Cenário pouco animador em véspera de aperto das regras

Mais mortes, a maioria dos novos casos centrados na região de Lisboa e Vale do Tejo, surtos em dois hospitais e o Amadora-Sintra sem capacidade de internamento. 

Por Carlos Diogo Santos e Marta F. Reis

Mais 229 casos, a maioria em Lisboa e Vale do Tejo (188), oito mortes (um aumento que pode estar relacionado com o maior número de idosos infetados), 300 recuperados, o hospital Amadora-Sintra a rebentar pelas costuras e surtos nas unidades de Torres Vedras (23 infetados) e Egas Moniz (31). Este era o retrato do país, em véspera da entrada em vigor de regras mais apertadas na Área Metropolitana de Lisboa, em especial nas 19 freguesias mais afetadas (ver tabela).

No total, desde que a pandemia do novo coronavírus começou, as autoridades já registaram 42.141 casos de infeção por covid-19 e um acumulado de 1576 mortos. A estes dados somam-se os números dos recuperados, que, com os 300 registados na segunda-feira, aumentam para 27.505 casos. A situação na região de Lisboa e Vale do Tejo, que esta terça-feira representava cerca de 80% dos novos casos detetados, continuava a preocupar as autoridades. Sintra continua a ser o concelho com mais novos casos Sintra mantém-se como o concelho com mais novos casos: nos últimos sete dias registou uma média de 47 novos diagnósticos por dia. Segue-se Lisboa, com uma média diária de 38 novos casos na última semana. Os boletins da DGS mostram que o terceiro concelho com mais novos casos foi a Amadora, com uma média diária de 27 novos casos nos últimos sete dias. Loures e Odivelas registaram respetivamente uma média diária de 17 e 18 novos casos por dia na última semana.

Comparando com a semana anterior, a situação parece ter alcançado alguma estabilização na AML, onde o maior aumento de casos aconteceu em maio, mas o número de casos continua a aumentar. Por outro lado há um ligeiro aumento em Oeiras, que registou uma média de 15 novos casos por dia. Se há uma semana a região de Lisboa ultrapassou o Norte no total de casos detetados desde o início da pandemia, a diferença no risco de contágio nas últimas semanas reflete-se nos números: no espaço de sete dias, a diferença é agora de 1644 casos entre Norte e Lisboa.

A última análise do Instituto Ricardo Jorge sobre a evolução do índice de contágio mostra contudo que os peritos calculam agora que o RT seja maior até nas restantes regiões do país do que na região de Lisboa, o que foi influenciado pelos surtos das últimas semanas. De acordo com o último relatório tornado público pelo INSA, as estimativas dos peritos apontam para um aumento dos casos diagnosticados em Lisboa mas também no resto do país.

Surtos nos hospitais de Torres Vedras e Egas Moniz
Nas urgências da unidade hospitalar de Torres Vedras, em consequência de um surto entretanto detetado e que terá tido origem num idoso que estava num lar, havia registo de 23 infetados esta terça-feira – nove profissionais de saúde e os restantes utentes. O hospital aguardava, no entanto, os resultados de dezenas de testes feitos a médicos, enfermeiros e auxiliares.

No Egas Moniz, na capital, um surto já infetou 19 profissionais de saúde e 12 doentes, estes últimos estão a ser transferidos para o São Francisco Xavier.

O presidente do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, apelou esta terça-feira a que as autoridades de saúde não caiam num desleixo em relação à covid-19. “Tal como ocorreu no IPO – ainda [na segunda-feira] tivemos a notícia de cerca de uma centena de infetados – hoje [terça-feira] temos a notícia [de que há infetados] no serviço de medicina do Egas Moniz, um hospital não-covid. O ponto é sempre o mesmo: proteção dos profissionais e não baixar a guarda”, disse Roque da Cunha à RTP, lançando duras críticas à forma como se está a gerir a covid-19 em Portugal: “Os inquéritos epidemiológicos continuam atrasadíssimos, eu tenho, por exemplo, há quatro dias uma doente no centro de Saúde de Camarate que está a coabitar com uma doente imunodeprimida. Isto não pode acontecer, por isso o nosso apelo é que não façam marketing: protejam-se e intervenham”.

Amadora-Sintra sem capacidade para internamentos
A realidade no hospital Amadora-Sintra também não é animadora, com a necessidade de transferência de dezenas de doentes para outras unidades hospitalares ao longo dos últimos dias. Esta terça-feira, a unidade hospitalar recebeu a visita do bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que à saída confirmou a transferência de meia centena de doentes para hospitais como o de Abrantes e o de Santarém. O bastonário salientou ainda que os casos mais graves têm sido enviados para hospitais mais diferenciados.

“Este hospital já ultrapassou o limite, por isso é que tem transferido doentes”, sublinhou o bastonário.

Bombeiros das freguesias mais afetadas testados
Os ministérios da Administração Interna (MAI) e da Saúde (MS) decidiram fazer testes de despistagem aos elementos dos corpos de bombeiros que cobrem as 19 freguesias em situação de calamidade. A testagem será organizada, esclareceu esta terça-feira o MAI, entre a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e o Instituto Nacional de Emergência Médica.

“Pretende-se, assim, minimizar o risco de contágio entre o efetivo, salvaguardando a saúde e segurança dos bombeiros e daqueles com quem estes contactam, bem como a capacidade de resposta operacional dos corpos de bombeiros”, esclareceu a tutela, adiantando que os testes começarão a ser realizados esta semana e abrangem “todos os 944 operacionais dos quadros ativo e de comando, pertencentes a 16 corpos de Bombeiros”.

Estão abrangidas as seguintes corporações: Amadora (município da Amadora), Ajuda, Beato e Penha de França, Cabo Ruivo, Campo de Ourique, Lisboa e Lisbonenses (município de Lisboa), Camarate e Sacavém (município de Loures), Caneças, Odivelas e Pontinha (município de Odivelas), Agualva-Cacém, Algueirão-Mem Martins, Belas e Queluz (município de Sintra).