Afinal as reuniões no Infarmed podem não acabar, mas o tema já entrou no combate político

PAN entregou projeto de resolução para retomar reuniões. Bloco quer dados no Parlamento e PCP fala em “deselegância” quanto ao fim dos encontros.

Afinal há, ou não há, mais reuniões no Infarmed com especialistas e políticos sobre o combate à pandemia da covid-19? Para Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, o modelo foi descontinuado, logo, não há. Ora, segundo o primeiro-ministro, António Costa, haverá mais à frente e até está previsto um encontro no final deste mês para apresentações de estudos. Mais, o Chefe de Governo pediu que não se dramatize a questão.

“Não vale a pena fazer drama de uma situação que não tem drama nenhum”, pediu Costa, horas depois de Marcelo ter anunciado o fim das reuniões no Infarmed. O primeiro-ministro quis dizer que haverá reuniões, sempre que se justificar e existirem novos dados, e este não é um tema que deva servir para combate político. Mas, o primeiro-ministro pode contar com a resistência de alguns partidos da oposição.

O Bloco de Esquerda, através do deputado José Soeiro, foi o primeiro, logo pela manhã a explicar na TSF que o seu partido iria entregar um requerimento para que o Parlamento tenha acesso aos dados compilados quinzenalmente pelas autoridades de saúde pública (e que eram apresentados nas reuniões). Mais, o BE quer que sejam publicitadas no site do Parlamento. “Consideramos que o tratamento da informação e caracterização são importantes e devem continuar, independentemente do formato, por isso o BE hoje apresentará um requerimento à Comissão de Saúde para que estas informações que sejam dadas e tratadas à AR”, declarou o parlamentar, sublinhando a importância de se ter uma análise “mais fina” dos dados. Em causa está também uma avaliação socioeconómica que tem sido crucial para o Bloco de Esquerda.

O Bloco fez o anúncio e o PCP apontou a deselegância de não saber atempadamente que tinha participado na última reunião com especialistas. Jerónimo de Sousa disse aos jornalistas que não encontrava nenhuma “razão objetiva” para se dar por terminada a iniciativa. A única razão possível seria “o cansaço de alguns”. Mas o secretário-geral comunista insistiu que estas reuniões podem (e devem) ser retomadas. “É mais interessante ouvir de viva voz os nossos cientistas e técnicos, que procuram dar uma contribuição com base no seu conhecimento e preocupação”, declarou Jerónimo de Sousa quando questionado se os comunistas iriam tomar alguma diligência para obter os dados apresentados nas reuniões. Para o PCP “pode ser precipitado acabar com estes encontros” e reconheceu “alguma deselegância” na forma como foi feito anúncio do fim destes encontros. Os partidos não foram avisados previamente da decisão.

Na prática foi Marcelo Rebelo de Sousa quem o fez em público aos jornalistas, articulado com o primeiro-ministro. Aliás, antes de proferir declarações públicas, o Chefe de Estado ainda trocou dois dedos de conversa com o primeiro-ministro. Lá dentro nenhum dos dois falou ou colocou perguntas.

O tema acabou por motivar alguns comentários nas redes sociais. “Rio pediu o fim das reuniões. Marcelo achou bem. Costa não se importou. Combinaram tudo e não disseram nada. Marcelo fez de porta-voz. Mas a coisa caiu mal. De imediato, Costa saltou fora. Marcelo ficou muito mal na fotografia. O país não gostou mas, na verdade, já nada importa”, escreveu Carlos Abreu Amorim, ex-deputado do PSD, no Twitter.

Por seu turno, Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, considerou ontem, a partir de Miranda do Corvo, que o fim das reuniões é “um garrote”. E voltou a defender a realização destes encontros. “Lá, temos acesso a informação fidedigna vinda de especialistas, que é despoluída do ponto de vista político, e que permite dotar quem tem responsabilidades políticas de pareceres técnicos, médicos e académicos que permitam optar pelas melhores opções de governação e de saúde pública”, afirmou Rodrigues dos Santos. Para o líder centrista “coartar a oposição destas ferramentas é contribuir também para que a democracia fique manca e que as decisões tomadas ao nível da saúde pública e da segurança dos cidadãos sejam opacas”, argumentou.

O PAN, entretanto, entregou um projeto de resolução no Parlamento (que serve de recomendação ao Governo) para que as reuniões sejam retomadas. “Não é suficiente a garantia que o Governo veio entretanto ‘anunciar’ – em jeito de ‘penso rápido’ procurando corrigir a falha em que incorreu ao dar por terminadas as reuniões sem ter havido uma discussão ou comunicação prévias -, de que o Parlamento continuará a receber os dados sobre esta matéria”, afirmou a deputada Bebiana Cunha. O PAN vai levar, assim, o seu projeto de resolução a discussão na Assembleia da República. O CHEGA, por seu turno, entregou um projeto de resolução para manter as reuniões com especialistas, pelo menos, até ao final do ano.