TAP. Estado terá de nacionalizar “se privado não aceitar condições”

Analistas contactados pelo i admitem que nacionalizar é a melhor solução por entenderem que é menos penalizadora para o Estado.

O ministro das Infraestruturas garantiu que a TAP terá de ser nacionalizada se os privados não aceitarem as condições do Estado para um empréstimo até 1200 milhões de euros. Pedro Nuno Santos revelou ontem no Parlamento que a proposta foi chumbada na segunda-feira pelo conselho de administração e, face a esse cenário, admitiu “uma intervenção mais assertiva na empresa”.

De acordo com o governante, a proposta de contrato para o empréstimo vai ainda ser submetida ao sócio privado, a Atlantic Gateway, dos empresários David Neeleman e Humberto Pedrosa, cujos representantes se abstiveram na votação no conselho de administração.

Para Pedro Nuno Santos não há dúvidas: “TAP é demasiado importante para o país para a deixarmos cair”. A garantia foi dada pelo ministro esta terça-feira no Parlamento. E foi mais longe: Seria um desastre o país perder a TAP. Quem acha que não, não percebe patavina”.

Pedro Nuno Santos disse ainda que “não podemos ficar limitados ao resultado da TAP enquanto empresa, é um desastre de análise”, afirmou, lembrando que a companhia aérea é uma das maiores exportadoras nacionais.

“É um instrumento de riqueza nacional”, acrescentou, lembrando que a companhia tem 10 mil trabalhadores mas é responsável por muitos mais empregos, compra 1.300 milhões euros a empresas nacionais, e paga 300 milhões de euros em impostos e contribuições.

Esta garantia surge horas depois de a  TAP ter anunciado que no primeiro trimestre do ano registou prejuízos de 395 milhões de euros, relacionados com os impactos da pandemia de covid-19, justificou a companhia aérea portuguesa e lembrou que, no período homólogo de 2019 o resultado líquido negativo tinha sido de 106,6 milhões de euros.

“[O] resultado líquido negativo do trimestre de 395 milhões de euros [foi] impactado por eventos relacionados com a pandemia covid-19, nomeadamente pelo reconhecimento de `overhedge [cobertura de risco] de jet fuel` de 150,3 milhões, tendo o resultado líquido sido igualmente impactado por diferenças de câmbio líquidas negativas de 100,5 milhões”, lê-se no comunicado.

Ainda assim, a transportadora aérea admitiu que, “excluindo estes dois efeitos, o resultado líquido do primeiro trimestre de 2020 teria sido negativo em 169,9 milhões de euros”.

Analistas aplaudem nacionalização

Para André Pires, a TAP poderia ter sempre sido publica, uma vez que é a única empresa nacional de transportes aéreos. “Na presente situação, em que boa parte do capital da empresa já é nacional, a solução de nacionalizar a empresa parece-me coerente com o processo dos últimos anos, em que o estado tem vindo a salvaguardar a sustentabilidade da companhia aérea”, refere ao i, o analista da XTB.

Também para Pedro Amorim, a nacionalização é a menos penalizadora para o Estado. “Estamos neste momento a falar de uma empresa que, para além das dificuldades no passado, está num setor que nos próximos 2 anos vai estar em plena crise. Um empréstimo só iria agravar ainda mais a situação de uma empresa já altamente endividada”, diz o analista da Infinox, acrescentando que “do ponto de vista político e de acordo com as negociações PS-BE, o Bloco de Esquerda não iria deixar passar os próximos Orçamentos do Estado se a TAP não fosse nacionalizada. Foi assim desta forma que o Governo ‘comprou’ os votos do Bloco de Esquerda no Parlamento”.

E de acordo, com o responsável, não há dúvidas que a empresa é essencial para o país, “no sentido de assegurar a bons preços de mercado voos para diferentes destinos. Uma rede de transportes aéreos sem a TAP iria levar à não existência de 40% das rotas atuais e aumentos no preços devido à falta de oferta”. 

Falir não “não é uma hipótese” O Presidente da República defendeu esta terça-feira que seja adotada pelo Governo “a melhor solução possível” para que a companhia aérea continue a servir o interesse nacional e rejeitou a possibilidade de falência. “Certamente que não é uma hipótese que permita a Portugal ter uma empresa que salvaguarde o interesse português”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Já  Rui Rio não vê “necessidade” em nacionalizar a TAP. O social-democrata defende, porém, que deve ser feito uma injeção de capital na companhia aérea, acompanhado de um plano de reestruturação “credível”.