Casos de peste negra fazem soar alarmes em Pequim

Depois de um pastor ter sido diagnosticado com peste bubónica, a China acionou um alerta de saúde de nível 3.

Soam alertas na China. Depois de ter sido detetado um possível caso de peste bubónica, também conhecida como peste negra, o país asiático emitiu, ontem, um alerta de saúde de nível 3, numa escala que vai de 1 a 4, sendo o nível 1 o mais alto e o 4 o mais baixo.

A cidade em questão é Bayannur, cidade do norte da China que faz parte da Região Autónoma da Mongólia Interior, e, segundo a Comissão Municipal de Saúde desta região, um pastor foi internado num hospital local, onde foi diagnosticado com a doença. Segundo a mesma fonte, o doente permanece isolado e em condição “estável”.

O alerta em questão irá permanecer em vigor até ao final deste ano, de forma a prevenir e controlar possíveis surtos de peste bubónica, a pandemia mais devastadora registada na história da humanidade, tendo dizimado cerca de metade da população europeia, segundo algumas estimativas.

“Presentemente, existe o risco de uma pandemia se espalhar pela cidade. O público deve ter mais atenção, melhorar as capacidades de se proteger e reportar condições de saúde anormais imediatamente”, disse a autoridade de saúde local.

Em comunicado, o executivo municipal pediu aos cidadãos que fossem mais cautelosos na prevenção do contágio entre seres humanos e exigiu que não consumissem animais que possam causar infeções pela doença.

As autoridades apelaram ainda a que sejam relatados casos de pacientes que apresentem febre alta sem motivo aparente ou que morram repentinamente.

A Comissão Municipal de Saúde também pediu aos cidadãos que informem se encontrarem marmotas ou outros animais doentes ou mortos, e lembrou que a caça de animais que podem transportar a doença está proibida.

A menção específica a marmotas está relacionada com dois casos confirmados de peste bubónica na Mongólia, na semana passada, nomeadamente, dois irmãos hospitalizados, um de 27 anos e outro de 17, com a doença, após terem comido carne de marmota.

Os irmãos encontram-se em hospitais separados e todas as pessoas que estiveram em contacto com eles, um total de 146 indivíduos, foram colocadas em isolamento ou estão neste momento a ser tratadas em hospitais locais.

Este caso surge um ano depois de um casal, em Bayan-Ulgii, província no oeste da Mongólia, ter falecido depois de ter comido carne crua de marmota.

O que é a Peste Negra? A peste bubónica é causada pela bactéria Yersinia pestis, que se encontra geralmente em populações de pulgas transportadas por mamíferos roedores terrestres, incluindo marmotas, em várias áreas, que causam as pestes bubónica e pneumónica.

A primeira pandemia, conhecida como Peste Justiniana, começou em 541 no Império Romano e durou dois séculos. A segunda, que ficou designada por Peste Negra (acredita-se que o termo “morte negra”, mors nigra, tenha sido usado pela primeira vez em 1350 por Simon de Covino ou Couvin, um astrónomo belga que escreveu o poema “Sobre o julgamento do Sol numa festa de Saturno” (“De judicio Solis in convivio Saturni”), que atribui a praga a uma conjunção de Júpiter e Saturno), veio da Ásia para Itália em 1346 e infetou a população europeia durante quatro séculos. Estima-se que, no total, esta pandemia tenha dizimado cerca de 50 milhões de pessoas (a Europa tinha então 80 milhões de habitantes). A terceira pandemia, com início em 1850, na China, espalhou-se pela Ásia e só na Índia terá feito pelo menos 20 milhões de mortos.

Apesar de não ter sido eliminada e de continuarem a surgir, esporadicamente, alguns surtos, desde a invenção dos antibióticos, no início do séc. xx, que a doença não representa o perigo de outrora.

No caso da peste bubónica, os sintomas aparecem geralmente após um período de um a sete dias e, sem tratamento com antibióticos, apresenta uma taxa de letalidade entre 30% e 60%.

Os três países mais afetados, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), são Madagáscar, República Democrática do Congo e Peru.

Os relatos de existirem casos de peste negra surgem numa altura em que a China tenta evitar o início uma segunda vaga de covid-19 em Pequim, depois de controlar os surtos em Wuhan, local onde começou a pandemia.

O número de casos em Pequim alcançou o seu auge entre os dias 13 e 14 de junho. No entanto, tem vindo a diminuir desde então e, no último sábado, foram detetados menos de dez casos na cidade.

Entre 11 de junho e 4 de julho foram confirmados em Pequim 334 casos de infeção, 47% dos quais trabalhadores do mercado de alimentos de Xinfadi, local que fornece 90% da fruta e legumes consumidos na capital chinesa.