Exames nacionais. Prova de Português “atípica” que não agradou a todos

Alguns alunos dizem ter sido acessível, mas outros depararam-se com textos que não estavam à espera. Utilização de álcool-gel foi reforçada.

Com a máscara colocada sobre o rosto e de caneta na mão: foi assim que os alunos do 12.º ano iniciaram ontem uma época de exames nacionais diferente das que foram vividas em anos anteriores devido à covid-19. E começou logo com uma prova de português “atípica” que trocou as voltas a “alguns alunos”. Houve alterações no próprio enunciado – perguntas de resposta obrigatória e outras de resposta opcional, com o objetivo de diluir algum constrangimento que o ensino à distância tenha proporcionado, segundo o i apurou. Mas se houve muitos a considerar a prova acessível, outros nem tanto. Francisca Serrano, estudante de 18 anos na Escola Secundária Frei Gonçalo de Azevedo, em Cascais, admitiu, por exemplo, que foi apanhada de surpresa em algumas alíneas.

“Achei que foi um bocadinho mais difícil porque no geral não foi bem aquilo que estávamos à espera. Por exemplo, além de ter algumas perguntas opcionais – o que nos fez pensar que seria mais acessível –, as perguntas acabaram por ter um nível de dificuldade superior ao dos outros anos. Além disso, o texto final, que costuma ser uma das partes que valem mais para a nota final, era diferente de tudo aquilo que tínhamos imaginado. Saiu apreciação crítica e há dez anos que só saía texto de opinião. Colegas meus disseram-me que foi estranho e atípico”, adiantou.

Da zona da Grande Lisboa para o norte do país, também Sara Alexandra Costa, estudante de 18 anos na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Valadares, Vila Nova de Gaia, confessou ter ficado surpreendida com o que foi abordado na prova – feita na cantina da escola –, apesar de salientar, porém, que no geral considerou o exame acessível. “Ficámos espantados porque não estávamos à espera de que saísse o primeiro texto. Nunca tínhamos falado sobre ele e, por isso, ficámos um bocadinho atrapalhados. Foi um pouco atípico. O que acabou por ser bastante diferente foi o grupo 3, porque estávamos à espera de que aparecesse um tema para nós abordarmos e apareceu um cartoon, algo que não é muito comum num exame de português”, admitiu ao i.

Mas o objetivo das alterações feitas ao modelo tradicional do exame é apenas ter em conta que, durante as aulas online devido à pandemia, houve muitos alunos que não tiveram a oportunidade de aceder aos meios necessários, “nomeadamente aqueles alunos cujos pais não os deixavam ir à escola e, lá em casa, não tinham, por exemplo, um computador”, sublinhou ao i o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, garantindo que “assim ninguém ficou prejudicado”.

Máscaras e muito álcool-gel O exame de Português teve a duração de duas horas – mais meia hora de tolerância. E esse foi o tempo que os estudantes tiveram de ter a máscara sobre o rosto, além de outra meia hora a preencher os papéis necessários. Para alguns alunos, foi mesmo complicado manter a concentração durante a prova.

“A mim não fez grande diferença. No entanto, sei que há pessoas que, por não estarem habituadas e também por causa do calor, não conseguiam concentrar-se. Mas pronto, baixavam um bocadinho a máscara e colocavam outra vez. Não foi problemático”, relatou Sara Alexandra Costa, explicando ainda que as suas mãos foram desinfetadas duas vezes. “Havia muito menos pessoas por sala. As pessoas que ficaram comigo estavam na cantina, que é um cenário atípico. Mas tivemos todos os cuidados. Mesmo antes de entrarmos na cantina, voltaram a desinfetar-nos as mãos, assim como fizeram à entrada da escola. Correu tudo dentro da normalidade”, garantiu.

Em Cascais, houve também indicações no chão para garantir o distanciamento físico entre os alunos. “Havia umas setas no chão que delimitavam a distância de segurança e os professores também faziam questão de nos chamar à atenção quando não estávamos a cumprir”, referiu Francisca Serrano.

Sobre estas medidas de contenção devido à pandemia, Filinto Lima confessou mesmo que, para alguns alunos, o facto de terem de usar máscara pode ser “perturbador”. “Não digo que possa ter influência direta no resultado do exame, mas é perturbador. Mas também é um constrangimento com o qual eles viveram desde 18 de maio até 26 de junho nas salas de aula, nas escolas. Custou menos do que na primeira vez. No dia 18 de maio não foi fácil, mas adaptaram-se muito bem”, rematou.