Liga dos Campeões é “prémio” ou “insulto” para os profissionais de saúde? Marcelo e Costa respondem às críticas

Presidente da República ajuda António Costa a explicar polémica com profissionais de saúde. Direita e esquerda atacam primeiro-ministro.

O primeiro-ministro reagiu às críticas que lhe foram feitas por ter considerado que a fase final da Liga dos Campeões é um “prémio” para os profissionais de saúde. António Costa defendeu que “é preciso má-fé para transformar um agradecimento” num “insulto” aos profissionais de saúde. “Acho que toda a gente de boa-fé percebeu. O senhor Presidente da República percebeu muitíssimo bem. Foi um agradecimento”, disse Costa.

O Presidente da República foi o primeiro a tentar explicar “a especulação sobre aquilo que disse o primeiro-ministro” na cerimónia no Palácio de Belém. Marcelo explicou que António Costa quis dizer que sem o esforço dos profissionais de saúde não teria sido possível controlar a pandemia e criar condições para receber eventos como a fase final da Liga dos Campeões.

As explicações surgiram depois das críticas dos médicos e enfermeiros ao discurso do primeiro-ministro. No plano político, Costa também não escapou às críticas da esquerda e da direita. “O futebol não é um prémio para os médicos e para os enfermeiros”, disse Francisco Louçã. No comentário semanal, na SIC, o ex-deputado bloquista disse que o discurso do primeiro-ministro foi um “exagero que caiu mal a quem deu tudo o que podia” para combater a pandemia. O deputado do Bloco de Esquerda Moisés Ferreira também lembrou que “os profissionais de saúde trabalham para salvar vidas, não para organizar a final da Liga dos Campeões. Valorizá-los é com melhores carreiras e melhores condições de trabalho”.

“Ridículo” e “absurdo” À direita, o presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, classificou a cerimónia como um momento “completamente inusitado e carnavalesco”. O líder do CDS, numa entrevista ao Porto Canal, disse que o evento no Palácio de Belém “roçou o ridículo e o absurdo e creio que nenhum português olhou para aquilo com bons olhos”.

Alguns deputados sociais-democratas também criticaram a dimensão de cerimónia que juntou Marcelo Rebelo de Sousa, Ferro Rodrigues, António Costa, Fernando Medina, os ministros Pedro Siza Vieira, Marta Temido e Tiago Brandão Rodrigues e o secretário de Estado João Paulo Rebelo. “Realizar em Portugal a final da Champions, sem adeptos, pode ser útil para o país. Mas todo este folclore em torno do anúncio é ridículo, patético e característico de outros regimes. É também um desrespeito para outros momentos que teriam merecido tamanha ‘solenidade’”, escreveu, nas redes sociais, o deputado e ex-líder da JSD Duarte Marques.

O ex-deputado Carlos Abreu Amorim também acusou o Governo de estar a utilizar o futebol e os profissionais de saúde para fazer “propaganda política”. Já Miguel Morgado, antigo assessor de Passos Coelho e ex-deputado, disse que o Governo “quer iludir-nos até à mais pura das alienações com truques terceiro-mundistas. Isto é um desrespeito que não tem nome”.

As primeiras críticas foram feitas pelos profissionais de saúde. “Os médicos não querem esse prémio. Querem ajudar os portugueses. É bom que isto fique claro”, disse o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães. Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros, lembrou que vários países europeus estão a discutir a atribuição de bónus aos profissionais de saúde. “A Liga dos Campeões não será um prémio com certeza, mas significará muito mais trabalho, não sabemos o que ainda vem por aí”, disse, na TSF, Ana Rita Cavaco.