Mutualista contesta valor do Montepio e afasta aumento de capital

Virgílio Lima lembra que o acionista já avançou este aumento com injeção de 50 milhões e põe de lado a hipótese de venda.

A Associação Mutualista Montepio Geral continua a não concordar  com o valor de avaliação do banco que foi assumido pela PwC: 1500 milhões de euros, o que levou à constituição de imparidades de 377,5 milhões de euros para o banco com o mesmo nome. Para o presidente da entidade, Vírgilio Lima, o montante que está assumido é inferior ao “valor de mercado”. “Podíamos manter o valor que considerávamos mais justo, mas isso levaria a que as auditoras apresentassem uma reserva nas contas”, disse num encontro com jornalistas, um dia depois dos associados terem aprovado as contas referentes a 2019 e que apontam para prejuízos de 408 milhões de euros.

E justificou essa decisão: “Ponderamos e decidimos no interesse dos associados que é melhor assumir o valor do auditor e não insistir no que julgamos ser mais adequado”. 

Virgílio Lima disse ainda que a PWC contestou também o plano de negócios do banco, considerando que seria difícil a realização dos valores previstos no plano, e que como esse plano foi assumido e validado passou a questionar a taxa de desconto atribuída ao banco (serve para avaliar os valores futuros de um ativo). “Como não corrigimos o plano, subiu a taxa e acabou por chegar ao mesmo valor da situação líquida do banco”, afirmou.

Afasta novo aumento de capital

O presidente da Mutualista reconheceu o impacto que terá no Banco Montepio a revisão do rating por parte da Fitch – baixar o rating de risco de longo prazo de ‘B+’ para ‘B-’ face à deterioração de capital e às fracas perspetivas de negócio – mas ainda assim, afastou a necessidade de novo aumento de capital, lembrando que o acionista já injetou este ano 50 milhões de euros. 

Também afastada está a hipótese de alienar a instituição financeira, garantido que o banco só pode ser detido maioritariamente por uma entidade do terceiro setor. “Mesmo que seja numa posição minoritária, um novo acionista que entre com significativa posição naturalmente vai querer também intervenção na gestão e não apostar na proteção dos associados”, ao visar sobretudo resultados, afirmou.

Um destino diferente poderá ter o setor segurador, mas nunca seria vendido totalmente, depois desta operação ter sido em 2017. Na altura,  a Mutualista tentou vender 60% deste negócio ao grupo chinês CEFC. No entanto, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) considerou “não instruída” a entrada do grupo no capital do Montepio Seguros.

“Podemos vender parcialmente, mas não está no nosso horizonte imediato, no entanto, podem ocorrer parcerias”, garantiu Virgílio Lima. 

Estatutos aprovados mas com condições

Em relação às alterações dos estatutos que foram aprovadas no final do ano passado, foram agora aprovados, mas com condições. “Aguardamos a confirmação e o efetivo registo com este caráter provisório”, no entanto, garantiu que “não estão em causa situações maiores”. 

E, desta forma, espera que até ao final do ano possa haver a assembleia-geral de associados para concluir as alterações necessárias e eleger a Assembleia de Representantes, que é o novo órgão de supervisão da Associação Mutualista. “O importante, considerou, é que a mutualista não fique “com um vazio de órgão de supervisão, controlo e acompanhamento”, referiu o presidente da Mutualista.

Já em relação à hipótese de levar a cabo eleições para os restantes órgãos sociais ,Virgílio Lima disse que a atual equipa está ainda a meio do mandato e que estar em “contínuo esforço de eleições é um processo exigente”. E garantiu: “A ideia é completar o mandato dos restantes órgãos sociais”.