Do seu lado do paraíso…

A mão direita de Mordecai Brown,  estropiada na infância, levou-o ao topo do basebol e a um livro de F. Scott Fitzgerald.

Mordecai parecia ter um certo jeito para, por assim dizer, meter os pés pelas mãos. Ou melhor, meter as mãos onde elas não eram chamadas. Não passava de um fedelho, em Nyesville, Indiana, quando aproximou demais o indicador de uma máquina de desfazer maçarocas de milho e viu-o desaparecer num abrir e fechar de olhos. O indicador, claro! O médico que lhe tratou da mão direita era um bocado remendão e o trabalho ficou longe de ser agradável à vista. Mas Mordecai Peter Centennial Brown, de seu nome completo, nascido a 19 de outubro de 1876, era um fulano testudo. Adorava caçar coelhos com uma espingarda feita pelo pai e, sem indicador para puxar o gatilho, passou a experimentar com o do meio. Não se dava mal mas, ao subir a um morro atrás de um láparo, escorregou e desfez o que lhe restava da mão aleijada.

Depois deste conjunto de infelicidades ninguém imaginaria que Mordecai se pudesse vir a tornar num dos grandes jogadores da história do basebol. Novamente obrigado a reconstruir a mão direita, ficou com o polegar praticamente inutilizado e os restantes três dedos parecidos com uma garra. Mineiro de profissão, passou a fazer uma perninha no St. Louis Cardinals antes de ser contratado pelos Chicago Cubs. A força como a bola fugia da sua mão estropiada era algo de nunca visto até aí: «It didn’t only curve, it curved and dropped at the same time», descreveu um jornalista da época. Um tormento para os batedores adversários.

Three-Finger-Brown não tardou a ganhar fama. A bola parecia que fazia ziguezagues ao sair da concha dos seus três dedos. Subia rapidamente e, logo depois, caía de forma abruta. Um desespero para quem o enfrentava, um gozo danado para os adeptos, uma satisfação pessoal para Centennial, que ganhou esse estúpido nome por ter nascido no ano do centenário da independência dos Estados Unidos da América.

O defeito fez dele uma autêntica cabeça de mula. Obcecado, passava horas a fio procurando novas trajetórias para a bola, ensaiando o máximo dos movimentos que poderia retirar da mão defeituosa. Trouxe da desgraça da infância o maior proveito para a idade adulta.

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