Estar na linha da frente da resposta à crise

Ao longo de muitos anos tenho-me debatido com um dilema interior: qual é a missão da Igreja Católica no meio do mundo? Quem somos nós? O que nos é pedido? Este dilema advém da minha experiência como padres, fez esta semana vinte anos. É verdade! Já passaram duas décadas e o dilema vai-se adensando, mas…

Ao longo de muitos anos tenho-me debatido com um dilema interior: qual é a missão da Igreja Católica no meio do mundo? Quem somos nós? O que nos é pedido?

Este dilema advém da minha experiência como padres, fez esta semana vinte anos. É verdade! Já passaram duas décadas e o dilema vai-se adensando, mas também clarificando a resposta.

Vejo ao longo destes anos que as paróquias estão munidas de superstruturas de caridade, auxilio às famílias, creches, centros sociais, centros de dia, lares de idosos, etc. que consomem o tempo dos padres, habitualmente presidentes destas instituições. 

A par deste panorama vejo os cristãos procurarem a vida espiritual nas igrejas, mas sem sucesso. Não horários de confissões na maior parte das igrejas. O atendimento é feito, muitas vezes, por assalariados, sem a possibilidade de aceder ao padre.

As ordens religiosas começam a trabalhar nas paróquias para atenderem às necessidades dos fiéis, fazendo as celebrações da Palavra – uma coisa também conhecida como Celebração Dominical na Ausência de Presbítero (às vezes celebradas a dois quilómetros de capelas com Eucaristia).

Fiquei muito contente ao ler que a nova presidente da Confederação dos Institutos Religiosos de Portugal – organismo que reúne as congregações de padres e freiras que estão a viver em Portugal – não querem «deixar de colaborar com a nossa sociedade, sobretudo com os que neste momento estão a padecer mais, quer por falta de emprego, quer por verem os seus rendimentos reduzidos, quer também porque precisam da nossa colaboração».

Eu não gostava de organizar a igreja em gavetas estanques, mas há algo do passado que nos deveria ajudar a perceber a sabedoria milenar que habita a nossa Igreja Católica. Há coisas que o Espírito Santo foi inspirando no passado que nos deveria obrigar a fazer um discernimento sobre a prática contemporânea.

As congregações religiosas, muitas delas, nasceram ao longo dos séculos deste desejo de louvar a Deus constantemente – mosteiros e conventos de clausura – e de servir os irmãos nas suas necessidades – os conventos de irmãos e irmãs ligados à área da saúde e da educação. 

Muitos fundadores inspiraram-se na compaixão pelos mais pobres e sentiram a necessidade de fundar uma realidade eclesial marcada pelo amor aos que padecem de grandes fragilidades sociais. 

O meu dilema vem de ver muitas paróquias andarem a fazer o trabalho que antes era assegurado pelas ordens religiosas. O exercício da caridade, que agora se tem encaminhado para a construção de centros sociais – que em nada são exercício da caridade dos cristãos – é quase exclusivamente orientados por padres corajosos que levam estes projetos para a frente.

Portugal teve este problema no século XIX e muitos outros nos séculos anteriores: a expulsão das ordens religiosas.

Expulsaram os frades e freiras que se dedicavam à caridade. Expulsaram os frades e as freiras que instruíam os ricos, mas também os pobres. 

O problema é que ultimamente temos expulso os sacerdotes também das suas paróquias, comprometendo o exercício da vida espiritual. No fundo, compromete-se o exercício para o qual eu acredito que existe a Igreja na sua realidade paroquial. 

Não excluso que haja uma organização do exercício da caridade nas paróquias, mas não acredito que o caminho futuro seja o que temos hoje. Penso que precisamos de apostar mais no atendimento, nas confissões e nas eucaristias celebradas com a unção que lhe são próprias. É necessário reerguer a vida paroquial como lugar de oração e de formação da vida cristã.