Os polacos decidem se querem um país conservador ou liberal

Em rota de colisão com a UE, acusado de homofobia, o PiS é desafiado pelo presidente da Câmara de Varsóvia.

Os polacos tiveram de optar entre duas visões muito dispares do mundo, este domingo, numas eleições presidenciais que podem pôr em causa o domínio do partido ultra-conservador Lei e Justiça (PiS, em polaco) sobre o país. O Presidente Andrzej Duda, aliado do PiS, lutou pela reeleição, tendo como principal oponente o presidente da Câmara de Varsóvia, o liberal Rafal Trzaskowski. As sondagens mostram que Duda deverá vencer a primeira volta, mas é muito improvável que consiga os 50% dos votos de que necessita – tudo indica que, dentro de duas semanas, enfrentará Trzaskowski, numa segunda volta demasiado renhida para que haja previsões fiáveis.

Trzaskowski, candidato da Plataforma Cívica (PO, em polaco), de centro-direita, que em 2018 ganhou a Câmara da capital com o slogan “Varsóvia para todos”, compromete-se a combater a descriminação de pessoas LGBT+, pondo também fim a tentativas de interferência na justiça por parte do Governo, afastando-o do atual rumo à colisão com a União Europeia. Já Duda vê tudo isso como um ataque à família tradicional, tendo assinado uma promessa de “defender as crianças contra a ideologia LGBT”, que qualificou como sendo ainda mais “destrutiva” que o comunismo – uma referência particularmente dura na Polónia, que foi subjugada durante décadas pela União Soviética.

A retórica de Duda foi amplamente vista como um aceno à base conservadora do PiS, que tende a ser mais forte em pequenas cidades ou áreas mais rurais.  O Presidente polaco ainda conseguiu marcar uma visita de última hora a Washington, a semana passada, sendo recebido de braços abertor pelo seu homólogo norte-americano, Donald Trump. “Está a fazer um trabalho fantástico. As pessoas da Polónia acham-no o máximo”, disse Trump, ao lado de Duda, a quem prometeu mover milhares de tropas norte-americanas da Alemanha para a Polónia, sempre receosa da vizinha Rússia.

Se Duda é visto como o candidato de Trump, Trzaskowski, um conhecido eurófilo, é considerado o candidato da UE, que tem chocado como o PiS. Aliás, em resposta aos ataques do Presidente polaco à “ideologia” LGBT+, a vice-presidente da Comissão Europeia, Vera Jourova, considerou “muito triste” que um líder europeu “decida atacar minorias por potenciais ganhos políticos”.

Contudo, talvez o maior problema da campanha de Duda não tenha sido oposição europeia, mas sim a pandemia de covid-19: a eleição estava marcada para maio, numa altura em que o Presidente estava com uma enorme vantagem nas sondagens, que veio a perder desde então. A oposição fez forte pressão pelo adiamento, lembrando que estavam proibidos de fazer campanha, devido às medidas de isolamento social, enquanto o Presidente podia viajar pelo país, como parte dos seus deveres oficiais.

Importa lembrar que Duda e Trzaskowski não são os únicos candidatos nesta eleições: Há outros nove, incluindo  Szymon Holownia, o apresentador da versão polaca do programa “Got Talent”. que se identifica como católico progressista. O apresentador de televisão está em terceiro lugar nas sondagens, com 12% das intenções de voto, segundo o Politico, face às 29% de Trzaskowski e os 43% de Duda – quem quer que Holownia poderá ter uma margem decisiva na segunda volta.