Nunca houve tantos contactos em vigilância e projeção é agora mais positiva

Depois de, no fim de maio, a modelação do Imperial College colocar Portugal entre os países europeus com maior índice de contágio, o país surge agora entre os países onde se projeta um RT mais baixo.

Duas semanas depois de as projeções do Imperial College colocarem Portugal entre os países europeus com maior índice de contágio por covid-19, estimando na altura um RT (o indicador que calcula o número de novos casos a partir de cada infetado) de 1,28 – só superado por República Checa e Rússia –, a atualização para esta semana coloca o país entre os que apresentam agora menor risco de propagação. A última projeção da equipa da universidade britânica, publicada ontem, estima um RT de 0,67 (0,37 – 1,02) para Portugal, o terceiro mais baixo na Europa, só superior ao que é calculado para Bélgica e Dinamarca. Outro indicador em que Portugal se destaca agora pela positiva na análise do Imperial College é na proporção de casos que estão a ser detetados, com os investigadores a estimar que 70,6% dos casos de infeção estão a ser reportados no país. Por exemplo, no Reino Unido, a estimativa é de 15,1% ou, na Alemanha, de 33,3%.

As modelações do RT do Imperial College não coincidem com as que são feitas em Portugal pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Ainda assim, o último cálculo tornado público pelo Ministério da Saúde também apontava para uma melhoria do panorama nacional em termos de novas infeções (o que só se vê nos diagnósticos ao fim de de alguns dias) com o RT nacional a situar-se em 0,97, sendo também este o valor calculado para a região de Lisboa, que tem concentrado a maioria dos casos desde o início de maio. Nas últimas semanas, o RT em Lisboa esteve sempre acima de 1, mas só no final de maio foi apresentada uma estratégia para a região, começando por rastreios aos setores com mais focos. Já na última semana, o Ministério da Saúde anunciou a criação de um gabinete regional de supressão da covid-19. A informação sobre a ação deste gabinete tem sido parca, mas as orientações foram objeto de um despacho assinado a 2 de junho e ontem publicado em Diário da República, que determinou a testagem de todas as pessoas em vigilância ativa e também reforçou a instrução para que se fiscalize o cumprimento do confinamento obrigatório.

Ontem, pela primeira vez, não houve o habitual briefing diário da Direção-Geral da Saúde, que a ministra da Saúde indicou passará a acontecer só três vezes por semana. O boletim da DGS revelou 300 novos casos confirmados nas 24 horas anteriores, 246 na região de Lisboa – e, destes, a grande maioria nos concelhos de Lisboa, Loures, Sintra e Amadora, onde não se verifica ainda uma quebra de novos diagnósticos. Sintra deverá passar esta quarta-feira a barreira dos 2 mil casos confirmados, depois de ontem terem sido confirmados 49 novos casos. Também Lisboa se aproxima agora dos 3 mil casos. Ainda assim, o boletim da Direção-Geral da Saúde revela que esta terça-feira estavam em vigilância 30 810 contactos de pessoas a quem foi diagnosticada a infeção com o novo coronavírus, ultrapassando pela primeira vez, ainda que ligeiramente, o número máximo de pessoas em vigilância ao mesmo tempo e em isolamento profilático para conter a transmissão do vírus, que tinha sido de 30 805 pessoas a 20 de abril – na altura, a maioria na região Norte.

Além de garantir que o confinamento é cumprido e de travar as cadeias de transmissão, os novos focos mantêm-se como uma das maiores preocupações – isto numa altura em que reabriram também centros comerciais em Lisboa e o Governo tem estado a promover o turismo. Numa entrevista à CNN, o primeiro-ministro apresentou o plano para atrair turistas, afirmando que o país é seguro. Esta terça-feira, as atenções viraram-se para sul. Uma festa ilegal, no passado sábado, em Odiáxere, no concelho de Lagos, onde terá estado uma centena de pessoas, foi já associada a 16 casos positivos. “Quase tínhamos passado ao lado da pandemia e agora, numa atividade ilegal e muito inconsciente de quem organizou e participou no evento, estamos a pôr em causa o trabalho de muita gente”, disse o presidente da Câmara Municipal de Lagos, Hugo Pereira, em declarações à Antena 1.

Ontem, o boletim da DGS incluiu pela primeira vez os concelhos alentejanos de Crato e Aljustrel, com três casos cada (só a partir de três casos são identificados municípios com casos, o que as autoridades justificam com motivos de privacidade). Mação, Óbidos e Sabugal entraram também na lista.

O número de vítimas mortais da covid-19 em Portugal subiu ontem para 1522. Apesar de a maioria dos novos casos confirmados no país serem pessoas mais jovens, dos 300 novos casos confirmados ontem, 39 doentes têm mais de 70 anos, faixa etária em que a letalidade por covid-19 é de 17%.