Região de Lisboa em alerta máximo

Número de novos casos abrandou ligeiramente, mas nunca houve tantos casos ativos em Lisboa. Índice de contágio é agora menor em Lisboa e maior no Norte e Algarve, onde uma festa ilegal expôs o risco de relaxar os cuidados.

A semana terminou com alertas duros da ministra da Saúde: «Estão redondamente enganados aqueles que pensem que podem baixar a guarda», disse Marta Temido no briefing desta sexta-feira, em que reconheceu que está a haver dificuldades em quebrar as cadeiras de transmissão na região de Lisboa, ainda que o R seja inferior àquilo que já foi. Depois de no início da semana passada ainda subsistir alguma desvalorização dos surtos em Lisboa, o Presidente da República chegou a admitir que a análise era injusta para com o Norte do país, a preocupação subiu e o controlo aumentou nos últimos dias, assim como o apelo ao cumprimento das regras. Reabriram os centros comerciais e já se nota maior afluência nos transportes públicos. O número de novos casos na região de Lisboa abrandou ligeiramente face à semana passada, mas são a grande maioria dos casos do país. O cálculo do índice de contágio na região de Lisboa é agora inferior a 1, o significa um abrandamento na transmissão da doença. Aumentou no entanto na região Norte e no Algarve.

No Norte, um surto num lar da Misericórdia de Cinfães mostrou mais uma vez a vulnerabilidade das instituições para idosos. No Algarve, uma festa ilegal em Odiáxere já foi associada a mais de 70 casos positivos que se espalham por vários concelhos do Barlavento Algarvio. O Governo descarta uma cerca sanitária na região, numa semana em que os médicos alertaram para a falta de meios crónica nos hospitais da região onde a maior afluência no verão já costuma gerar dificuldades. E com covid-19, a apreensão aumenta. A ARS do Algarve recursou alarmismo e garantiu que há meios, mesmo que sejam poucos os médicos e enfermeiros a aderir ao regime de mobilidade usado para reforçar as equipas. «O reforço tem sido sempre pouco, mas nunca aconteceu uma tragédia por causa disso – e este ano também não vai acontecer», disse Paulo Morgado ao Público.

 

Lisboa em alerta

Depois de a ministra da Saúde ter deixado a expectativa no início da semana de que os casos na região de Lisboa deverão começar a decrescer, esta semana mantiveram-se na casa dos 200/300. Ainda assim, nota-se uma primeira diminuição, ligeira, depois de semanas em que o número de casos acelerou na região. Se faz tendência, só os próximos dias o dirão. De segunda-feira até ontem, registaram-se 1127 novos casos na região de Lisboa, o que compara com 1185 na semana passada anterior. Tendo em conta que esta semana não teve feriados, é um balanço que dá algum sinal de melhoria, mas o número de casos ativos na região nunca foi tão elevado e o risco é por isso grande. Também os hospitais registaram maior pressão e foi ativado o Hospital Militar de Belém. Se existe algum sinal de abrandamento, o concelho de Sintra, que passou a barreira dos 2000 casos, registou nos últimos dois dias o número mais elevado de novos casos, uma situação que a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo atribui «essencialmente às condições socioeconómicas e habitacionais de alguma população (muitas pessoas concentradas em espaços/casas) e a alguns focos da doença em lares», disse fonte oficial ao SOL, garantindo que a situação está acompanhada. Não foram discriminados focos nem as freguesias onde há mais casos nem os locais onde existe transmissão comunitária.

Esta sexta-feira, a junta de Freguesia União das Freguesias de Massamá e Monte Abraão anunciou que a feira de Monte Abraão, a maior do concelho, reabre este sábado. Ao SOL, o presidente da junta de freguesia, Pedro Oliveira Brás, garantiu que a decisão de reabertura foi concertada com as autoridades de saúde locais e que o plano de contingência é o mais exigente nas feiras da região. O recinto que antes da pandemia concentrava centenas de pessoas vai estar vedado e só serão admitidas 100 pessoas de cada vez, com controlo de temperatura à entrada para feirantes e clientes. Também só estarão 50% dos feirantes, assegurou. «Queremos a retoma mas temos a consciência de que só o podemos fazer com total segurança e se houver alguma orientação das autoridades de saúde serão feitos esses ajustes», garantiu o autarca.

 

O primeiro médico a morrer

Esta sexta-feira foi confirmada a morte de um médico de 68 que lutava há mais de um mês contra a infeção por covid-19. O médico era especializado em medicina geral e familiar e colaborava com a equipa de gastrenterologia do Hospital Curry Cabral, que nos últimos meses foi um dos hospitais de referência para a covid-19 na região de Lisboa. Ordem e sindicatos manifestaram pesar e pediram reforço das condições de trabalho dos profissionais, numa semana em que o anúncio da final da Champions como um prémio para os profissionais de saúde motivou críticas da classe.

Entre contestação dos dirigentes e cartas nas redes sociais, foi criada uma petição pública que pede que o prémio final da Champions seja atribuído ao Serviço Nacional de Saúde.  «O nosso SNS, instituição frágil e cronicamente subfinanciada, demonstrou durante o presente ano ser muito mais importante que qualquer instituição ou competição futebolística. A injeção de capital irá certamente beneficiar os utentes e profissionais do SNS, na medida em que irá permitir o tão necessário investimento em infraestruturas, recursos humanos e materiais», lê-se no texto, que ontem reunia 7000 assinaturas.

 

Portugal nas comparações

Se nos últimos 15 dias Portugal registou uma maior incidência de novos casos que a maioria dos países europeus, os casos aumentaram também em França e Itália. E Espanha atualizou o número de mortes. O Imperial College, que no final de maio calculava que o país tinha dos piores índices de contágios, mostra agora o país entre os melhores. E estima que os testes estão a detetar 70% dos casos, o que não acontece noutros países.