No pior cenário, Portugal pode lucrar 10 milhões

Valor estimado, que poderá ser arrecadado com a Liga dos Campeões, é calculado por Daniel Sá, do IPAM que defende que receita ‘está longe de a salvar economia portuguesa’ mas é ‘simpática’. Hotéis e restaurantes começam a preparar-se.

Receber um evento como a Liga dos Campeões numa altura em que a economia apresenta valores nada animadores e quedas abruptas é motivo de aplausos em Portugal. E os impactos económicos, ainda que não possam ser os desejados, serão uma ajuda.

Pelo menos é essa a opinião de Daniel Sá, diretor executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM). Ao SOL, o responsável explica que no pior cenário – que se traduz em não haver adeptos, existindo apenas as equipas, staff, UEFA e patrocinadores, «diria que seguramente o valor de 10 milhões de euros é o mínimo dos mínimos».

O impacto não é o suficiente mas é «simpático», defende. «É um impacto simpático mas está longe de salvar a economia portuguesa. Mais do que esse impacto direto é todo o efeito indireto. Numa altura de contexto de recuperação de confiança é uma campanha publicitária fantástica para Portugal e para efeitos a longo prazo é muito poderoso», diz ao SOL.

Apesar de fazer esta estimativa, o responsável defende que não sabendo se a competição vai ou não ter público não permite fazer estimativas tão assertivas, uma vez «este é o fator que influencia mais o impacto».

Daniel Sá, lembra os impactos de 2014: «Estudámos o impacto da final de 2014 em Lisboa entre Real Madrid e Atlético de Madrid e na altura apresentámos cerca de 50 milhões de euros de impacto em Lisboa». Mas os valores eram outros. «Falávamos na altura em cerca de 70 mil visitantes, entre adeptos, jogadores, staff, e metade deste bolo do impacto ia para a hotelaria, cerca de 20% para a restauração e depois tudo o resto para outro tipo de serviços como segurança, hospitalidade, patrocínios, por aí fora». No entanto, as alturas não são comparáveis. «Este estudo de 2014 não é transportável para esta porque para já foi um jogo e agora vamos ter 7 e, por outro lado, porque não sabemos à data de hoje, se há público ou que quantidade de público pode haver», relembra.

Caso não haja público, existe sempre a possibilidade de os adeptos rumarem a Lisboa, o que pode aumentar a receita. «O desporto tem essa componente muito emocional que faz as pessoas comportarem-se dessa forma. De alguma forma, mesmo não sendo permitido [assistir aos jogos no estádio], já vai ser permitido viajar e as pessoas hospedarem-se. Por isso sim, não é possível estimar, mas pode acontecer. A mensagem que passa para o mundo é que o país está numa situação controlada e é seguro. E isso pode ajudar».

Hotéis já têm reservas

Aos poucos e poucos a vida dos hotéis começa a voltar à normalidade e com a chegada da Liga dos Campeões, há motivos para sorrir. A vinda de adeptos ainda é uma incógnitas mas, com oito equipas em Portugal, que trazem os seus staffs, é necessário abrigá-las. 

Paulo Almeida, chefe de vendas do Lisbon Marriott Hotel garante que «com certeza» vão ficar com uma das equipas até porque o hotel «tem já uma vasta experiência e tradição ao longo dos anos em receber equipas de várias modalidades, que se deslocam a Portugal para jogos oficiais e também para estágios».

Ao SOL o responsável confessa estarem satisfeitos com a realização do evento em Portugal: «Em qualquer altura do ano ano é sempre positivo e prestigiante receber a Liga dos Campeões. É claro que nesta fase, face à pendemia que levou ao encerramento do hotel, é ainda mais positivo», defende.

As reservas, «desde equipas de futebol à comitiva de jornalistas, que já estão habituados aos nossos serviços de excelência», já estão a acontecer mas é ainda muito cedo para falar em taxa de ocupação uma vez que aguardam a decisão final da UEFA. «Não sabemos ainda se vamos ter os convidados VIP, os Sponsors, se será permito adeptos … Mas só com uma equipa e a comitiva, e sendo otimista, diria que cerca de 20% de ocupação», perspetiva Paulo Almeida, acrescentando que estas estadias ajudarão a «recuperar algumas perdas».

