Alba Baptista: “De certa maneira, aprecio a solidão”

Jovem mulher, jovem atriz que, com a mira na internacionalização, foi construindo uma carreira em Portugal até dar o salto para um mundo cada vez mais global e com menos preconceitos para com artistas estrangeiros. 

Alba Baptista: “De certa maneira, aprecio a solidão”

Dois. De julho. Dia em que estreia Warrior Nun, a primeira série da Netflix protagonizada por uma atriz portuguesa. 22: a idade da dita atriz. Cinco: o número de línguas que fala. É ela a protagonista também destas páginas – Alba Baptista, jovem mulher, jovem atriz que, com a mira na internacionalização, foi construindo uma carreira em Portugal até dar o salto para um mundo cada vez mais global e com menos preconceitos para com artistas estrangeiros. Ela considera que o caminho foi moroso – quem está de fora pode tender a discordar – e agradece não lhe ter caído no colo, logo à partida, nenhum papel cheio de armadilhas. Não se refere às armadilhas causadas pela densidade da personagem em si, mas aquelas outras que atiram imediatamente alguém para o estrelato e que podem fazer um ator perder o foco. E foco é o que não lhe falta: com uma voz segura que dá melodia a um discurso maduro e sincero, assume que os voos mais altos trazem o perigo do descontrolo do ego. Mas Alba está à espreita e, enquanto continua a navegar águas nacionais e internacionais, promete não esquecer a pureza que, afinal, carrega no nome. A conversa decorreu na Graça, em Lisboa, numa manhã que brincava às escondidas com o verão.

Por que estamos aqui, no Jardim da Cerca?

Na verdade, só vim aqui uma vez na vida mas achei o sítio muito bonito, fiquei maravilhada porque achei que era um pequeno espaço zen no caos lisboeta. Achei que tinha algo de muito poético. Quando vim cá senti-me calma e quis-me deitar no jardim durante horas, e pensei que era esta a sensação que queria para falar da minha viagem.

Pelas partilhas que vai fazendo transparece que é uma pessoa que se importa em parar, em conectar-se à terra e à espiritualidade. É uma perceção correta?

É essencial para mim, acho que é essencial para o bem estar da alma de cada um. Tento a cada ano fazer uma viagem ou um retiro qualquer, seja ele físico ou de meditação. Foi algo que apanhei da minha mãe. São hábitos que tenho desde criança mas só na idade adulta é que me apercebi da importância deles e do efeito positivo que têm na minha vida. Até pode ser em Portugal, o importante é ser uma viagem para me desligar de tudo. E acho que qualquer pessoa se identifica com isso.

Nasceu em Lisboa, vai fazer 23 anos, o seu pai é brasileiro e a mãe portuguesa, mas que passaram muito lados. É uma família do mundo?

De certa forma, sim. A minha mãe é portuguesa mas viveu na Alemanha durante a maior parte da sua vida, e depois muitos anos no Brasil. Portanto ela própria é uma misturada que as pessoas não conseguem identificar bem. Apesar de termos crescido em Portugal, com o meu pai sempre fora a trabalhar, nunca tivemos costumes portugueses, nem com a comida portuguesa. A nossa família vive muito numa bolha. Os três filhos, eu e os meus irmãos, andámos sempre na Escola Alemã e vivemos muito uma realidade alemã. E só quando comecei a trabalhar é que me envolvi mesmo com pessoas estruturalmente portuguesas, falando de tradição, e fui expandindo um pouco o meu espetro de realidade.

E quais foram então as diferenças dessa bolha para aquilo a que podemos chamar, em traços gerais, de uma família tradicional portuguesa?

É difícil. Mas, por exemplo, nunca tivemos o costume de nos sentar à mesa para jantar e falarmos. Como a família não estava assim tantas vezes junta, era até mais comum sentarmo-nos no sofá a jantar e a ver um bom filme. Lembro-me que até ao quarto ano achava que todos os pais viviam fora, até ter dormido em casa de uma amiga minha e ter aparecido lá o pai (ri). São pequenas diferenças de que me fui apercebendo.

São outras referências.

Exato. Até a música portuguesa, que para mim, só veio mais tarde. O cinema português também, até. E que são coisas maravilhosas que tive todo o prazer em descobrir, mas vieram efetivamente mais tarde.

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