TAP: um case study a curto prazo?

Falta convencer, um que seja, a vir para uma TAP muito endividada e com este enquadramento político, ansioso por influenciar a gestão…

Uma das coisas boas que esta pandemia me tem proporcionado é a de assistir a diversos Webminars, seja sobre temas na área a que atualmente mais me dedico, Corporate Govenance, ou outros, de cariz económico e social. Assim, vou ouvindo com quem posso aprender, sempre com a preocupação de me inteirar de como se vai perspetivando o futuro, nas empresas e na sociedade.

Pensando nisto e nos benefícios de ouvir terceiros melhor informados, fiquei siderado quando soube que as reuniões do Infarmed iam terminar. Aquilo que eu acreditava ser uma ferramenta de coordenação entre as autoridades da Saúde e os políticos, afinal não tinha utilidade decisória. Ou teria sido pela altercação recentemente ocorrida entre Costa e Temido ter transparecido cá para fora? Mas a utilidade não se sobrepõe à lamentável falta de sentido de Estado de quem ousou contar o que deveria ter permanecido intramuros?

Felizmente que Costa, reconhecendo a sua utilidade, já veio garantir que as reuniões iriam continuar embora não marcasse data para ocorrer. As autoridades de Saúde devem manter canais abertos com o Governo para o ajudar no controlo da pandemia. Estão ‘no campo’, conhecem a realidade e nestes momentos, em que muitos dos países europeus baseados em dados objetivos nos cortam a vinda de turistas a Portugal, seria tremendo ‘tiro no pé’ cortar estas ligações de obtenção de informação.

Claro que Rui Rio ajudou à festa, referindo a «pouca utilidade das mesmas». Mas também quem quer evitar que o primeiro-ministro se desloque quinzenalmente ao Parlamento para a democracia se exercer entre Governo e oposição, referindo que o desígnio principal é trabalhar e não ser questionado durante horas, já pouco nos pode surpreender.

Até pode estar a pensar, por antecipação, que se um dia estiver nesse lugar seria ótimo eximir-se a essa ‘chatice’ de quinzenalmente ser questionado sobre a sua governação. Assim, o melhor é matar e já esta questão. Mas esquece que com posições destas subalterniza o PSD face ao PS de Costa e os seus militantes, convencidos que a decidir assim só lá chegará no Dia de São Nunca, tarde ou cedo lhe apresentarão a fatura.

Pedro Nuno Santos (PNS), entretanto, embalado pela nacionalização parcial da TAP, veio afirmar-se como o paladino da ‘geringonça’ em entrevista à televisão. As suas declarações como convicto esquerdista que prefere candidatos presidenciais do PCP ou Bloco a Marcelo, caso o seu PS não apoie qualquer candidato, são clarificadoras da sua posição de princípio e retiraram impacto na entrevista ao tema da TAP.

Foi pena. A TAP vai ser a curto prazo um ‘case study’ dada a falta de capitais próprios que sempre teve desde há décadas, a forte concorrência das ‘low-cost” e um investimento ruinoso no Brasil (um prejuízo superior a 500 milhões de euros). Adicionalmente, o papel de ligação às comunidades e cobertura do próprio território nacional são fatores condicionantes de qualquer estratégia.

Assim, o anterior acionista de referência optou por investir fortemente na renovação da frota (com base em capitais alheios) e em novas rotas como os Estados Unidos até como fator de diversificação de risco e onde acreditava que a TAP poderia ter uma vantagem competitiva decorrente da localização geográfica do seu ‘hub’. A pandemia veio travar esta estratégia à qual faltou tempo para se demonstrar da sua razão.

Curiosamente, PNS com a sua visão esquerdista reconhece, como qualquer liberal, que há que iniciar reestruturações na TAP além de ter de ir procurar nos mercados internacionais um gestor qualificado mesmo que tenha de abrir e bem ‘os cordões à bolsa’. Excelente política de nomear quem sabe, embora a nível internacional haja poucos que conhecem o mercado e os que há são muito bem pagos. Falta convencer, um que seja, a vir para uma TAP muito endividada e com este enquadramento político, ansioso por influenciar a gestão.

 

P.S. 1 – O irlandês Paschal Donohoe ganhou a Presidência do Eurogrupo o que significa a derrota de Costa, Centeno e todos aqueles que apoiavam a candidata espanhola (Nadia Caviño) como a França e Alemanha ao cargo de presidente do Eurogrupo; dada a vitória dos países ‘frugais’ isto pode significar que o futuro a curto prazo para Portugal se pode complicar no que diz respeito aos subsídios a receber e sua distribuição.