Covid-19. Lisboa mantém-se a frente ativa mas Algarve e outono preocupam

Conselho de Ministros extraordinário decide esta terça-feira medidas para a próxima quinzena.

Lisboa continua a concentrar a maioria dos novos casos de covid-19 no país e o fim de semana, em que geralmente são reportados menos diagnósticos, mostrou que o foco persiste, ainda que com alguma melhoria. No sábado, a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou os boletins com os 200 casos que tinham sido reportados a 3 de julho por um laboratório privado e que, na altura, não foram contabilizados por serem referentes a mais de um dia. Feita a distribuição e contabilizados os casos divulgados no sábado e no domingo, Portugal passa agora a barreira dos 46 500 casos e poderá até ao final da semana chegar perto dos 50 mil, isto mantendo-se o patamar de 300 a 400 novos casos por dia, as projeções que têm sido feitas pelos peritos que dão apoio ao Governo.

Em Lisboa parece, no entanto, haver uma estabilização e na última semana houve mesmo uma ligeira diminuição do total de novos casos face à semana anterior. Tendo em conta a informação corrigida nos boletins da DGS, na semana passada, de sexta-feira a sexta-feira, foram notificados 1970 novos casos em Lisboa, o que compara com 2050 no período de sete dias anterior. A diminuição não será uniforme em todos os concelhos e o Governo garantiu na semana passada que a informação a nível concelhio tornará a ser divulgada no início desta semana. Já as decisões sobre medidas para a próxima quinzena de julho, já que as atuais vigoram até à meia-noite de terça-feira, foram remetidas para um Conselho de Ministros extraordinário que terá lugar nesse mesmo dia, para as medidas entrarem então em vigor no dia seguinte.

O primeiro-ministro já admitiu que em princípio não haverá alterações na diferenciação de medidas na Grande Lisboa, não se antevendo, no entanto, a elevação do estado de alerta que vigora no resto do país. As medidas poderão, porém, ser ajustadas e a lista de freguesias com medidas mais duras poderá ser revista. Nas últimas semanas tem também havido um aumento dos casos reportados na região Norte, mas num patamar bastante abaixo dos cerca de 300 casos diários que se têm registado em Lisboa. Ainda assim, na última semana, de sexta a sexta, os casos na região Norte aumentaram 50%, de 223 para 337. Nos boletins divulgados no fim de semana manteve-se essa trajetória na região Norte, com 67 novos casos reportados no sábado e 44 no domingo.

Ecdc confirma estabilização

No relatório semanal divulgado este fim de semana pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC na sigla inglesa), Portugal não está entre os países onde é destacada uma tendência de aumento da notificação de novos casos, onde entram Áustria, Bulgária, Croácia, Islândia, Luxemburgo e Roménia, surgindo o país mais num quadro de estabilização. Ainda assim, o relatório assinala mais uma vez que nos últimos 14 dias houve um aumento na notificação de óbitos por covid-19 em Portugal, o que se verificou também na Roménia. Portugal registou até este domingo 1638 mortes associadas à infeção por SARS-CoV-2.

O aumento dos contágios entre idosos nas últimas semanas motivou o alerta dos peritos na última reunião técnica no Infarmed. Durante o fim de semana, a DGS atualizou também os quadros com a informação sobre as idades dos doentes infetados e verifica-se que na última semana houve uma diminuição dos idosos com mais de 80 anos infetados, depois de duas semanas consecutivas com mais de 200 casos semanais nesta faixa etária. Contabilizaram-se 151 novos casos neste grupo etário, mas houve um aumento nos casos em idosos com mais de 70 anos.No final da semana passada, a ministra da Saúde garantiu que está a ser acompanhada a situação dos lares, revelando que 628 das vítimas mortais de covid-19 eram residentes nestas instituições, o que corresponde a 38% das mortes. Alguns especialistas têm defendido a necessidade de reforçar medidas.

Na semana passada, em declarações ao i, o virologista Pedro Simas considerou que os lares deverão ser dos principais focos de intervenção, lembrando que, até à data, 40% a 60% das vítimas mortais da epidemia na Europa eram residentes em lares. Em entrevista ao SOL, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes defendeu também a necessidade de maior controlo do acesso a lares, defendendo testagem regular de colaboradores e também das visitas. O investigador, que tem sido um dos peritos consultados pelo Ministério da Saúde, sublinha também que, sempre que possível, as visitas devem ocorrer no exterior.

Numa altura em que Lisboa se mantém a principal frente ativa, o Algarve e o outono são as principais preocupações apontadas por Manuel Carmo Gomes, que alerta para o risco de festas e convívios em época estival, nomeadamente em fenómenos de supertransmissão por aerossóis que podem ocorrer em espaços fechados. Em relação ao outono, a preocupação prende-se com o regresso às aulas e aos escritórios, o que trará mais pessoas em espaços fechados. Sem projeções concretas, o especialista defendeu ao SOL a necessidade de um reforço efetivo das equipas de saúde pública. “Acho que vai depender muito delas se vamos ter segunda onda, se não vamos, se vamos conseguir controlar os surtos que é inevitável que vão aparecer. Tudo depende de quem vai ao terreno, da rapidez com que vai e com que atua, como faz os inquéritos, identifica os contactos, isola as pessoas”, afirmou o perito ao SOL.