Também o Pestana Palace confessa já ter alguns contactos para receber equipas mas ainda não tem nenhuma marcação confirmada. Ao SOL, fonte do Pestana Hotel Group revela não ter dúvidas que «a realização deste evento em Lisboa é uma muita boa notícia para o destino». Mas não só: «A visibilidade que se estima que o evento traga a Lisboa e ao país pode beneficiar o setor, em particular agora que as ligações aéreas internacionais começam a ser repostas. Melhor seria mesmo que fosse permitida alguma assistência nos estádios, designadamente dos sponsors em regime controlado», acrescenta. 

Ao SOL, Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador da Vila Galé, refere que o evento «é uma boa notícia para a hotelaria e para o turismo e, acima de tudo, para o país. É muito positivo porque revela que Portugal é visto internacionalmente como um destino com credibilidade e seguro», defende.

O responsável acrescenta ainda que já notam «alguma procura e pedidos de reserva para esse período», garantindo que todas as medidas de segurança estarão garantidas. 

Restaurantes preparados

O chef Ljubomir Stanisic proprietário de restaurantes como o 100 Maneiras, refere que a realização da fase 8 em Portugal «são boas notícias para o turismo nacional e, especificamente, para a cidade de Lisboa. Acima de tudo, acho que é uma oportunidade de mostrarmos ao mundo que estamos preparados para voltar a receber turistas, que estamos a implementar todas as medidas de segurança e que continuamos a ser um destino que vale muito a pena conhecer», defende ao SOL.

E as expetativas são as melhores, não só pela Liga dos Campeões mas também pela altura do ano. «Acredito que haja um aumento, sim, não justificado apenas pela Liga dos Campeões mas também pela data em que vai acontecer, que tem sempre um acréscimo de reservas».

Paulo Dâmaso, responsável pelo restaurante Kais, garante estar a viver este anúncio de «uma maneira otimista». «Neste momento, o turismo internacional está praticamente paralisado. Lisboa está a sofrer horrores em termos económicos. A quebra dos restaurantes, neste momento, é na ordem dos 70 a 80%, em média», diz.

E é nesse sentido, defende, que «tudo o que sirva para animar a economia e o turismo é sempre bem vindo. Todas as normas já regulamentadas para a nossa atividade irão ser cumpridas», garante.

«Tudo o que venha a mais é uma ajuda. A situação é dramática. Portugal não é um caso isolado. Infelizmente não há mais eventos como este que nos permitam alavancar a economia e a recuperação turística», acrescenta.

Responsáveis do setor aplaudem

«Esta decisão vem confirmar Portugal como um território seguro e reafirmar o seu posicionamento como destino turístico de excelência reconhecido por inúmeros galardões que têm sido atribuídos», diz ao SOL a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), relembrando que «a DGS já veio dizer que se encontram reunidas todas as condições para o acolhimento deste importante evento». 

Também a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) aplaudiu o anúncio da UEFA. Para a associação não há dúvidas: «A realização deste evento, especialmente pelo momento em que nos encontramos, é muito importante para a promoção e posicionamento de Portugal, como destino turístico e como país seguro, apto a acolher grandes eventos».

Além do impacto na imagem e promoção de Portugal e de Lisboa, a AHP acredita que a final 8 terá também impacto económico relevante. «Mesmo não contando com os adeptos, entre equipas, patrocinadores e jornalistas estima-se que sejam vendidas milhares de noites na hotelaria da área metropolitana de Lisboa».

Para Raul Martins, presidente da associação, «esta pode ser uma grande oportunidade de ter milhões de europeus com a sua atenção concentrada em Lisboa e em Portugal», acrescentando que esta oportunidade é «um balão de oxigénio» para o setor.