“Não existem atalhos” para sair da pandemia, alerta diretor-geral da OMS

Tedros Adhanom Ghebreyesus mostrou-se esta segunda-feira preocupado com o aumento de casos de covid-19 e endureceu a mensagem: “Se o básico não for seguido, só há uma maneira de esta pandemia evoluir: vai ficar pior e pior e pior.”

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde endureceu esta segunda-feira o alerta sobre o aumento de casos de covid-19, muito empurrado pelos recordes no Brasil e EUA. Sem nomear países mas no que pareceu uma clara mensagem em particular a estes dois países, Tedros Adhanom Ghebreyesus iniciou a sua intervenção habitual no briefing da OMS sobre a pandemia com distinção de quatro tipo de situações: os países que evitaram grandes surtos, os países que tiveram esses surtos mas conseguiram controlá-los – categoria onde disse que encaixam a maioria dos países europeus – os países que ultrapassaram o pico de casos, levantaram restrições e estão agora a registar uma aceleração dos novos casos e, por fim, os países que estão na fase mais intensa de transmissão das suas epidemias, como é o caso de países nas Américas, Sul da Ásia e África, referiu. 

Depois de lembrar que o continente americano permanece o epicentro da epidemia, com mais de 50% dos casos registados em todo o mundo, Tedros Adhanom Ghebreyesus defendeu que os primeiros dois grupos de países mostram que nunca é tarde para controlar o vírus, mesmo quando existe transmissão explosiva.

"Deixem-me ser franco, muitos países estão a ir na direção errada", alertou. "O vírus continua a ser o inimigo público número um mas as ações de muitos governos e pessoas não refletem isso. O único objetivo do vírus é encontrar pessoas para infectar. Mensagens confusas dos líderes estão a minar o ingrediente mais crítico de qualquer resposta: a confiança. Se os governos não  comunicarem de forma clara com seus cidadãos e adotarem uma estratégia abrangente focada em suprimir a transmissão e salvar vidas; Se as populações não seguirem os princípios básicos de saúde pública de distanciamento físico, lavagem das mãos, uso de máscaras, etiqueta na tosse e permanência em casa quando estão doentes; Se o básico não for seguido, há apenas uma maneira de esta pandemia evoluir: vai ficar pior e pior e pior."

Tedros Adhanom Ghebreyesus insistiu que não se trata de uma fatalidade. "Cada líder, cada Governo e cada pessoa podem fazer a sua parte para romper as cadeias de transmissão e acabar com o sofrimento coletivo. Não estou a dizer que é fácil, claramente não é. Sei que muitos líderes estão a trabalhar em circunstâncias difíceis. Sei que existem outros desafios de saúde, económicos, sociais e culturais a serem considerados", disse, sublinhando no entanto que "não existem atalhos" para sair da pandemia. "Todos esperamos que haja uma vacina eficaz, mas precisamos nos concentrar no uso das ferramentas que temos agora para suprimir a transmissão e salvar vidas. Precisamos chegar a uma situação sustentável em que tenhamos controle adequado desse vírus, sem parar totalmente as nossas vidas, nem nos movermos de lockdown em lockdown; o que tem um impacto extremamente prejudicial sobre as sociedades", afirmou ainda, deixando um último alerta: "não vai haver regresso ao velho normal no futuro próximo".