Portugal, a China, Macau, Hong Kong e o 10 de Junho

Já antes, no tempo de Salazar, apesar de todas as dificuldades, a China havia demonstrado que as suas boas relações com Portugal eram estratégicas e ‘perpétuas’: Um cidadão respeitado e um também respeitado oficial da Armada, Eng. Silva Nunes, em serviço em Macau, foram convidados pelo Governo Chinês a visitar o país

Um amigo enviou-me o seguinte texto:  Suponhamos, Sr. Ministro Santos Silva, que nos Açores há cidadãos que usando do seu direito de liberdade de reunião e manifestação, provoca estragos na via pública, ocupam o aeroporto das Lages, invadem a Assembleia Regional, confrontam as forças de segurança, assobiam o Hino Nacional, vaiam o Presidente do Governo Regional, exigindo a independência do arquipélago, exibindo bandeiras dos EEUU?

Em resposta a Assembleia da República legisla contra quem defende a independência dos Açores, quem não respeita o Hino Nacional, quem vaia os dirigentes nacionais, quem exibe bandeiras de países estrangeiros. .

Mas a AR não proíbe o direito de manifestação e reunião, nem põe fim á autonomia dos Açores

Acharia Sr. Ministro que o Governo de Portugal violou o estatuto da autonomia da região?

Acharia Sr. Ministro que o Governo de Portugal violou aos liberdades fundamentais?

Se o Sr. acharia que sim louvo a sua coerência.

Se o Sr. acharia que não, então concluo que os seus comentários sobre Hong-Kong, foram uma miserável submissão á propagando do governo dos EEUU e uma evidente traição á política nacional de boas relações políticas, económicas, sociais e culturais entre Portugal e a RP da China.

Aquando do 25 de Abril, Portugal contactou a China tendo em vista, no quadro da descolonização, efetivar a entrega dessa ‘colónia’. A China respondeu-nos que Macau era um ‘território chinês administrado por Portugal’, uma situação, portanto, fora do quadro colonial, que essa situação era voluntária pelas duas partes desde 1557 e que ela deveria ser resolvida a seu tempo, de modo vantajoso para ambas as partes. Foi assim que, bem mais tarde, de decidiu essa transferência (da administração de Macau por Portugal para a China) no ano de 1999. Muito de positivo para Portugal ocorreu em todo esse processo e a prestigiada Fundação Oriente, é uma herança dessa colaboração.

Já antes, no tempo de Salazar, apesar de todas as dificuldades, a China havia demonstrado que as suas boas relações com Portugal eram estratégicas e ‘perpétuas’: Um cidadão respeitado e um também respeitado oficial da Armada, Eng. Silva Nunes, em serviço em Macau, foram convidados pelo Governo Chinês a visitar o país. O ‘regime’ autorizou a visita na condição de à comitiva ser acrescentado um elemento por si designado. A comitiva fez uma bela visita de cortesia por toda a China e foi mesmo recebida pessoalmente por Chu En Lai, então primeiro-ministro de Mao Tsé Tung.

Ao contrário, Hong Kong foi ‘tomada’ pelos ingleses à China no quadro da fragilidade desta decorrente das canalhas ‘guerras do ópio’ e mais trinta mil malfeitorias. No entanto, a China, também neste caso, não preferiu ‘resoluções azedas’ da questão.

Agora, o ‘Ocidente’ (os EUA) resolveu fazer a guerra (económica, financeira e de segurança, fria ou quente) à China e o Governo ‘português’ lacaio vem, mais uma vez, pôr em causa os interesses nacionais e uma história digna de muitos séculos. Hoje, em Macau, para além de muito mais de elevado valor simbólico e prático, continua presente e valorizada a toponímia das ruas escrita na língua de Camões.

Em 1988-89, em Moçambique, a Renamo, apoiada e treinada ‘discretamente’ pelo Governo português e outros ‘patriotas’ residentes na África do Sul, cortava os seios, os lábios, o nariz e as orelhas às moçambicanas que apanhavam nas suas incursões. Eu, lá, como português, sentia-me envergonhado. Hoje, apesar dos esforços de muitos, de cá de lá, Moçambique já fugiu dos horizontes nacionais: é uma ‘triste lembrança’. Queremos fazer o mesmo com Macau e com todo o nosso património político e cultural no Oriente?

Porque finge comemorar o 10 de Junho, Sr. primeiro-ministro? O Sr., com raízes em Goa, deveria entender melhor a necessidade de não deixar amputar os Valores que deveremos preservar para o Futuro de Portugal.