espanhol. 

Juntamente com Mata Mua, Carmen Cervera retirou outras três pinturas do acervo: Cavalos de Corrida numa Paisagem, 1894, de Degas; Martha Mckeen Of Wellfleet, 1944, de Edward Hopper e A Ponte de Charing Cross, 1899, de Monet, este último avaliado em 15 milhões.

O El País escreve que os responsáveis pelo museu e o ministério da Cultura ainda tentaram travar a saída dos quadros, especialmente de Mata Mua. A equipa liderada por José Guirao propôs a saída dos últimos três quadros citados, juntamente com sete milhões de euros pagos anualmente nos próximos 15 anos, em troca da continuidade do quadro de Gauguin no museu. Findo esse período, o museu teria direito de compra sobre as obras que ainda não pertencem ao acervo e apenas foram emprestadas, mas em nenhum dos casos a saída de Mata Mua estava em cima da mesa. Carmen Cervera tinha aceitado a proposta do museu, mas em janeiro deste ano o presidente espanhol Pedro Sánchez substituiu o ministro da Cultura José de Guirao por José Manuel Rodríguez Uribes. Após a troca de cadeiras o acordo foi renegociado e acabou por ser possível a saída de todas as obras. A luz verde chegou em abril, em plena pandemia, e quando o museu reabriu ao público os quadros já tinham sido retirados.

Carmen Cervera, herdeira das obras do barão Hans Heinrich von Thyssen-Bornemisza, já tinha demonstrado vontade de retirar os quadros do museu, alegando falta de liquidez. Em 2018 já tinha, aliás, pedido permissão para vender Mata Mua. «Tem todo o direito porque a obra é dela», disse Javier García Fernández, secretário de Estado da Cultura, ao El País. Em 2012, a baronesa já tinha vendido o quadro The Lock, de John Constable, por 27,89 milhões de euros na leiloeira Christie’s.

O Museu Thyssen-Bornemisza, que se situa no Palácio de Villahermosa, em Madrid, resultou da aquisição do Governo espanhol das obras da coleção de arte da família Thyssen-Bornemisza, em 1992. Foi inaugurado a 8 de outubro desse ano e, do seu acervo, composto hoje por mais de mil obras de arte, constam obras de mestres como Ticiano, Caravaggio, Goya, Cézanne, Salvador Dalí ou Jackson Pollock. Carmen Cervera, de nacionalidade espanhola, foi a quinta mulher do barão Hans Heinrich von Thyssen-Bornemisza (1921-2002), natural da Suíça. Nos anos 90, na altura em que a coleção foi colocada à venda, foi disputada por nomes como o Príncipe Carlos, Margaret Thatcher ou pelo presidente francês François Mitterand.