Lisboa dá luta e norte piora

Não há ainda sinais de diminuição sustentada de novos casos na grande Lisboa, mas projeções apontam para estabilização com o R abaixo de 1. Mantém-se mais elevado no Norte, que esta semana registou o maior aumento de casos. Governo promete dados por concelho para a próxima semana.

Lisboa dá luta e norte piora

A segunda quinzena de julho deverá manter-se com Lisboa com medidas mais apertadas do que o resto do país, mas sobretudo vai continuar a exigir ação no terreno para tentar afundar a curva de novos casos que persiste num patamar menos folgado para os hospitais da região, ainda que a maioria dos infetados sejam em jovens e um terço assintomáticos, alguns dos elementos divulgados na reunião técnica desta semana – a última para já – e a que o SOL teve acesso. O Governo remeteu a avaliação e decisões sobre a manutenção do estado de calamidade em 19 freguesias e estado de contingência na Área Metropolitana para a próxima segunda-feira, mas António Costa fez algumas intervenções onde o tom foi de prudência perante sinais de melhoria, mas mais de estabilização do que de diminuição sustentada. No briefing de ontem, a ministra da Saúde fez o ponto de situação, explicou que há melhorias em algumas freguesias mas não em todas e há alguma ‘alteração de focos’ – durante a semana não foram publicados dados por concelhos e Marta Temido garantiu que isso acontecerá na próxima semana. A ministra sublinhou a necessidade de continuar a trabalhar, em particular no terreno, perante um patamar de novos casos que se mantém elevado, disse.

 

Ministra não abdica da testagem

Na realidade, os últimos três dias com mais de 400 casos cada foram os dias sucessivos com mais casos dos últimos dois meses, mas estes são números sempre dependentes das notificações e de alguma flutuação durante a semana. A ministra da Saúde garantiu que estão a ser feitos mais de 16 mil testes diários e que vão continuar a ser feitos testes mesmo a pessoas assintomáticas. «É algo de que não pretendemos abdicar em nome da identificação de casos», disse Marta Temido, numa altura em que a política de testagem acaba por influenciar as métricas usadas na abertura de corredores turísticos e não é consensual.

Se se mantém a regra de testar o máximo, o SOL sabe que no terreno se mantêm em alguns pontos da grande Lisboa uma maior dificuldade em dar seguimento aos casos e encaminhamentos da Saúde 24, com contactos pendentes e avaliações que não são logo feitas. Quando alguém contacta com uma pessoa infetada e liga para a Saúde 24 sem sintomas relevantes, a indicação é que deve aguardar o contacto do centro de Saúde no prazo de três dias e só então é feita uma avaliação. O rastreio de contactos e inquérito epidemiológico também não é sempre feito em 24 horas após a notificação do caso, como determina um despacho publicado na semana passada.

Ainda assim, na reunião de quarta-feira foi transmitido que aumentaram os contactos em vigilância e identificação de cadeias de transmissão, o que se vê agora no facto de em Lisboa estarem identificados 106 surtos – na quarta-feira eram 102 – quando na reunião de há 15 dias eram muito menos, o que indiciava de que não estavam a ser sinalizadas com tanta celeridade cadeias de transmissão, já que não houve um aumento expressivo dos casos desde essa altura.

Analisando o total de casos reportados de sexta-feira da última semana até ontem, verifica-se um ligeiro aumento dos casos, isto já contabilizando os 200 casos referentes a um laboratório privado que esteve três dias sem enviar informação para a DGS no final da semana passada.

Se os 200 casos tivessem entrado no boletim da passada sexta-feira, 3 de julho, o que noutras alturas aconteceu com notificações atrasadas, teria sido o pior registo do desconfinamento, acima dos 500 casos.

Ontem a ministra da Saúde confirmou que os casos diziam respeito aos três dias anteriores e anunciou que os boletins seriam atualizados até ao final do dia, o que até ao fecho desta edição ainda não tinha acontecido. Comparando então semanas, de sexta-feira da semana passada até ontem, foram registados  2593 novos casos no país, número que poderá ser revisto em alta quando se souber, dos 200 casos, quantos diziam respeito a notificações que deviam ter saído no boletim da última sexta. Nos sete dias anteriores, tinham sido registados no país 2490.

 

Estabilização em Lisboa com Rt abaixo de 1

Nota-se, então, um aumento ligeiro entre semanas, mas não parece ser movido pela grande Lisboa, onde a epidemia está a dar luta mas há uma estabilização: nem melhoria nem agravamento. Na semana passada a região, que continua a concentrar a maioria dos casos, registou 2050 novos casos o que compara com 1970 esta semana, faltando aqui então os dados exatos da última sexta, mas que colocam os números em patamares semelhantes.

As projeções do INSA mantêm o índice de contágio (Rt) de Lisboa e Vale do Tejo abaixo do 1, não apontando assim para um agravamento da situação. O maior aumento de casos desta semana, em linha com o cálculo do índice de contágio do INSA, surge no Norte do país. Nos últimos sete dias foram reportados na região Norte 337 novos casos, o que compara com 223 na semana anterior, longe da situação em Lisboa mas menos calmo do que estava em maio e junho no que diz respeito à resposta à covid-19. Trata-se de um aumento de 51% nos novos casos. Também o número de surtos confirmados aumentou nos últimos dias no Norte: eram 18 na última sexta-feira, 21 na quarta-feira quando teve lugar a reunião técnica no Infarmed e 27 esta sexta-feira, revelou a ministra da Saúde. Um dos casos tornados públicos é o foco na Câmara de Paços de Ferreira, onde o presidente da Câmara revelou esta semana ser um dos infetados.

 

Norte com Rt acima de 1 desde 13 de junho

O Rt no Norte mantém-se acima de 1 desde o dia 13 de junho e, segundo o último cálculo conhecido esta semana, ainda não baixou, estando em 1,12 – ou seja, cada pessoa infetada dá em média origem a mais de um caso. Na grande Lisboa, no início de maio, o RT chegou a este patamar, na altura partindo-se de um patamar mais elevado de casos diários quando começou o desconfinamento, e voltou a ser inferior a 1 a partir de 6 de junho, situando-se agora na casa dos 0,9.

Esta semana não foram divulgadas as faixas etárias dos novos casos, mas o SOL sabe que o aumento dos contágios entre idosos foi um dos alertas deixados pelos peritos na última reunião no Infarmed, referindo o aumento da incidência nos últimos 14 dias neste grupo etário.

A tendência ter-se-á mantido nos últimos dias. No último relatório semanal do Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças, publicado no passado fim de semana, foi referida uma tendência crescente na mortalidade em Portugal comparado com os 14 dias anteriores, o que já poderá refletir o aumento dos casos entre idosos nas últimas semanas. Foi o único país com esta nota.

Mantendo-se a atual trajetória, com os novos casos entre os 350 e 400 por dia, Portugal deverá aproximar-se na próxima semana dos 50 mil casos de covid-19. Mais de 30 mil pessoas já recuperaram da a doença e registam-se 1646 mortes.